The Film Handbook#17: Bertrand Blier

Bertrand Blier
Nascimento: 11/03/1939, Boulogne-Billancourt, Hauts-de-Seine, França
Carreira (como diretor): 1962-

Dos diretores franceses que conquistaram destaque durante os anos 70, Bertrand Blier é um dos mais notáveis, seu humor negro e robusto, satírico das ansiedades sexuais o pondo em direta, e frequentemente bem sucedida, oposição ao filme de arte convencional.

Filho do veterano ator Betrand Blier, iniciou sua carreira no cinema como assistente dos diretores John Berry, Jean Delannoy e Christian-Jaque. Após diversos documentários de cinéma vérite ele avançou com a realização de sua estreia no longa-metragem, Hitler?Connais Pas!, em 1962. Porém seu primeiro grande sucesso foi com Corações Loucos/Les Valeuses>1, um road-movie cru e deliberadamente ofensivo sobre um casal de pequenos criminosos. Em seus esforços brutalmente determinados, mas pateticamente impotentes, de satisfazer os desejos sexuais de diversas mulheres, os então desconhecidos atores Gérard Depardieu e Patrick Dewaere tipificam os futuros anti-heróis de Blier: grosseiros egoístas, patologicamente incapazes de compreender o sexo oposto, frequentemente expressando sua confusão através de violência anárquica.

Menos determinadamente escandaloso, o ganhador do Oscar Preparem Seus Lenços/Preparez Vos Mouchoirs, oferecia uma astuta resposta ao melodrama no estilo Kramer x Kramer: preocupado com a constante depressão de sua esposa, Depardieu convida Dewaere (um completo estranho) a tentar animá-la com a paternidade de uma criança, mas ela possui outras ideias, preferindo um amante colegial. Ainda mais sombrio foi o melhor filme de Blier, Coquetel de Assassinos/Buffet Froid>2, no qual um psicótico (Depardieu), um assassino serial e um envelhecido e sádico inspetor de polícia (o pai de Blier) são vinculados por seus impulsos confusos e indiferentes ao assassinato; ou seria por seus sonhos de assassinato? Estruturado de acordo com a lógica de um pesadelo mas filmado em tons vívidos, sugestivos da realidade cotidiana, é tanto uma farsa engenhosa e surreal quanto uma bizarra e um tanto indireta análise da alienação urbana contemporânea.

Após revisitar Lolita de forma cativante, e mesmo tocante, em A Filha de Minha Mulher/Beau-Pére, Blier descambou para demonstrações mais seguras e menos misantrópicas de obsessão masculina tanto em A Mulher do Meu Amigo/La Femme de Mon Pot e Quartos Separados/Notre Histoire. O próximo, entretanto, Meu Marido de Batom/Tenue de Soirée>3, foi  claramente planejado para ofender a todos. Aqui, um ladrão (Depardieu outra vez) educa um casal falido em processo de separação, enquanto se apaixona pelo marido recatado, tímido e aparentemente heterossexual. Criticado por alguns como misógino e homofóbico, o vigor implacável e ardente foi, não obstante, inegável.

Se a anarquia surreal de Blier possui algum "sentido", esse pode ser que os maus tratos às mulheres perpetrados pelos homens se originem do temor da impotência. Isso dito, torna-se ocasionalmente difícil, sondar se a misoginia observada é de fato de Blier ou de seus personagens. Seja como for, os efeitos de seus humor negro oferecem uma alternativa intrigante às presunções brandas dos filmes de "amigos" convencionais, ainda que continuamente solapando nosso desejo por personagens e histórias facilmente explicáveis.

Genealogia
A descrição de obsessões cruéis e absurdas por Blier em um estilo visual fundamentalmente realista é ocasionalmente reminiscente do último Buñuel; também se pode compará-lo com Pedro Almodóvar, Paul Bartel, John Waters e Paul Morrisey.

Destaques
1. Corações Loucos, França, 1973 c/Gérard Depardieu, Patrick Dewaere, Miou-Miou

2. Coquetel de Assassinos, França, 1979 c/Gérard Depardieu, Jean Carmet, Bernard Blier

3. Meu Marido de Batom, França, 1986 c/Gérard Depardieu, Michel Blanc, Miou-Miou

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 27-8.

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