Filme do Dia: Azul é a Cor Mais Quente (2013), Abdellatif Kechiche
Azul
é a Cor Mais Quente (La Vie d’Adèle,
França/Bélgica/Espanha, 2013). Direção: Abdellatif Kechiche. Rot. Adaptado:
Abdellatiff Kechiche & Ghalia Lacroix, a partir da história em quadrinhos Le Bleu est une Coleur Chaude, de Julie
March. Fotografia: Sofian El Fani. Montagem: Sophie Brunet, Ghalia Lacroix,
Albertine Lastera, Jean-Marie Langelle & Camille Toubkis. Cenografia:
Coline Débée & Julia Lemaire. Com: Adèle Exarchopoulos, Léa Seydoux, Salim
Kechiouche, Aurélien Recoing, Catherine Salée, Benjamin Siksou, Mona Walravens,
Alma Jodorowski.
Adèle (Exarchopoulos) leva uma vida algo insossa de
colegial, tentando engatar, sem muita convicção, uma relação com um dos jovens
mais desejados do colégio. Tudo se
transforma, no entanto, a partir do momento que cruza na rua com uma garota de
cabelos pintados de azul. Rompendo com o jovem, Adèle se aventura pela noite gay, com um amigo da escola e reencontra
a garota, a estudante de arte Emma (Seydoux). Uma paixão nasce entre as duas,
que algum tempo depois passam a morar juntas. Mais insegura, tímida e jovem que
sua companheira, Adèle ocasionalmente se envolve com um colega da escola na
qual trabalha. Quando Emma toma consciência do ocorrido, rompe com Adèle.
Poder-se-ia afirmar que a sinopse soa pálida diante do
magnífico trabalho de interpretação do elenco, em parte semi-improvisado para
ganhar em espontaneidade. Porém, infelizmente, não é o que se configura de
todo. O tom inócuo e a trivialidade
melodramática da história respinga muito além do que deveria, contaminando o
filme de certa insipidez, que nem as tórridas cenas de sexo simulado entre a
dupla de atrizes nem tampouco seu estilo moderninho e emocionalmente
distanciado conseguem mascarar. No caso do sexo simulado se chega menos próximo
do sucess d’escandale pretendido que
do constrangimento. Há um gosto de déja
vù, uma metragem demasiado excessiva e um final pouco empolgante em sua
opção a pesarem contra o excessivo zelo
concedido pela crítica. Com mais de 800 horas filmadas, a narrativa soa um
tanto disruptiva, com o repentino sumiço do universo dos colegas de escola de
Adèle, assim como de sua família. Não há propriamente uma noção de conflito,
portanto, em jogo. Poder-se-ia pensar, de maneira algo cínica, no filme como
uma contraparte lésbica a O Segredo de
Brokeback Moutain, mas por mais que aquele fosse mais convencional em
termos de estilo e narrativa, também criava um potencial pathos que aqui fica
restrito a momentos bastante isolados de uma panorâmica algo incipiente sobre a
vida de Adèle ao qual o título original faz menção. Espanta igualmente a
ausência de uma vinculação política, ainda que implícita, na trama, quando se
sabe que o realizador efetivou esse comentário em um filme bem menos
pretensioso e de resultado final deveras mais efetivo que foi A Esquiva (2003). Destaque para a
magnífica fotografia. Palma de Ouro em Cannes. Quat’Sous Films/Wild Bunch/France 2
Cinéma/Scope Pictures/Vértigo Films/RTBF para Wild Bunch. 179 minutos.
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