Filme do Dia: O Lobo Atrás da Porta (2013), Fernando Coimbra
O Lobo Atrás da Porta (Brasil, 2013). Direção e Rot.
Original: Fernando Coimbra. Fotografia: Lula Carvalho. Música: Ricardo Cutz.
Montagem: Karen Akerman. Dir. de arte: Tiago Marques. Figurino: Valeria
Stefani. Com: Leandra Leal, Milhem Cortaz, Fabíula Nascimento, Tamara Taxman,
Juliano Cazarré, Paulo Tiefenthaler, Thalita Carauta, Isabelle Ribas, Thalita
Carauta, Emiliano Queiroz.
Com o desaparecimento súbito da filha, Sylvia (Nascimento),
vai em busca de ajuda policial. O investigador (Cazarré) ouve o pai da criança,
Bernardo (Cortaz), que de imediato pensa que foi ação de sua amante, Rosa
(Leal), com quem manteve até recentemente uma relação extra-conjugal. A partir
do relato de Rosa, aos poucos o quebra-cabeças vai fazendo sentido.
Com roteiro relativamente virtuoso e uma narrativa que é
traçada a partir de flashbacks – sem se esquivar do chamado “corredor do
logro”, ou seja, apresentando informações “falsas” em alguns desses – o filme
pode ser enquadrado dentro de um filão que se aproxima do cinema de gênero, com
melhor resultado final que outras produções contemporâneas de semelhante
objetivo (a exemplo de Quando Eu Era
Vivo). O trabalho de câmera, que episodicamente chama atenção para si, como
na cena em que se observa do alto Rosa jogando seu celular de um mirante, não
chega a transformar tal estratégia em vício (como é o caso de realizadores como
Paolo Sorrentino em filmes como A Grande
Beleza). Noutros momentos se opta
por composições interessantes, como a janela que enquadra a tensão
amorosa entre Rosa e Bernardo. Já no plano
da direção de atores, ou talvez melhor seja se referir a elaboração dos
personagens, o filme vai da medida certa
de drama para o personagem de Rosa (numa segura interpretação de Leal) até o
exagero caricaturalmente histriônico da personagem que encarna a garota que
Rosa inclui em seu plano passando pelo personagem que tende ao over de Cortaz.
Não menos caricata é a representação da situação de quase catatonia literal
vivida no ambiente doméstico por Rosa e seus pais. O fato da narrativa manter
eficaz o interesse pela trama e a originalidade com que é tratada uma história
típica de um fait divers não provocam
necessariamente um correspondente adensamento do drama retratado, que segue a
bússola da espetacularização mais que a de pretensões autorais em ambientes
socialmente semelhantes como Um Céu de
Estrelas, de Tata Amaral. O filme, no entanto, possivelmente consegue se
aproximar mais de sua pretensão que o de Amaral. A imagem comprimida do comboio
do trem suburbano é um motivo recorrente que parece sinalizar para o universo
asfixiante de seus personagens, motivo que leva a uma fuga do mesmo através do
sexo por parte de Rosa e Bernardo, porém demasiado estéril e limitado para ser
emancipador, antes sendo seu reverso – ainda que a ausência de culpa de Rosa ao
final, assim como a acertada recusa de
apresentar a situação do casal após a tragédia o desviem da possibilidade de
leitura exclusiva de chave moral.
Gullane Filmes/TC Filmes/Cabra Filmes/Pela Madrugada para Imagem Filmes.
101 minutos.
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