Filme do Dia: O Sal da Terra (2014), Juliano Ribeiro Salgado & Wim Wenders

 


O Sal da Terra (The Salt on Earth, 2014, França/Brasil/Itália). Direção: Juliano Ribeiro Salgado & Wim Wenders.  Rot. Original: Juliano Ribeiro  Salgado, Wim Wenders & David Rosier. Fotografia: Hugo Barbier & Juliano Ribeiro Salgado. Música: Laurent Petitgrande. Montagem: Maxine Goedick & Rob Myers.

Documentário que por conta de seu objeto – a vida e sobretudo a obra do fotógrafo Sebastião Salgado – faz uso de um recurso  raramente explorado pelo cinema, que é a foto fixa, habitualmente utilizada como cacoete estilístico pelos cinemas novos dos anos 60 ou até mesmo como material para um curta quase completamente sustentado por ela (La Jetée, de Chris Marker). Aqui se analisa cronologicamente os livros e extensas pesquisas fotográficas em áreas habitualmente inóspitas que levaram anos e que resultaram naqueles. Wenders, embora parta de um olhar pessoal, o descobrimento de uma foto de Salgado por acaso de uma mulher cega tuareg que guarda até hoje sobre sua escrivaninha, parece ser engolfado por um tributo algo institucional do autor da foto que retrata e seus projetos. O ritmo lento, com o tempo necessário para que se tenha uma apreensão mínima das fotografias de Salgado, algumas delas difíceis de serem  encaradas por apresentrem pessoas nos limites de seus esforços ou mesmo já mortas, de todas as idades é menos um empecilho que a incorporação pela estrutura narrativa do filme da relação de Salgado para com o que fotografou e, por consequência, com sua própria compreensão da vida. Assim, observa-se a sua chegada ao limite da não aceitação do humano após fotografar retirantes, crianças famintas e povos inteiros sucumbindo a guerras e conflitos ser seguido pelo desejo de não mais fotografar e a superação desse impasse a partir da elaboração de seu projeto Terra, que consegue reflorestar toda a região na qual nascera a níveis de vegetação anteriores ao que conhecera de quando criança. Isso lhe provoca um desejo de voltar a fotografar, agora uma natureza virgem – chega a afirmar entusiasmado que uma quantidade enorme do planeta ainda continua virgem à exploração humana. Passa a fotografar animais, plantas, algo que nunca fizera, mas tampouco descura dos grupos humanos que vivem em regiões próximas a esses locais inóspitos, como uma tribo indígena brasileira que nunca tivera contato com os homens brancos. É nessas populações, assim como nas focas que se encostaram nele sem o menor temor, por desconhecerem o homem enquanto predador, que parece sinalizar a utopia possível para aquele até então descrente do humano. Algo que paradoxalmente pouco ou nada pode ser vivenciado pela quase absoluta população do planeta. Os comentários nada exatamente brilhantes de Wenders e a música ainda reforçam mais a sensação de algo elaborado para arrancar aplausos emocionados ao final da exibição por certos nichos aos quais esse filme pode suscitar um apelo.  O recorte da trajetória de Salgado é bastante ou praticamente totalmente amparada em sua própria fala, criando o efeito institucional acima referido e, ao abraçar sua narrativa, fica de fora qualquer menção a colaboradores, a sua passagem pela importante agência Magnum, fundamental para sua fama mundial no campo da fotografia, para não falar de uma visão crítica ou matizada de sua impressionante obra, com destaque para as fotos babélicas de Serra Pelada e para formações de geleiras de monumentalidade de provocar inveja em qualquer construção da engenharia humana.  Co-dirigido por seu filho, que também comenta sobre o pai em vários momentos. Decia Films/Amazonas Images/Solares Fondazione delle Arti. 110 minutos.

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