O Dicionário Biográfico de Cinema#231: Arnold Schwarzenegger
Arnold Schwarzenegger, n. Graz, Áustria
Lembro como um amigo voltou de uma visita ao set de Stay Hungry [O Guarda Costas] (76, Bob Rafelson) com relatos de que o nada desatento Rafelson estava dizendo que este hulk de nome impossível era a pessoa mais inteligente no filme e que teria algum futuro. Quinze anos depois, penso que sabemos qual. Mas considerem: Arnold pode ter mais sonhos ainda por trás daquele sorriso sinuoso.
Nunca havia existido antes um astro americano com um nome que as pessoas temiam pronunciar, quanto mais soletrar. Nunca havia existido um "grande" Arnold no cinema. O que havia tido como mais próximo no passado de um fisiculturista no cinema foi Johnny Weissmuller, Steve Reeves ou Victor Mature - que é o mesmo que dizer, demasiado longe já. Por comparação, Arnold é um novo homem, um novo corpo, um verdadeiro bombado de aço onde o grande Mature raramente teria levantado qualquer coisa mais pesada que um copo ou um bebê agitado, para propósitos de sardônica inspeção. Arnold está além da realidade, além dos próprios corpos, e ele sabe disso. Quão belamente ele coincide com e os píncaros da paixão cinematográfica por homens mecânicos, ou robôs insurgentes.
Se você duvida desta inclinação genética, lembre-se dos halteres de abuso e zombaria que teve que levantar alegremente para alguns despejos da alma, sem culpa aparente, ódio ou desalento. Ele sorriu ainda mais e se tornou um príncipe monolítico auto-zombeteiro, um amigo dos Bushs, e um Kennedy por casamento (com Maria Shriver). Pode atravessar paredes. Supomos que Ross Perot o pegasse como Secretário de Treinos e Exercícios? E me pergunto se, apesar de toda a bonomia, não há ainda uma semente de vingança - uma semente enquanto revolucionário, como aquele Jack tem para com sua vaca.
A lenda é que foi uma criança frágil - ou você pode acreditar que foi encontrado, plenamente formado, como agente, em uma caverna numa montanha dos Alpes. Tudo que você tem que fazer é acreditar em algo. Noites na academia o levaram a competições e títulos: foi um Mr. Europa júnior, Mr. Mundo, cinco vezes Mr. Universo e sete vezes Mr. Olympia. Esta fase de sua vida foi deliciosamente revelada no documentário Pumping Iron [O Homem dos Músculos de Aço] (77, George Butler e Robert Fiore), derivado de um livro de Butler e do romancista Charles Gaines. Fosse Gaines o roteirista de O Guarda Costas, e ajudaria Arnold em filmes verdadeiros. Antes disso, havia aparecido (como Arnold Strong) em Hercules in New York (70, Arthur Allan Seidelman), e foi guarda-costas para Mark Rydell em The Long Goodbye [O Perigoso Adeus] (73, Robert Altman).
Interpretou The Villain [Cactus Jack, o Vilão] (79, Hal Needham), e na TV foi Mickey Hargitay para Loni Anderson em The Jayne Mansfield Story [Jayne Mansfield: Símbolo Sexual] (80, Dick Lowry). Seu passo adiante foi o estúpido, mas violento e sucesso nas bilheterias Conan the Barbarian [Conan, o Bárbaro] (82, John Milius), seguido pelo atroz Conan the Destroyer [Conan, o Destruidor] (84, Richard Fleischer). Então, pela primeira vez interpretou um personagem não nascido de uma mulher: The Terminator [O Exterminador do Futuro] (84, James Cameron). Com a ajuda de Cameron, encontrou o humor e mesmo certo páthos na robótica, e foi uma grande parte da originalidade do filme.
Houve diversas más considerações de elenco em seu novo status: Commando [Comando para Matar] (85, Mark L. Lester); Red Sonja [Guerreiros de Fogo] (85, Fleischer); Red Deal [Jogo Bruto] (86, John Irvin); The Running Man [O Sobrevivente] (87, Paul Michael Gleaser); Predator [O Predator] (87, John McTiernan); e Red Heat [Inferno Vermelho] (88, Walter Hill).
Twins [Irmãos Gêmeos] (88, Ivan Reitman) foi outro avanço, uma comédia na qual fez parceria com Danny DeVito: eles interpretaram gêmeos que são produto de um experimento equivocado - novamente seu nascimento foi além do normal. Total Recall [O Vingador do Futuro] (90, Paul Verhoeven) também o elencou em um ser interferido pela ciência: o filme foi caro, mas foi um estrondo e Arnold ganhou 10 milhões de dólares e 15% das bilheterias.
Kindergarten Cop [Um Tira no Jardim da Infância] (90, Reitman) foi excessivamente cortado - ele foi posto junto de crianças precoces - mas as crianças o amaram, e o filme encontrou uma sutil imperícia em Arnold. Isto sumiu a tempo de Terminator 2 [O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final] (91, Cameron), mais que tudo. Mas The Last Action Hero [O Último Grande Herói] (93, McTiernan) foi um fracasso grande e mortificante, que pôs muitos outros projetos do mesmo estúdio em um freezer.
Começou a dirigir, mais da maneira de um gigante segurando uma criança, com grande precaução e potencial para charme: fez um episódio para Tales from the Crypt [Contos da Cripta] (91) e Christmas in Connecticut [Um Natal em Connecticut] (92), para a TNT. Mas ele havia sido um aprendiz no passado. O que o mundo faria se, ao aprender a explicação de que ninguém nascido em Graz, Áustria, poderia ser presidente, Arnold respondesse, "Por que baby?" Paul Verhoeven uma vez disse que este homem poderia ser tão grande quanto Charlton Heston, que pode ser o único caso registrado da ingenuidade de Verhoeven.
Em 1994 fez True Lies (Cameron) e Junior [Júnior] (Reitman), uma mescla de seu intrigante anseio de ser fofinho e durão ao mesmo tempo - com o traço de algo além de humano. De fato, em uma época de mais e mais andróides no cinema, Arnold parece ter uma vantagem dada por Deus (ou pela Áustria). Interpretou novamente para o mercado infantil em Jingle All the Way [Um Herói de Brinquedo] (96, Brian Levant) e esteve bastante divertido como Mr. Freeze em Batman & Robin (97, Joel Schumacher). Mas então esmoreceu: possui uma condição cardíaca, o que provou ter um coração. Trabalhou muito menos e no esforço de End of Days [Fim dos Dias] (99, Peter Hyams) e The 6th Day [O 6° Dia] (00, Roger Spottiswoode), poderia ter feito menos até.
Recuperou-se, ainda que Collateral Damage [Efeito Colateral] (02, Andrew Davis) foi atrasado, e Terminator 3 [O Exterminador do Futuro 3] (03, Jonathan Mostow) foi um sério fracasso de bilheteria (assim como uma vil traição dos dois primeiros T). Arnold parecia desgastado, um pouco flácido e muito cozido. Nada foi deixado de lado, além da "vida real", e então Arnold desceu como um anjo vingador contra o governador da Califórnia, Gray Davis. A despeito de chamar o estado de "Kal-ee-fornya" em cada discurso, Arnold foi eleito governador e, portanto, desenvolveu uma simpatia secreta pelos apuros de Davis e repetiu alguns de seus discursos e estratagemas. Não é tão distante dos dias removidos da Freedonia, mas menos divertido.
Esteve distante de ser o pior governador da Califórnia, e apresentou um instinto de produtor para realizar coisas complicadas. Mas então provou ser um demônio ou um grande amante e pior que tudo, traiu sua popular esposa Kennedy, Maria Shriver. O que ele poderia fazer, além de mancar de volta ao cinema como um hulk envelhecido e desacreditado? The Expendables [Os Mercenários] (10, Sylvester Stallone); The Expendables 2 [Os Mercenários 2] (12, Simon West); The Last Stand [O Último Desafio] (13, Kim Jee-Woon); Escape Plan [Rota de Fuga] (13, Mikael Hafström). Aliás, não há projetos, e poucas companhias, exceto Stallone? O que faz além de esperar ser traído pelo próprio corpo?
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Cinema. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2388-2391
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