Filme do Dia: O Fora-da-Lei e Sua Mulher (1918), Victor Sjöstrom
O
Fora-da-Lei e sua Mulher (Berg-Ejvind och
hans Hustru, Suécia, 1918). Direção: Victor Sjöström. Rot. Adaptado: Victor Sjoström & Sam Ask,
baseado na peça de Jóhann Sigurjónsson. Fotografia: Julius Jaenzon. Dir. de
arte: Axel Esbensen. Com: Victor Sjöström, Edith Erastoff, John Eckman, Jenny
Tschernichin-Larsson, Arthur Rolén, Nils Ahrén, William Larsson.
Islândia, meados do século XVIII. Evjind (Sjöström) é uma
ladrão de ovelhas que, flagrado por um pastor, Arnes (Eckman), é encaminhando para
conseguir emprego junto a fazendeira viúva Halla (Erastoff), cujo pretendente,
Bjorn (Ahren), era o proprietário das ovelhas que Evjind havia tentado roubar
e, ao saber do fato, tenta desmascará-lo diante da esposa, no dia da celebração
da união de ambos. Evijind admite tudo a Halla e a convida a partir junto com
ele para uma difícil vida de clandestinidade nas montanhas. Lá vivem felizes e
sozinhos, com a filha, durante 5 anos, até o surgimento inesperado de Arnes,
que passa a viver com eles. Arnes passa a se sentir atraído por Halla e decide
partir, testemunhando a chegada dos homens de Bjorn para aprisionar o casal.
Halla, desesperada, joga a filha do despenhadeiro e consegue fugir com Evjind
para uma vida de verdadeira privação e
fome.
Sjöström torna a paisagem sua verdadeira aliada nesse
tocante melodrama cujos flashbacks
assomam em meio a narrativa por vezes sem qualquer explicitação prévia, como
era comum antes da instituição da narrativa cinematográfica tipicamente
clássica, sendo que alguns já haviam sido observados antes no corpo do filme e
outros surgem apenas no momento de sua evocação, ou pelo menos assim parece
nessa versão mais reduzida. Emoldurando as alegrias e vicissitudes do casal em
meio a uma monumental paisagem de montanhas, o filme não apenas intensifica as
relações entre o casal, extremamente dependente um do outro para levar adiante
a sua condição de subsistência como estende tal cumplicidade para o próprio
espectador. Alguns espaços recortados, como o de um despenhadeiro extremamente
íngreme pode ser palco tanto para uma brincadeira do pai com a filha, ao fazer
rolar uma pedra quanto, tempos depois, para o trágico destino da própria filha.
É evidente, quando Arnes ressurge e Evjind o convida para morar com eles, que
nascerá uma tensão com todos os indícios de uma triangulação amorosa, só que se
torna bem menos evidente o modo como a narrativa, quase em forma de
anti-clímax, desconstruíra tal tensão antes que chegue as vias de fato.
Tampouco não se espera outro final do que o trágico, mesmo que aqui ele se dê
de uma forma um tanto quanto abrupta – talvez por se tratar da versão
americana, quando a original possuía uma metragem 30 minutos maior. O narrador, enquanto dublê da peça,
mais certamente preocupado com os códigos morais, mesmo tornando simpáticos os personagens
desde o início, não deixa de ressaltar ao final, à guisa de justificativa, que
somente foram absolvidos pelo sofrimento e subseqüente morte. Destaque para a extraordinária rapidez com
que opera seus planos/contraplanos, por vezes de não mais que frações de
segundos. Há uma certa aura fatalista, como se o passado dos personagens
acabasse traduzindo uma certa essência de seu ser que, mesmo se corporificando
numa mudança de postura, como a do protagonista, os levaria a retornar as
mesmas condições de antes, como é o caso da figura de Arnes, que volta a vagar
solitário, mesmo após ter se inserido junto à comunidade. Sjöström, uma década
após, revistaria o tema do amor sacrificial em meio a um cenário natural
adverso de modo mais sofisticado em seu Vento
e Areia. Curiosamente Erastoff se encontrava grávida do realizador à época
dessa produção, com quem vivia uma relação extra-conjugal que somente seria
oficializada 5 anos após. Svenska Biografteatern. 72 minutos.
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