Filme do Dia: A Idade da Terra (1980), Gláuber Rocha
A
Idade da Terra (Brasil, 1980). Direção e Rot. Original: Gláuber Rocha.
Fotografia: Roberto Pires e Pedro de Moraes. Montagem: Carlos Cavalcante.
Cenografia: Paula Gaetan Moscovici & Raul William Amaral Barbosa.
Figurinos: Paula Gaetan Moscovici, Raul William Amaral Barbosa & Nilde
Maria Goebel. Com: Tarcísio Meira, Norma Bengell, Jece Valadão, Antônio
Pitanga, Ana Maria Magalhães, Danuza Leão, Geraldo Del Rey, Maurício do Valle,
Gerard Leclery, Carlos Petrovich.
Esse, que é o filme-testamento de Rocha, passeia entre a
colagem godardiana e o mítico de Pasolini reverberando, em última instância, o
próprio senso criativo de um cineasta que volta a se deter na sua maior
obsessão: pensar o Brasil e sua cultura. Por vezes aborrecido e
auto-indulgente, o filme apresenta seu momento documentário (evocativo de
Godard), na entrevista com Carlos Castelo Branco, que reflete sobre o golpe de
64 e alguns outros bons momentos de verve crítica. Seja uma abstração que acaba
demonstrando ser a parte do rosto (cabelo e boca) de um dos protagonistas, seja
uma seqüência que contrapõe radicalmente o delírio poético de uma dança de
freiras com o árduo cotidiano de trabalhadores da construção civil, como que
contrapondo o abstrato e o concreto. Ou ainda a seqüência que Tarcísio Meira
repete a mesma frase diversas vezes em meio as pedras e com a cidade do Rio ao
fundo. O próprio Gláuber e o áudio dando indicações aos atores de como devem
falar ou se portar diante da câmera estão presentes em alguns momentos, assim
como digressões do próprio realizador sobre a crescente polarização não mais
ideológica (socialismo e capitalismo) e sim econômica (ricos x pobres) no mundo
contemporâneo e sobre a influência de Pasolini deglutida e voltada para a vida.
Em outros momentos apenas se flagram alguns momentos em que amigos do
realizador, como João Ubaldo Ribeiro, encontravam-se próximos. É evidente a
referencia à diversidade religiosa brasileira, em que o cristianismo e os
cultos afro são as principais influencias, assim como a política – e o fato de
ser filmado boa parte em Brasília é significativo. Gláuber não deixa de
referenciar a si próprio, fazendo um pseudo-pastiche de um casal evocativo ao
de Terra em Transe, assim como
ângulos quase tão inusitadamente belos e épicos quanto de seu filme de 1967. Ou
ainda utilizando um breve trecho da música de Villa-Lobos (referência
fundamental para Deus e o Diabo na Terra
do Sol) e fazendo menção a São Jorge (presente em O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro). Com uma proposta
anti-narrativa talvez ainda mais radical que seus projetos menos pretensiosos
de cinema experimental (tais como Claro
e Câncer), o filme acaba aquém
dessas produções anteriores. Gláuber Rocha Prod. Artísticas/CPC Filmes/Filmes
3/Embrafilme. 134 minutos.
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