The Film Handbook#208: Victor Sjöström

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Victor Sjöström
Nascimento: 20/09/1879, Silbodal, Suécia
Morte: 03/01/1960, Estocolmo, Suécia
Carreira (como diretor): 1912-1937

Amplamente considerado como pai fundador do cinema sueco, Victor David Sjöström foi também um dos maiores realizadores do cinema mudo. Apesar de muito de sua obra ser hoje perdida, o que permanece revela um talento impressionante, com beleza visual, sutileza psicológica e interpretações contidas proporcionando aos filmes um poder atemporal. 

Permanecendo seus primeiros anos em Nova York com um tirano pai puritano, o jovem Sjöström retornou à Suécia, onde posteriormente se tornaria um bem sucedido ator e diretor teatral. Em 1912, apareceu em seu primeiro filme, The Black Masks/De Svarta Maskerna do seu contemporâneo Mauritz Stiller; no mesmo ano, realizaria sua estreia como diretor, O Jardineiro Cruel/Trädgardsmästaren. De sua obra sobrevivente, Ingeborg Holm (sobre uma mulher que sofre um colapso mental quando a pobreza a obriga a vender suas crianças para trabalhar) foi um estudo de realismo social sombrio, enquanto Terje Vigen, baseado em um poema de Ibsen sobre um marinheiro norueguês que, durante as Guerras Napoleônicas, descobre que sua família morreu de fome, enquanto era prisioneiro da marinha britânica, introduzia o permanente interesse do diretor nos temas da vingança, pecado e redenção, assim como seu sentido dos elemento naturais enquanto ativa força ameaçadora e mística.


Em  O Fora-da-Lei e Sua Mulher/Berg-Ejvind och hans Hustru>1 o amor de uma rica viúva e um homem tido como ladrão de ovelhas eventualmente os leva a viverem à margem da sociedade, em uma remota paisagem montanhosa; sua felicidade é assegurada em um idílio ensolarado de verão, até que a chegada do inverno coincida com suas mortes. Apesar da habilidade de Sjöström para transmitir estados emocionais, através de vívidos planos de suas locações, também tratou frequentemente histórias melodramáticas com rara contenção e (frequentemente tomando para si o papel principal) extraindo contribuições naturalísticas de seus atores. Nem todos os seus filmes foram sombrios ou realísticos: His Lordship Last Will/Hans nads Testamente foi grandemente cômico, Masterman/Mästerman um retrato tocante e de acurada psicologia de um prestamista redimido pelo amor não correspondido por uma jovem, A Carruagem Fantasma/Körkarlen, uma parábola de fantasia com virtuosas sobreposições e complexos flashbacks, no qual um bêbado observa os erros de seus modos violentos.

Em 1923 Sjöström foi para Hollywood. Infelizmente, a maior parte do que realizou para a MGM (onde trabalhou como Victor Seastrom) é perdido, um filme com Garbo, A Mulher Divina/The Divine Woman*, inclusive. Ironia da Sorte/He Who Gets Slapped>2, no entanto, adaptado de uma peça de Leonyd Andreiev no qual um cientista cruelmente traído por seu patrão e sua esposa, decide externar seu medo e humilhação em público, tornando-se palhaço de um circo é um estudo amargo e sutil do sofrimento masoquista;  também um surpreendente exemplo da habilidade de Sjöström de mesclar realismo puído, metáfora expressionista e fantasia surreal, através de impressionantes movimentos de câmera: ao final, a arena do circo é transformada em um globo giratório no qual o corpo do herói é jogado para o público por seus colegas, sorrindo grotescamente em reprovação muda. Mais convencional, mas não menos poderosa foi a versão de A Letra Escarlate/The Scarlet Letter, no qual a descrição lírica do diretor da Nova Inglaterra rural do século XVII, combinada com interpretações luminosas de Lilian Gish como Haster Prynne (a adúltera inocente perseguida por intolerância) produziu uma adaptação literária incomumente sensível, reminiscente de algo da obra sueca de     Sjöström. Porém é Vento e Areia/The Wind>3, que permanece sua obra-prima, e um dos grandes filmes de todos os tempos. Sobre uma ingênua garota da Virgínia que viaja para o Oeste, para viver com seus parentes, somente para se encontrar em um selvagem e hostil deserto, sofrendo com um casamento não desejado, estupro e a culpa e loucura que seguem o assassinato de seu assaltante, o filme (realizado em locações no deserto de Mojave) escala com lógica inexorável do delicadamente detalhado e semi-cômico realismo para o melodrama maduro; o simbolismo poético de Sjöström - vento, areia, um desenfreado corcel branco - servem para revelar os temores psicológicos da heroína romanticamente desiludida de Gish e emprestarem uma dimensão mítica ao tema da batalha do homem contra forças perigosas e elementares.

Após Vento e Areia - demasiado sombrio e bizarro para o público de seu tempo - Sjöström realizou mais dois filmes hollywoodianos (incluindo o sonoro Mulher Ideal/A Lady to Love) antes de retornar à Suécia. A partir de então, há não ser por um último filme sueco e O Poder de Richelieu/Under the Red Robe, visualmente elegante mas nada notável drama de época, realizado para Alexander Korda na Inglaterra em 1937, ele se restringiu a atuar, mais notavelmente como o professor Borg em Morangos Silvestres, de Bergman. Se sua obra no cinema sonoro foi negligenciável, no mudo ele foi tanto um inovador (principalmente na escolha de locações) quanto um astuto dramaturgo, dotado de um senso criativo de como retratar paixão, ansiedade e desespero em termos puramente visuais.

Cronologia
Artista mais sombrio e profundo que Stiller, Sjöström foi uma enorme influência em posteriores diretores suecos tais como Alf Sjöberg e Bergman, para não mencionar Dreyer. Em termos de suas contribuições ao desenvolvimento da narrativa cinematográfica, pode talvez ser comparado com Griffith, Lang, von Stroheim e Murnau.

* Dois fragmentos desse filme foram restaurados em 2011 pelo Instituto de Cinema Sueco. cf. em https://www.imdb.com/title/tt0018836/trivia?ref_=tt_ql_trv_1 (n. do T.).

Destaques
1. O Fora-da-Lei e Sua Mulher, Suécia, 1918 c/Sjöström, Edith Erastoff

2. Ironia da Sorte, EUA, 1924 c/Lon Chaney, Norma Shearer, John Gilbert

3. Vento e Areia, EUA, 1928 c/Lilian Gish, Lars Hanson, Montagu Love

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 268-70.

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