Filme do Dia: Os Crimes de Diogo Alves (1909), João Freire Correia & Lino Ferreira
Os Crimes de Diogo Alves (Portugal,
1909). Direção: João Freire Correia & Lino Ferreira. Com: Carlos Leal,
Maria da Luz Veloso, Nascimento Fernandes, Lino Ferreira, João Tavares, Thomas
Vieira.
A cópia sobrevivente, aparentemente
com menos da metade de sua metragem original e sem nenhuma cartela, dessa que
para muitos é considerada a primeira produção ficcional portuguesa, torna-se,
tal como sobreviveu, um apanhado condensado de alguns crimes do grupo de Diogo
Alves (saber quem ele é em meio ao grupo é um exercício de adivinhação),
seguido pelo julgamento – em um momento no qual esse poderia ser apresentado
isoladamente, mais uma vez é o grupo que ganha proeminência, em perfeita
síntese com uma cinematografia ainda bastante vinculada ao chamado “cinema de
atrações”, imperativo anos antes nas
indústrias cinematográficas de proa. Enquanto pela época o suspense já começava
a ser potencializado através do uso da montagem paralela, aqui a cena que se
pressupõe ter o mais interesse nesse quesito mais próxima parece dos primeiros
filmes dos Lumière, com o espectador acompanhando, tal como os larápios, um
grupo de mulheres se aproximar de onde se encontram para ataca-las e joga-las
do alto, em uma bela composição de cena com enorme profundidade de campo; faz
uso de um recurso demasiado habitual então (e talvez desde então, mas
particularmente à época) de tirar proveito de um crime célebre enquanto
publicidade gratuita. No caso da cena mais violenta, em que as mulheres são
jogadas do alto, somos poupados (ao menos na versão existente) de qualquer
trucagem tosca com um boneco após parada de câmera e substituição (tal como em O Grande Roubo do Trem) por cortes justamente no momento em
questão, seguidos por imagens em que os personagens já observam suas vítimas
fora do quadro. Tal cena foi filmada no Aqueduto das Águas Livres de Lisboa. E
parece enfatizar o caráter obstinadamente cruel dos bandidos, que matam
barbaramente suas vítimas para roubar uma trouxa de roupa que uma das mulheres
carregam. Destaque para o patético
momento em que parte do grupo adentra uma residência em meio a refeição e
ninguém se apercebe até o ataque. Portugália Film. 7 minutos e 34 segundos.
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