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Mostrando postagens com o rótulo Cinema Brasileiro

Filme do Dia: Cabra Marcado para Morrer (1984), Eduardo Coutinho

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  C abra Marcado para Morrer (Brasil, 1984). Direção: Eduardo Coutinho . Fotografia: Fernando Duarte & Edgar Moura. Música: Rogério Rossini. Montagem: Eduardo Escorel. Esse documentário de Coutinho é não só um dos melhores do gênero, como um dos melhores filmes do cinema nacional em todos os tempos. Partindo em 1981, para reencontrar os membros do elenco do filme homônimo que reconstituía em ficção o assassinato do líder das Ligas Camponesas de Sapê, município da Paraíba, João Pedro Teixeira, morto a mando de latifundiários locais, em 1962, o cineasta consegue um pungente painel da realidade brasileira, sobretudo a dos camponeses nordestinos, em que política, memória, subjetividade e cinema se entremeiam com efeito ímpar. Iniciado em 1964, no Engenho Galileia, em Pernambuco, contando com a participação de Elizabeth Teixeira, viúva de João, a produção do filme foi interrompida com o golpe militar de alguns meses depois. Através do retorno da produção ao local, no entanto, não só

Filme do Dia: Madame Satã (2002), Karim Aïnouz

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  M adame Satã (Brasil/França, 2002). Direção e Rot. Original: Karim Aïnouz. Fotografia: Walter Carvalho. Música: Sacha Amback. Montagem: Isabela Monteiro de Castro. Dir. de arte: Marcos Pedroso. Figurinos: Rica Murtinho. Com: Lázaro Ramos, Marcélia Cartaxo,   Flávio Bauraqui, Felippe Marques, Emiliano Queiroz, Renata Sorrah, Guilherme Piva, Ricardo Blat, Gero Camilo. No Rio dos cortiços, prostitutas, malandros e valentões da década de 1930 sobressai-se a figura de João Francisco dos Santos (Ramos). Homossexual assumido, ele enfrenta com violência todas as formas de discriminação que a sociedade procura lhe impor. Seja a cantora de cabaré Vitória dos Anjos (Sorrah), para quem trabalha como assistente de camarim e que admira e imita secretamente, e que acaba por quase matar num acesso de fúria, após ser humilhado. Seja o delegado de polícia que pretende prende-lo pelo dinheiro que retirou do cabaré por não ser pago a meses ou ainda o homem (Blat), que após sua apresentação em um bar d

Filme do Dia: Absolutamente Certo (1957), Anselmo Duarte

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  A bsolutamente Certo (Brasil, 1957). Direção: Anselmo Duarte. Rot. Original: Anselmo Duarte, a partiro do argumento dele próprio, Jorge Dória, Jorge Ileli & J. Miguel Thalma de Oliveira. Fotografia: H.E. Fowle. Música: Enrico Simonetti. Montagem: José Cañizares. Dir. de arte: Pierino Massenzi. Com: Anselmo Duarte, Dercy Gonçalves, Odete Lara, Aurélio Teixeira, Maria Dilnah, José Policena,  Fregolente. Zé do Lino (Duarte) é um humilde linotipista em uma gráfica, que há dez anos é noivo de Gina (Dilnah) e não casa por não ter condições econômicas suficientes e cuidar do pai   (Policena) semi-inválido. A mãe de Gina, Dona Bela (Gonçalves), embora viva escorraçando o namorado da filha de sua casa, na verdade, gosta do rapaz. O filho de seu patrão (Fregolente), Raul (Teixeira), propõe que Zé do Lino faça fortuna com sua capacidade extraordinária de memória, capaz de saber de cor toda a lista telefônica da cidade de Sâo Paulo. Tem a ideia de leva-lo à produção do programa de TV Absol

Filme do Dia: Uma Aventura aos 40 (1947), Silveira Sampaio

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  U ma Aventura aos 40 (Brasil, 1947). Direção e Rot. Original Silveira Sampaio. Fotografia Antonio Leal & Lucien Mellinger. Montagem Sérgio Vasconcelos. Com Silveira Sampaio, Aída Carmen, Flávio Cordeiro, Ana Lúcia, Nilza Soutin, Sérgio Vasconcelos. 1975. Carlos (Sampaio) escute um programa de TV sobre sua biografia. E passa a corrigir diversos detalhes que considera equivocados do apresentador do mesmo. Sobre sua meninice, longe de exemplar, embora tenta tentado ser uma criança-prodígio no violino, e sobre a escolha profissional, sob pressão do pai, tendo vontade de honestamente lhe dizer que preferia jogar bilhar e ir ao cinema que qualquer outra coisa. Casa-se com Margarida. Ascende profissionalmente na carreira de médico somente após adotar uma barba, como todo os doutores do quadro da parede de sua casa. E a vida caminha, tornando-se ele sobretudo um psiquiatra, e sendo quase alvo de um homem fugido da instituição no qual trabalha. Em um atendimento a um paciente, acab

Filme do Dia: Trabalhadoras Metalúrgicas (1978), Renato Tapajós & Olga Futemma

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  T rabalhadoras Metalúrgicas (Brasil, 1978). Direção Renato Tapajós & Olga Futemma. Rot. Original Olga Futemma. Fotografia Washington Racy. Montagem Olga Futemma. Indo bastante direto ao assunto esse documentário, aparentemente propositalmente sem grandes firulas estéticas (quando se pensa, em contraposição, na abordagem de um curta de meia década após como Chapeleiros ) para provavelmente servir como alimento para discussões dentro do próprio sindicato que o co-produziu – e, na abertura do congresso com participação exclusiva de mulheres quem o abre é ninguém menos que o presidente do sindicato à época, um imberbe Luís Inácio Lula da Silva. Inicia com uma fala de uma trabalhadora que afirma-se dividida entre querer voltar como o próprio sexo, mas também como homem, devido as diferenças salariais para o mesmo tipo de trabalho e depois faz um rápido comentário, mais que apanhado histórico, em cima de um punhado de ilustrações históricas de mulheres trabalhadoras do século XI

Filme do Dia: Porto das Caixas (1962), Paulo César Saraceni

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  P orto das Caixas (Brasil, 1962). Direção: Paulo César Saraceni. Rot. Adaptado: Paulo César Saraceni, baseado em conto de Lúcio Cardoso. Fotografia: Mário Carneiro. Música: Antônio Carlos Jobim. Montagem: Nello Melli. Cenografia: José Henrique Bello. Com: Irma Alvarez, Reginaldo Farias, Paulo Padilha, Joseph Guerreiro,  Margarida Rey, Sérgio Sanz, Henrique Bello. Mulher (Alvarez) vive uma relação precária com um marido (Padilha), empregado na ferrovia, que nunca traz dinheiro para casa e a destrata. Eles vivem numa cidade igualmente estagnada e sem maiores opções. Ela consegue alimentos através de sexo com o dono da mercearia (Farias). Um ensaio de recomeço do amor entre ambos chega a ser esboçado, mas após se ferir com um martelo que pedira para a mulher comprar, ele passa novamente a tratá-la com arrogância e ficar recluso em casa. Ela, por sua vez, testa o comerciante, um barbeiro e um militar, para ver se seriam capazes de assassinar o marido, e consegue motivar o comerciante q

Filme do Dia: Pela Janela (2017), Caroline Leone

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  P ela Janela (Brasil/Argentina, 2017). Direção, Rot. Original: Caroline Leone. Fotografia: Claudio Leone. Montagem: Caroline Leone & Anita Remón. Dir. de arte: Juan Gribaldi. Cenografia: Agostina De Francesco. Figurinos: Julieta Gantov. Com: Magali Biff, Cacá Amaral, Mayara Constantino, Rony Koren, J. Barros, Paloma Contreras, Ivan Moschner. Rosália (Biff), mulher sexagenária que há 30 anos trabalhava em uma fábrica, é subitamente demitida e entra em estado depressivo. Seu irmão, José (Amaral), que se encontra de viagem marcada no dia seguinte para a Argentina, convida-a para a mesma. Inicialmente relutante e carrancuda, Rosália volta a sorrir quando se vê envolta pela umidade e a escala das Cataratas do Iguaçu. Talvez a maior graça dessa produção resida nas tomadas aparentemente espontâneas que realiza ao longo da viagem, numa ficção que se abre, mesmo que timidamente, para o real, como é o caso do baile de meia-idade que a dupla entra aparentemente sem saber de sua existênc

Filme do Dia: O Cinegrafista de Rondon (1979), Jurandyr Passos Noronha

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  O Cinegrafista de Rondon (Brasil, 1979). Direção: Jurandyr Passos Noronha. Repleto de stills e voz over , o memorialista ( Carmen Santos , Panorama do Cinema Brasileiro ) evoca a trajetória do Major Thomaz Reis ( Ao Redor do Brasil ) ao lado da Comissão Rondon,  comparando-a (um tanto apressadamente, diga-se de passagem, dado o caráter muito mais aprofundado e inevitavelmente extenso do material) com os cinegrafistas dos Lumière nos primórdios das imagens em movimento. Ainda que o filme siga os passos do documentarismo acadêmico, traz uma trilha sonora um tanto dissonante com algo mais convencional nesse campo. Os índios praticamente só surgem em suas imagens próximo ao final. Quanto a seu comentário sobre o pobre estado de preservação do material filmado por ele, boa parte desaparecido em incêndios, parece confirmar o estado cíclico, quando não quase sempre periclitante, do acervo fílmico nacional como um todo, tornando-se o material produzido depois de algum tempo verdadeiros so

Filme do Dia: A Sociedade Anonyma Fábrica Votorantim (1922), Armando Pamplona

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  A   Sociedade Anonyma Fabrica Votorantim (Brasil, 1922). Direção e Fotografia: Armando Pamplona. Há evidentes recordações dos primeiros anos do cinema nas imagens iniciais dessa produção. E que também vão para além dele, no caso dos longos, insistentes e belos travellings que apresentam aspectos da paisagem da viagem de trem entre Votorantim e Sorocaba. Ainda mais tipicamente localizado no Primeiro Cinema são os lentos “panoramas” descritivos que pretendem ressaltar a monumentalidade do complexo fabril da Votorantim. Porém, em meio a tanta demonstração de modernidade, incluindo bondes elétricos e a abertura das comportas de uma barragem, ou ainda a enormidade das roldanas em planos propositalmente pensados para se dispor em escala em relação aos seres humanos, convivem elementos mais prosaicamente triviais, como são os moradores locais, os trabalhadores de beira de estrada (evocativos do célebre Black Diamond Express ) ou o cachorro que passeia pelas comportas. Sem utilização de mú

Filme do Dia: Cabeça de Nêgo (2020), Déo Cardoso

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  C abeça de Nêgo (Brasil, 2020). Direção e Rot. Original: Déo Cardoso. Fotografia: Roberto Iuri. Música: Hérlon Robson. Montagem: Guto Parente. Dir. de arte: Dayse Barreto. Figurinos: Thaís de Campos.  Com: Lucas Limeira, Nicoly da Silva Mota, José Ilton Rodrigues Neto, Jeff Pereira, Renan Pereira, Mateus Honori, Mayara Braga, Marta Aurélia, Jéssica Ellen, Hiroldo Serra, Clístenes Braga, Val Perré, Galba Nogueira, Vanéssia Gomes dos Santos, Acácio Montes da Costa. Em um grupo escolar público de Fortaleza, um jovem,   Saulo (Limeira), torna-se pivô de toda uma série de acontecimentos que envolvem as condições precárias da escola, o corporativismo dos professores, a maior parte deles alinhados com o discurso do corrupto diretor da escola e representantes da mídia progressista e conservadora, que possuem tratamento diferenciado ao acesso do estabelecimento. Mirando a situação política crescentemente conservadora vivenciada no país, desde quase o início da década anterior, consegue bo

Filme do Dia: A Santa de Coqueiros (1931), ?

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  A  Santa de Coqueiros (Brasil, 1931). Parece haver um caráter propenso a motivar certo sensacionalismo nessa abordagem de uma pretensa santa do interior de Minas Gerais, que tem gerado toda uma mobilização de romeiros de outras partes do Estado (fenômeno aparentemente de alcance regional, o que também se poderia entender pelos precários meios de comunicação da época); impressão essa que se desfará posteriormente, quando uma cartela afirma sobre quase cinco mil correspondências provenientes de todas as partes do Brasil em um só dia e benzidas.  Tal caráter sensacional surge já nos primeiros planos, que se demoram em registrar a relativamente absurda quantidade de veículos motorizados para uma povoação daquele porte. Ou ainda o crédito que afirma sobre um verdadeiro “formigueiro humano” que se formaria nas imediações da casa da mulher que é tida como milagrosa. Posteriormente se observa a multidão humana que se forma ao redor da casa da mesma e, novamente, uma quantidade (à época) ex

Filme do Dia: Rio, Zona Norte (1957), Nélson Pereira dos Santos

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  R io, Zona Norte (Brasil, 1957). Direção e Rot. Original: Nélson Pereira dos Santos . Fotografia: Hélio Silva. Música: Alexandre Gnatalli &  Zé Ketti.  Montagem: Rafael Justo Valverde. Cenografia: Júlio Romito. Com: Grande Otelo , Jece Valadão, Paulo Goulart, Haroldo de Oliveira, Zé Kéti, Malu Maia, Angela Maria, Maria Petar. Espírito da Luz (Otelo) é um sambista do morro que acredita que suas dificuldades econômicas irão acabar quando conhece o grã-fino Moacyr (Goulart), músico que acompanha a cantora Ângela Maria (Maria), em suas apresentações na Rádio Nacional. Porém, seus problemas somente crescem. Moacyr acaba se unindo com o agente (Valadão), que se faz passar por amigo de Luz, e conseguem registrar uma canção sem dar crédito ao mesmo. Luz rapidamente vê seus sonhos desmoronarem. Seu filho assalta Figueiredo, um comerciante que desiste de ser seu sócio em um comércio. Posteriormente é morto diante de seus olhos. Sua nova mulher, decide abandoná-lo. A esperança de Luz, qu

Filme do Dia: Os Homens que Eu Tive (1973), Tereza Trautman

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O s Homens que Eu Tive (Brasil, 1973). Direção e Rot. Original: Tereza Trautman. Fotografia: Alberto Salvá. Montagem: Tereza Trautman. Com: Darlene Glória, Gracindo Júnior, Arduíno Colassanti, Milton Moraes, Ítala Nandi, Annik Malvil, Gabriel Archanjo, Patrícia Andréa, Roberto Bomfim. Pity (Glória) é uma mulher liberada, cujo marido, Dido (Júnior), não apenas refreia sua sexualidade, como mesmo concorda que ela traga um de seus amantes, Sílvio (Archanjo), para casa. A situação muda de configuração quando ela se apaixona pelo montador de um filme que a chamou para trabalhar e é amigo de Dido, Peter (Colassanti). Embora preocupada com Dido, decide unir-se a Peter. Em pouco tempo, no entanto, confidencia a amiga Bia (Nandi), que os casamentos a entediam e afirma ao próprio Peter que se sente morta. Separando-se de Peter, passa os tempos na casa de Bia, na fossa, e com seus pertences espalhados pelas casas de Dido e Peter. Bia a convida para ir passar uma temporada na casa de Torres (Mor

Filme do Dia: Jia Zhang-ke, um Homem de Fenyang (2014), Walter Salles

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  J ia Zhang-ke, um Homem de Fenyang (Brasil/França, 2014). Direção: Walter Salles . Rot. Original: Walter Salles & Jean-Michel Frodon. Fotografia: Inti Briones. Montagem: Joana Collier. A relação entre indivíduo e sociedade não poderia faltar nesse documentário que acompanha o retorno de Zhang-ke à sua província natal, e é expressa de forma paradoxal, com o realizador, a determinado momento, comentando o quanto lhe tocava canções que falavam do “eu” e não o opressivo e massacrante “nós”, impositivo da cultura maoísta em que foi criado, quando escutava clandestinamente uma rádio de Taiwan, enquanto o ator principal de Plataforma afirma gostar muito mais desse filme, que retrata o espírito coletivo da juventude de sua época que de Artesão Pickpocket , que observa algo similar da perspectiva de um indivíduo. O filme possui algumas boutades visuais, como o realizador afirmando o quão importante fora sair da China para ter uma compreensão de sua região e do próprio país, das relaç

Filme do Dia: Tchau Brás (1977), Rudá de Andrade

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  T chau Brás (Brasil, 1977). Direção: Rudá de Andrade. Rot. Original: Coletivo de alunos da ECA/USP; Francisco Luiz de Almeida Salles. Fotografia: Eduardo Poiano. Montagem: Eduardo Leone. Tendo como mote a iminente destruição de uma igreja que é talvez o símbolo de maior identidade para a maior parte da comunidade de imigrantes e descendentes de italianos no bairro que dá título a esse curta, para a edificação de uma estação de metrô, o filme efetiva um passeio por alguns locais como uma quermesse noturna e uma procissão diurna, antecipada por uma parada com banda. Embora se siga um perfil bastante tradicional – e comum à época, como é o caso de Praça da Sé (1976), que destaca ao final a implosão de um arranha-céu que também dará lugar a uma estação de metrõ, e também de Rua São Bento, 405 (1976), focando no Edifício Martinelli em vias de ser desocupado por ordem da prefeitura – de abordar os fenômenos da transformação urbana da cidade de São Paulo, existe dois momentos em que ele f

Filme do Dia: A Barca (2019), Nilton Resende

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  A   Barca (Brasil, 2019). Direção: Nilton Resende. Rot. Adaptado: Nilton Resende, baseado no conto Natal na Barca , de Lygia Fagundes Telles. Fotografia: Michel Rios. Dir. de arte: Nina Magalhães. Com: Ane Oliva, Wanderlândia Melo, Aline Marta, Yan Claudemir, Rogério Dyaz. É noite e numa barca uma mulher recém-ingressa (Oliva) passa a conversar com uma jovem mãe (Melo) que segura seu bebê. As cores são fortes e traduzem uma sensorialidade viva e, ao mesmo tempo, um efeito de certo distanciamento, aprofundado pelo longo silêncio inicial. O curta consegue construir seu ritmo. A contraposição entre as duas mulheres, bem trabalhada, descamba para um lado pra lá de alegórico, mítico. Uma repleta de esperança, apesar de tudo, todos os sofrimentos passados. E também religiosa e emocional. A outra contida e mais seca. A determinado momento, inclusive, enxerga o bebê carregado como morto. Entre os agradecimentos se encontra a própria escritora do conto propulsor desta adaptação, nonagenár

Filme do Dia: Eclipse (1984), Antônio Moreno

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  E clipse (Brasil, 1984). Direção: Antônio Moreno. Talvez a mais expressiva obra dos 15 curtas dirigidos pelo acadêmico Moreno, autor de livro sobre personagens homossexuais no cinema brasileiro. Fazendo uso de uma tradição experimentalista que remete irremediavelmente a Stan Brakhage, Moreno se afasta igualmente dessa em ao menos duas características e meia. A meia é o uso, aqui bastante saliente, de imagens filmadas de modo convencional, progressivamente ausentes na obra do norte-americano. E as duas outras são a sonorização – os filmes de Brakhage são habitualmente mudos – e, relacionado diretamente a essa, um discurso político-libertário que remete ao apagão vivido na democracia do país desde a ditadura de 64, a partir de um viés glauberiano. Visionário, portanto crítico do autoritarismo, mas também do populismo de esquerda, sempre claudicante em enfrentar o primeiro. Há referências à política internacional, que vão do endeusamento do mito Guevara à crítica ao castrismo, como ou

Filme do Dia: Promiscuidade, os Pivetes de Kátia (1984), Fauzi Mansur

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  P romiscuidade, os Pivetes de Kátia (Brasil, 1984). Direção: Fauzi Mansur. Rot. Original: Luiz A. Kopezki & Fauzi Mansur. Fotografia: Gesvaldo Arjones Abril. Montagem: Joaquim Rodrigues de Souza. Cenografia: Alfredo Scarlatti Júnior. Com: Cristina Martinez, Ênio Gonçalves, Sérgio Hingst, José Lucas, Livi Bianco, Rubens Pignatari, André Loureiro, Daliléa Ayala, Mara Carmen, Rita Marta. Kátia (Martinez), vai buscar toda sorte de prazeres,   não conseguidos com seu marido, Mauro (Gonçalves), aparentemente impotente desde um acidente ocorrido tempos atrás, em meio aos trilhos de seu trabalho como engenheiro ferroviário, com vários meninos que circundam um iate da família. A vida de harmonia do casal e suas relações com a família se transformam radicalmente após o crescente alcoolismo de Mauro, assim como sua libertina família. Cansados dele, sua família tem planos de mata-lo. Ao saber da situação, Mauro se antecipa e cria estratégias para matar cada um deles. A indigência de ator

Filme do Dia: Utopia e Bárbarie (2009), Sílvio Tendler

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  U topia e Barbárie (Brasil, 2009). Direção e Rot. Original: Sílvio Tendler. Música: Cabruera, Caíque Botkay, BNegão e Marcelo Yuka. Montagem: Bernardo Pimenta. Memórias da utopia do pós-guerra são construídas através de imagens de arquivo e reflexões de intelectuais sobre momentos-chaves do mundo como o bombardeio a Hiroxima e Nagasaki, a Guerra da Argélia, a tentativa fracassada de independência do Congo, a Revolução Cubana,  a Revolução Cultural chinesa, a Guerra do Vietnã, a Primavera de Praga, o Maio de 68 e as ditaduras militares na Argentina, Chile e Brasil, chegando aos movimentos de fim do socialismo no Leste Europeu e o impeachment de Collor, com breves referências aos novos movimentos sociais e as vitórias de Morales, Lula e Obama. Apesar da amplidão de seu tema, Tendler consegue se sair razoavelmente bem na empreitada, mesmo que ao abranger uma arena histórica tão vasta e ousada quanto a de um Hobsbawn, não se tenha a mesma complexidade da abordagem que se detém sobre os

Filme do Dia: Sai da Frente (1952), Abílio Pereira de Almeida & Tom Payne

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  S ai da Frente (Brasil, 1952). Direção e Rot. Original: Abílio Pereira de Almeida & Tom Payne. Fotografia: Robert Huke. Música: Radamés Gnatalli. Montagem: Mauro Alice, Germano Arlindo, Oswald Hafenrichter & Álvaro de Lima Novaes. Cenografia: Piero Massenzi. Figurinos: Bassano Vaccarini. Com: Amácio Mazzaropi, Ludy Veloso, A.C. Carvalho, Nieta Junqueira, Leila Parisi, Solange Rivera, Luiz Calderaro, Vicente Leoparace, Luiz Linhares. O motorista de caminhão Isidoro (Mazzaropi), ao lado de seu fiel cão Coronel, faz o transporte dos móveis de um homem (Carvalho), casado com uma esposa rabugenta, Dona Gata (Junqueira), de São Paulo para Santos. Marido e motorista enfrentam vários percalços, como o seu caminhão ter descido a ladeira apenas com Coronel no volante. Ou ainda ter abrigado uma noiva que foge de seu casamento e a mulher de “Sansão” em um circo, cansada de suas fraquezas e apaixonada por Isidoro. Filme de estreia de uma das poucas carreiras do cinema brasileiro que s