Filme do Dia: Os Artistas no Centro do Picadeiro: Perplexos (1968), Alexander Klüge
Os Artistas no Centro do Picadeiro:
Perplexos (Die Artisten in der
Zirkuskuppel: Ratlos, Alemanha, 1968). Direção e Rot. Original: Alexander
Klüge. Fotografia: Guenter Hoerman & Thomas Mauch. Montagem: Beate
Mainka-Jellinghaus. Com Hannelore Hoger, Sigi Graue, Alfred Edel, Bernd Höltz,
Eva Oertel, Kurt Jürgens, Gilbert Houcke, Wanda Promska-Pampuch.
Leni Peickert
(Hoger) é uma mulher fascinada pelo circo. Após
observar e entrar em contato com vários artistas, ela consegue montar o seu,
mas não dura muito tempo. Por sua inabilidade prática, os credores acabam
levando os animais.
Essa complexa metáfora política de uma Alemanha no
pós-guerra e o papel da arte que a ela cabe, bastante pessimista em relação a
sua completa sujeição ao circuito do capitalismo, no sentido mais amplo, é
prejudicada por seu excessivo hermetismo formal e cerebralismo. É evidente que
tal metáfora leva em conta o próprio meio do qual Klüge se utiliza, o cinema.
Após todas as idéias próprias que a protagonista teve a respeito da montagem de
“seu” circo, ela acabará tendo que se conformar com um espetáculo completamente
organizado por terceiros e – por fim – com a saída “redentora” de unir seu
talento à televisão, evidente referência a impossibilidade de sobrevivência à
margem da indústria cultural. Klüge faz uso de material de arquivo com imagens
de Hitler com efeito irônico, acrescentando ao áudio uma versão alemã de Yersterday (ironias que ele já havia
feito uso desde sua estréia, com seu belo e formalista curta-metragem Brutalidade em Pedra, de 1964, um dos
marcos rumo ao Novo Cinema Alemão), assim como de uma narradora que comenta
sobre as ações da protagonista de modo que apenas acentua o tom emocionalmente
distanciado do filme. Em um de seus momentos mais interessantes, Klüge
simplesmente deixa na montagem final um dos planos que aparentemente não “deram
certo”, recurso semelhante – ainda que menos
original – que a improvisação e
constrangimento diante da câmera de sua irmã, Alexandra Klüge, em Despedida de Ontem (1966). Mesmo que
tais recursos possam soar hoje potencialmente bastante banalizados pelos
programas de tv, não é o que ocorre, seu
efeito persistindo. O fato desse filme
ter ganho o Leão de Ouro no Festival de Veneza dá a dimensão e o testemunho da
radicalidade estética e política da época. Kairos-Film para Constantin Film.
104 minutos.
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