Filme do Dia: Ainda Resta uma Esperança (1962), John Schlesinger
Ainda Resta uma Esperança (A Kind of Loving, Reino Unido, 1962). Direção: John Schlesinger. Rot. Adaptado: Willis Hall
& Keith Waterhouse, baseado no romance de Stan Barstow. Fotografia: Denys N. Coop.
Música: Ron Grainer. Montagem: Roger Cherrill. Dir. de arte: Ray Simm.
Cenografia: Maurice Fowler. Figurinos: Laura Nightingale. Com: Alan Bates, June Ritchie, Thora Hird, Bert
Palmer, Malcolm Patton, Gwen Nelson, Pat Keen, David Mahlowe.
Filho de pais proletários, Vic Brown (Bates), que tenta melhorar de vida
em um escritório, se envolve com uma garota que trabalha na mesma empresa,
Ingrid (Ritchie). Ingrid engravida e Vic se sente pressionado a casar. Eles
abandonam o trabalho e a cidade para irem morar com a mãe de Ingrid (Hird). Em
pouco tempo a situação, já tensa, se torna insuportável para Vic, que arruma
suas coisas e parte da casa. Ingrid o busca para tentar uma reconciliação.
Bates encarna um angry young man que, mesmo tão irascível
quanto os outros contemporâneos, consegue conter sua inquietude sem nenhum
momento efetivamente explosivo. Schlesinger, em seu longa de estréia, não busca
demonizar ou glamorizar o ambiente ao qual os personagens se relacionam e
tampouco faz o mesmo com os personagens. Mesmo parecendo sentir um prazer quase
perverso em desconstruir gradativamente o que há de tradicionalmente romanesco
na relação do casal, o filme parece menos indicar a saída da responsabilidade
individual – em nenhum momento parecendo compartilhar o julgamento social
negativo que se abate sobre o protagonista quando ele decide abandonar a esposa
– do que observá-la em consonância com o meio social. Meio social que parece
acompanhar o casal até mesmo em seu momento de reconciliação, quando são
observados em meio a uma paisagem dominada por chaminés e a torre de uma igreja.
O resultado final, já apresenta o talento precoce do realizador para a ousadia
quanto à sexualidade, apresentando uma revista pornográfica com fotos de seios
nus, algo inédito no cinema britânico até então, que o tornará um dos
realizadores pioneiros num avanço rumo a uma flexibilização com relação a uma
abordagem dos costumes mais apropriada aos novos tempos (Perdidos na Noite, Domingo
Maldito). Consegue ser mais bem sucedido, de todo modo, do que os filmes
imediatamente posteriores e mais ambiciosos de Schlesinger (O Mundo Fabuloso de Billy Liar, Darling). Detém-se por vezes em planos
longos que beiram ou ultrapassam um minuto, no qual fica destacado seu talento
e fluidez na direção de atores, impossibilitando o desgaste da interpretação
pela acentuada presença de cortes. A
câmera, por vezes, desliza do centro da ação para efetivar comentários
marcadamente sociais. Como no momento no qual procura criar o choque entre o
que há de potencialmente romântico, num encontro “idílico” do casal, e o árduo mundo que os rodeia, apresentando
as marcas riscadas na parede de diversos casais que já haviam passado pelo
local improvisado onde se encontram ou ainda se voltando para destacar o valor
dos lanches e os produtos da cantina no trabalho. Até mesmo uma comparação com
o universo da norte-americana Ida Lupino, também desglamorizado, parece aqui
diferenciá-lo, já que o amor não surge como um elemento que se contrapõe
enquanto reserva de valor humano ao meio social, como na tradição
melodramática, mas é completamente
vinculado a esse meio, algo que fica mais do que patente em seu ambíguo
final que aponta para uma reconciliação longe de rósea. Percebe-se em cartaz
num dos cinemas, Meu Passado Me Condena (1961),
filme que também aborda questões até então tabus para o cinema. A versão
americana conta com 5 minutos a mais que essa. Urso de Ouro em Berlim. Vic Films Prod. para Anglo-Amalgamated Film Prod.
107 minutos.
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