Filme do Dia: Nu (1993), Mike Leigh
Nu (Naked, Reino Unido, 1993). Direção e Rot. Original: Mike Leigh. Fotografia: Dick Pope.
Música: Andrew Dickson. Montagem: Jon Gregory. Dir. de arte: Alison Chitty
& Eve Stewart. Figurinos: Lindy
Hemming. Com: David Thewlis, Lesley Sharp, Katrin Carlidge, Greg Crutwell,
Claire Skinner, Peter Wight, Ewen Bremmer, Susan Vidler, Deborah Maclaren, Gina
Mckee.
Fugindo de Manchester, onde praticara
estupro, o sem rumo Johnny (Thewlis) vai para Londres, onde busca refúgio na
casa da ex-namorada Louise (Sharp). Porém, ela não se encontra e ele acaba se
engraçando por sua amiga Sophie (Cartlidge), com quem pratica sexo violento.
Johnny ganha as ruas, incomodado com a presença constante de Sophie e em sua
odisséia encontra figuras como o vigia Brian (Wight), com quem discute questões
existenciais, o sem teto Archie (Bremmer) e sua namorada Maggie (Vidler), uma
mulher (MacLaren) mais velha, com quem se recusa a fazer sexo e uma atendente
de café (McKee), que inexplicavelmente o expulsa de casa. Enquanto Sophie fora
praticamente estuprada pelo seu perverso senhorio, Jeremy (Crutwell), Johnny
chega ao fundo do poço ao ser agredido por uma gangue. Quando Sandra (Skinner),
a companheira de Louise no apartamento retorna, sente-se indignada com a
confusão que se encontra a casa. Louise expulsa Jeremy que, antes de abandonar
a casa, deixa dinheiro com Sophie, pelos “serviços prestados”. Sophie abandona
a casa aos prantos, ao perceber que fora preterida por Johnny em detrimento de
Louise. Enquanto Louise resolve ir ao trabalho, pedir demissão e retornar à
Manchester com Johnny, este abandona a casa com o dinheiro de Jeremy.
O enredo, banal por si próprio, é o
que menos importa nessa intensa radiografia que o cineasta faz de seus
personagens habitualmente confusos e afetivamente problemáticos. Seus dramas,
sempre ambientados em uma classe social menos favorecida, apenas ganham ao se
afastarem do tom panfletário e esquemático de seu compatriota Ken Loach. Tendo
como suporte os excelentes diálogos e interpretações (sobretudo de Thewlis e
Cartlidge), além do discreto comentário musical, o filme é um tocante, honesto
e apaixonado retrato de personagens que se encontram distantes da usual
glamourização que o cinema faz inclusive de tipos marginais como os retratados,
evocando em seus melhores momentos – como nos diálogos entre o protagonista e
Brian ou entre este e a mulher que ele descobre da janela de um prédio – o
cinema de John Cassavetes. Em alguns raros momentos, no entanto, a
espontaneidade é sufocada pelo virtuosismo excessivo dos diálogos, soando
forçada e teatral. Prêmios de
ator e direção no Festival de Cannes. Thin Man Film/British Screen
Productions/Channel Four. 131 minutos.
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