Filme do Dia: Pedro Páramo (1967), Carlos Velo

Pedro Páramo (México, 1967). Direção: Carlos Velo. Rot. Adaptado: Manuel Barbachano Ponce, Carlos Fuentes & Carlos Velo, a partir do romance de Juan Rulfo. Fotografia: Gabriel Figueroa. Música: Joaquin Gutierrez Heras. Montagem: Gloria Schoeman. Dir. de arte: Manuel Fontanals. Cenografia: Julio Alejandro. Com: John Gavin, Ignacio López Tarso, Pilar Pellicer, Julissa, Graciela Doring, Carlos Fernández, Augusto Benedico, Beatriz Sheridan, Claudia Millán.
Idos do século XX. Juan Preciado (Fernández), após a morte da mãe, vai atrás do pai que nunca conheceu  e descobre se chamar, como ele Pedro Páramo (Gavin), praticante das maiores violências contra a população local, sempre que seus interesses estavam em jogo, sendo secundado por seu fiel capataz Fulgor Sedano (Tarso). Aos poucos Juan se encontrará com a louca Dolores Preciado (Millán), assim como Susana San Juan (Pellicer), amiga de infância, que partiu com o pai e é constantemente vítima de seus abusos sexuais. E é justamente com esses fantasmas do passado que o atormentado Pedro terá que lidar, morrendo sem conseguir conhecer o pai. Sedano é morto pelos revolucionários, em mais uma de suas habituais ações de intimidação de moradores da região, e quando se espera que o reinado de Páramo também siga o mesmo curso, ele faz um acordo com os revolucionários em troca de uma grande soma em dinheiro. Sem poder mais manter sua criadagem, ele permanece solitário, até ser morto por um de seus filhos.
Sua vinculação ao cinema moderno, demonstrada na relativa falta de demonstração de apresentar uma narrativa fluente, ao mesmo tempo que apresenta igualmente uma falta de concessão aos imperativos de um cinema narrativo mais convencional, também tem seu preço a pagar, que é o de seu excessivo simbolismo. Apesar da argúcia com que junta seu comentário crítico sobre as relações de poder na sociedade mexicana, no campo do poder econômico, mas igualmente nas relações íntimas, com muitos dos temas que o próprio cinema mexicano clássico havia se detido,  o filme corre o risco, em determinados momentos, de se aproximar das adaptações pretensiosas do início do cinema, na qual somente os espectadores que já conheciam previamente a narrativa podiam compreendê-la de fato. Algo que, no entanto, torna-se suavizado com a narrativa em andamento, de forma retrospectiva. Destaque para a inspirada interpretação de López Tarso. O belo Gavin, lançado para competir com Rock Hudson, teve seu auge em Hollywood alguns anos antes (Imitação da Vida, Amar e Morrer,Psicose, Spartacus). Ainda que irregular, com alguns momentos não propriamente dignos de suas pretensões, como a cena final, o filme foi realizado por um realizador longe de apresentar uma carreira menos errática que a de personagem principal, dedicando-se pouco depois ao cinema documental, e também consta de seu currículo filmes de apelo erótico sensacionalista (como é  o caso de Don Juan 67, produzido no mesmo ano que esse). A novela de Rulfo, pioneira no que viria a ser conhecido como realismo fantástico,  pela quantidade de personagens e mescla passado e presente, por si só já não é um exemplo de facilidade narrativa. Transposta para o universo do cinema, essa situação se agrava, ainda que essa seja provavelmente a mais bem conseguida de suas adaptações, tendo sido as outras produzidas em 1978 e 1981 respectivamente. Clasa Films Mundiales/Producciones Barbachano Ponce. 110 minutos.


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