Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#99: Whisky

 


WHISKY (Uruguai, 2004). O primeiro grande sucesso global do cinema uruguaio foi Whisky, que seguiu sua dupla premiação na Mostra Un Certain Regard, do Festival de Cannes, sendo distribuído em vinte países, ganhando outras prêmios em oito festivais internacionais de cinema, e recebendo os prêmios Ariel (México) e Goya (Espanha) da indústria cinematográfica. 

Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll seguiram a seu primeiro longa divisor de águas, 25 Watts (2001), Whisky  (pronuncia Weekee em espanhol), sendo o equivalente uruguaio para a exortação de língua inglesa "cheese", para fazer o sujeito de uma fotografia sorrir. Os realizadores, juntamente com o produtor Fernando Epstein, montaram sua própria companhia, Control Z Films, para distribuir 25 Watts e co-produzir outros. Conseguiram administrar recursos do Fondo Montevideo para El Fomento y Desarollo de la Producción Audiovisual (FONA) e então atraíram co-produtores da Espanha (Wanda Visión S.A.), Rizoma Filmes (Argentina), e Pandora Filmproduktion (Alemanha). O filme finalizado é mais profissional e esteticamente agradável que sua primeira obra e notavelmente integra comédia e drama. 

Jacobo (Andrés Pazos), um judeu de meia-idade, administra uma fábrica de meias em Montevideu. Ele segue as mesmas rotinas todo dia: levantar-se, dirigir-se à fábrica, ligar as máquinas, e tomar seu chá, sempre feito e servido pela um pouco mais jovem Marta (Mirella Pascual), sua leal administradora. Esta relação não vai além do local de trabalho. Quando seu irmão Herman (Jorge Bolani) chega do Brasil para cuidar da lápide da mãe, Jacobo finge ser casado com Marta, e ela concorda com a armação. A situação se complica quando os três vão ao velho luxuoso Hotel Argentino, dos anos 30, no balneário deserto de Piriápolis, onde os únicos outros hóspedes são casais em lua-de-mel da Argentina. Herman, que também representa o Brasil é uma alma espirituosa, que consegue tirar Marta de sua introversão, e os diretores parecem sugerir, através do personagem de Jacobo, que o Uruugai é um país depressivo que funciona como "um nó do turismo e da indústria, um local aonde o dinheiro vai, mas não necessariamente permanece" (Martin-Jones e Montañez, 2009). Tanto Jacobo quanto Marta se transformam com a experiência. Jacobo inesperadamente ganha uma fortuna no jogo de roleta, e dá a Marta seus ganhos. Mas ao final ela o deixa sozinho com sua fábrica.

Um dos componentes mais notáveis de Whisky é a fotografia da uruguaia Bábara Álvarez, que também filmou 25 Watts. Sua câmera permanece estática a maior parte do tempo, observando os personagens e seus ambientes, quase sempre interiores, em composições bastante chapadas. O estilo do filme, que contribui para sua atmosfera sombria e cômica, é frequentemente comparado a obra do realizador finlandês Aki Kaurismaki. Tal percepção confinada não permite perceber muito de Montevideu (ou Piriápolis) e talvez ajude com o apelo universal do filme, ainda que, como mencionado acima, existam muitas referências locais, incluindo seu depressivo protagonista, certamente moldado pela recente depressão econômica, enquanto Herman escapou para outro país. 

Infelizmente, Rebella cometeu suicídio, mas a Control Z Films continuou a existir e hoje floresce como talvez a companhia produtora líder do país. Realizou desde então La Perrera (The Dog Pound, 2006), dirigido por Manolo Nieto; El Custodio [The Custodian, 2006), de Rodrigo Moreno; e Gigante (2009), dirigido por Adrián Biniez, que venceu diversos prêmios, incluindo três em sua estréia em Berlim; assim como o último filme de Stoll, 3 (2012).

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 603-4.Whisk

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