Filme do Dia: O Declínio do Império Americano (1986), Denys Arcand
O Declínio do
Império Americano (Le Déclin de L’Empire Américain, Canadá, 1986). Direção
e Rot. Original: Denys Arcand. Fotografia: Guy Dufaux. Música: François
Dompierre. Montagem: Monique Fortier. Dir. de arte: Gaudeline Sauriol.
Figurinos: Denis Sperdouklis. Com: Dominique Michel, Dorothée Berryman, Louise
Portal, Pierre Curzi, Rémy Girard, Yves Jacques, Geneviève Rioux, Daniel
Brière, Gabriel Arcand.
Quatro professores universitários de
história discutem suas experiências com mulheres em uma casa de campo, enquanto
preparam um jantar. Eles são Rémy (Girard), casado mas incorrigível mulherengo,
o solteirão Pierre (Curzi), grande amigo seu, mulherengo, mas sem ter família
constituída, Claude (Jacques), homossexual que sai a caça quando sente o desejo
e Alain (Brière), jovem e inexperiente professor assistente. Enquanto isso, em
uma academia de ginástica, as mulheres que são suas convidadas, praticam
musculação e falam dos homens. São elas: Dominique (Michel), esposa de Rémy e a
mais comportada, que conta sua experiência de swing com o marido; Louise
(Berryman), que teve um relacionamento de vários anos e agora vivencia
experiências sado-masoquistas com um homem que não faz parte de seu círculo
social, Mario (Arcand); Diane (Portal), que acabou de escrever um ensaio sobre
o declínio do império americano e se diz vítima constante dos assaltos dos
amantes casuais que encontra em suas viagens e a jovem Danielle (Rioux), garota
de programas e aluna de história, que se torna a namorada de Pierre. Quando as
visitam chegam e o jantar é servido duas situações de tensão rondam a mesa.
Durante o jantar, surge o rude amante de Louise, Mario, que afirma que prefere
fazer sexo, enquanto todos eles apenas o discutem. Depois do jantar, no
entanto, após todos escutarem os argumentos de Diane sobre seu livro,
Dominique se contrapõe às suas idéias, achando-as extremamente pessimistas.
Para não ficar por baixo, Diane afirma que Rémy e Pierre já haviam passado por
seus lençóis, provocando uma forte crise conjugal, acentuada quando Dominique
escuta Diane afirmar que Rémy fizera sexo com praticamente toda Montreal,
incluindo a irmã da própria Dominique. Diane seduz o jovem Alain. Claude
procura confortar Dominique. Louise se despede de seu amor selvagem. Todos se
reúnem na varanda ao crepúsculo.
O mesmo pessimismo pós-ideologias, sobretudo
cristã e marxista, que ressurge em seu As Invasões Bárbaras, em que os
mesmos personagens se reencontram dezoito anos depois, já se encontra em germe
aqui, porém apresentado de forma ainda menos estruturada e mais superficial que
seu filme posterior. O que o filme parece apontar, mesmo que inconscientemente,
é o próprio vazio de uma pretensa elite intelectual que, desiludida com sua mediocridade e muito menos empolgada com as gerações posteriores,
herdeiras de um arsenal cultural que se restringe à imagem e não mais aos
livros, encontra como único consolo vivenciar sua própria sexualidade,
sobretudo de forma decadente. Assim, o filme após apresentar um dos monólogos
pretensamente profundos e pessimistas do narrador centra o foco na cena de amor
selvagem entre Louise e Mario. Seu pretenso humor e senso de espírito é
invariavelmente comprometido com sua própria amargura, onde se falar sobre sexo
transforma-se numa insistente e banal tentativa
de resistência, que rui somente quando um membro de fora do grupo põe um
dedo na ferida – algo semelhante ao efeito cômico que igualmente se busca, por
exemplo, na contraposição do comentário popular sobre a sexualidade em um
ambiente burguês efetivado por Louis Malle em Loucuras de uma Primavera.
Centrando muitos de seus filmes igualmente no diálogo e nas teias de relações
amorosas como Arcand, Eric Rohmer conseguiu resultados bem mais provocadores e
próximos de uma reflexão pessoal, ao mesmo tempo que mais despidos das
generalizações fáceis – que logo tendem a soar datadas -, do cinismo e da
arrogância. Corporation Image M & M/Malofilm/NFB/Societe Radio
Cinema/Sociéte Général du Cinéma du Québec/Teléfilm Canada. 101 minutos.
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