Filme do Dia: Tsuruhachi Tsurujirô (1938), Mikio Naruse

Tsuruhachi Tsurujirô (Japão, 1938). Direção: Mikio Naruse. Rot. Adaptado: Mikio Naruse, a partir do romance Matsutarô Kawaguchi. Fotografia: Takeo Itô. Música: Nobuo Lida. Montagem: Kôichi Iwashita. Dir. de arte: Kazuo Kubo. Com: Kazuo Hasegawa, Isuzu Yamada, Kamatari Fujiwara, Heihachirô Ôkawa, Masao Mishima, Unpei Yokoyama, Kenho Nakamura, Kan Yanagiya.
        Tsuruhachi (Hasegawa) forma uma dupla de sucesso com Tsurujirô (Yamada). Ele cantando e ela o acompanhando com seu tradicional instrumento de corda. Conhecidos desde a tenra infância, quando Tsuruhachi confessa sua paixão a Tsurujirô essa, que havia se comprometido em casar com o rico Matsuzaki (Ôkawa), volta atrás e aceita o seu pedido. Os dois fazem planos. Um deles, de interesse imediato de Tsuruhachi, é o de comprar um teatro. Quando esse fica sabendo que Tsurujirô conseguiu um empréstimo junto a Matsuzaki, cancela o casamento. Pouco depois, fica sabendo que Tsurujirô se casou de fato com Matsuzaki, o que apenas confirma suas suspeitas de que ambos já mantinham relações íntimas. Enquanto em seu novo papel como esposa, Tsurujirô abandona a vida artística, Tsuruhachi entra em rápido declínio artístico em sua carreira solo, tornando-se alcóolatra. O empresário da dupla, Sahei (Fujiwara) consegue reuni-los novamente após dois anos e o sucesso é fenomenal, recebendo o convite para se apresentarem no Teatro Imperial, honraria maior permitida a um artista japonês. Tsuruhachi, no entanto, volta a implicar com a qualidade artística de Tsurujirô, que estava disposta a pedir o divórcio de Matsuzaki para seguir com a carreira artística e que lhe confirma que não casou com ele por amor. Indignada com o tratamento que recebe, Tsurujirô afirma que nunca mais voltará a tocar com ele, como da primeira vez que a dupla se desfez. Tsuruhachi confessa a Sahei posteriormente que fizera a intriga propositalmente, pois sabia que assim ela retornaria a segurança do marido, enquanto a vida errante de artistas não os levaria longe por muito tempo.
       Admirável não apenas no modo como estrutura sua narrativa mas como igualmente apresenta um exemplo muito pouco comum de auto-sacrifício masculino em relação a figura da mulher, sobretudo no cinema japonês, marcado por uma cultura fortemente misógino, o que não exclui em vários casos filmes do próprio Naruse (inclusive no mais popular de todos, O Amor não Morreu). Assim como apresenta uma figura feminina longe de somente passiva. Se inicialmente a dúvida paira sobre a vinculação ou não de Tsurujirô a Matsuzaki, já que se observa os comentários da mesma apenas pela perspectiva de Tsuruhachi, depois se fica compreendendo que se não houve traição, tampouco deixou de existir um pragmatismo maior da parte da figura feminina que da masculina, mas uma vez em sentido oposto ao habitual. Quando fica consciente da impossibilidade de fato de se casar com seu amado, Tsurujirô imediatamente evoca o nome de Matsuzaki. Toho Co. 88 minutos. 

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