Filme do Dia: Sympathy for the Devil (1968), Jean-Luc Godard

Sympathy for the Devil (Reino Unido, 1968). Direção: Jean-Luc Godard. Fotografia: Colin Corby & Anthony B. Richmond. Montagem: Agnés  Guillemot & Kenneth F. Rowles. Com: The Rolling Stones, Anne Wiazemski, Marianne Faithfull, Anita Pallenberg, Iain Quarrin, Clifton Jones, Danny Daniels, Frankie Dymon.
No auge de sua fase “desconstrucionista” e politizada do final da década de 60 e início da seguinte, Godard realizou esse pseudo-documentário com os Rolling Stones. Longe de qualquer outra referência cinematográfica usual a uma banda de rock, nem se acompanha uma turnê (como o pioneiro Don´t Look Now, de Pennebaker) nem propriamente aos bastidores da gravação de um álbum, tal como Let it Be (1970), dos Beatles (que, aliás, foram contactados por Godard e rejeitaram o projeto). Trata-se antes de um ensaio reflexivo sobre o momento político contemporâneo em que flagrantes da gravação e criação de uma única canção dos Stones – a canção-título – são entremeados seja com o discurso de ativistas dos Panteras Negras, seja com a leitura de Mein Kempf de Hitler em uma livraria pornográfica ou com Eva Democracy/Anne Wiazemski, atriz-símbolo do cinema autoral do momento, respondendo monossilabicamente a uma entrevista. Cansativo, ainda que não há como negar o senso poético do conjunto, com destaque para o virtuoso trabalho de câmera que desliza pelo estúdio em que os Stones ensaiam ou pelo bosque em que Wiazemski realiza sua entrevista. Uma voz off (do próprio Godard?), desfia em ritmo atonal uma série de frases envolvendo artistas e políticos célebres, alguns deles descritos em pleno ato sexual, como Brejnev, então líder da URSS, numa apropriação de eventos e figuras célebres semelhante a da canção ensaiada insistentemente pelos Stones. Rompe-se, de qualquer maneira, com a apropriação mítica dos ídolos pop de então, no sentido de que eles se tornam apenas mais um elemento para os intuitos do realizador e nenhum momento chegam a ter voz para além dos ensaios musicais. Dividido em segmentos com títulos pintados improvisadamente, o filme compartilha de uma estética semelhante aos que Godard realiza contemporânea e posteriormente com o Grupo Dziga Vertov. Versão remontada pelo produtor à revelia de Godard do original One Plus One, que continha mais cenas com os membros dos Panteras Negras, não incluía a versão final da música e possuía metragem mais longa. Cupid Productions. 96 minutos.


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