Filme do Dia: O Mistério de Oberwald (1980), Michelangelo Antonioni

O Mistério de Oberwald (Il Mistero de Oberwald, Itália/Alemanha, 1980). Direção: Michelangelo Antonioni. Rot. Adaptado: Michelangelo Antonioni & Tonino Guerra, baseado na peça L'Aigle a Deux Tetes, de Jean Cocteau. Fotografia: Luciano Tovoli. Música: Guido Turchi. Montagem: Michelangelo Antonioni & Francesco Grandoni. Figurinos: Vittoria Guaita. Com: Monica Vitti, Franco Branciaroli, Paolo Bonacelli, Elisabetta Pozzi, Luigi Diberti, Amad Saha Alan.
A Rainha (Vitti) de um país não identificado da Europa, afastada da vida pública desde o assassinato do Rei, volta a manifestar interesse pelo poder com a chegada de Sebastian (Branciaroli) a uma de suas residências, Oberwald. Enviado para assassina-la, Sebastian, poeta anarquista que possui grande semelhança física com o falecido marido, desmaia quando a encontra. Apaixonada e influenciada por Sebastian, a Rainha decide transferir Edith de Berg (Pozzi) para os serviços da Arquiduquesa, sua rival, ao mesmo tempo que ordena que o fiel Felix Willenstein (Diberti), prenda o chefe de polícia, Conde de Foehn (Bonacelli), principal aliado da Arquiduquesa. Foehn encontra-se a sós com Sebastian e procura convence-lo da indispensável aliança com a Arquiduquesa, porém, Sebastian nega o acordo e resolve tomar veneno. A Rainha, desgostosa com a notícia, o destrata como covarde e consegue finalmente fazer com que ele a mate, antes de também tombar morto.
Essa adaptação de uma peça de Cocteau para às telas procura ser a mais austera possível, inclusive fazendo pouquíssimo uso da trilha musical, porém torna-se dissonante dentro do corpo da obra de Antonioni, ao diluir muitos dos temas trabalhados de forma mais densa em produções anteriores. Mesmo sua austeridade choca-se com o tema do amour fou entre a Rainha e Sebastian que culmina no melodramático final. Penúltimo filme de Antonioni antes de um recesso de longos anos, é mais lembrado por sua experimentações pioneiras com o formato vídeo, assim como efeitos de fotografia que apresentam colorações distintas para os sentimentos que acompanham determinados personagens que propriamente pelo resultado final, grandemente anacrônico. Embora uma dimensão política subliminar pareça, pelo menos em alguns momentos, se insinuar na narrativa, acaba sendo obscurecida pelo tom geral do filme, incerto entre a gravidade e um aparente ironia dessa mesma gravidade. Branciaroli, o ator que vive Sebastian, não só parece inverossímil e aquém do restante do elenco, como muito mais próximo do modelo de elegância masculina contemporânea à produção, que dos idos do século XX, período que se situa a diegese narrativa. Polytel International/RAI. 129 minutos.


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