Filme do Dia: A Santa de Coqueiros (1931), ?
A Santa de Coqueiros (Brasil, 1931).
Parece haver um caráter propenso a
motivar certo sensacionalismo nessa abordagem de uma pretensa santa do interior
de Minas Gerais, que tem gerado toda uma mobilização de romeiros de outras
partes do Estado (fenômeno aparentemente de alcance regional, o que também se
poderia entender pelos precários meios de comunicação da época); impressão essa
que se desfará posteriormente, quando uma cartela afirma sobre quase cinco mil
correspondências provenientes de todas as partes do Brasil em um só dia e
benzidas. Tal caráter sensacional surge
já nos primeiros planos, que se demoram em registrar a relativamente absurda
quantidade de veículos motorizados para uma povoação daquele porte. Ou ainda o
crédito que afirma sobre um verdadeiro “formigueiro humano” que se formaria nas
imediações da casa da mulher que é tida como milagrosa. Posteriormente se
observa a multidão humana que se forma ao redor da casa da mesma e, novamente,
uma quantidade (à época) exorbitante de veículos. O filme não se escusa em se
apresentar enquanto elemento participante do evento, já que dados sobre o
percurso para que se chegasse ao local são trazidos pelas cartelas,
referindo-se a um jornalista de A Noite,
que embora sendo mencionado pela mesma, é observado na imagem com outros
homens, sem que se saiba exatamente inicialmente quem seja (prática bastante
comum, décadas antes, no Primeiro Cinema), dúvida que é dirimida quando se
observa um dos homens a tomar notas. Quando a primeira imagem da “santa” surge,
ocorre sem o menor preâmbulo, mas já benzendo alguns romeiros, sorrindo e tendo
sua mão beijada. Com a fila enorme dos que buscam sua benção, assim como os
prováveis curiosos (pela Santa? Pela filmagem? Por ambas?) ao redor, é
impossível que seja dispensado um tratamento minimamente particularizado aos
romeiros. Observa-se que entre os fiéis se tem desde pessoas negras com vestimentas
humildes até homens brancos empaletozados. O próprio filme é que faz questão de
destacar um “aleijado que vem de automóvel de Itajubá” e a mulher se desloca
até o veículo para molhá-lo com sua água benta. A determinado momento, a
curiosidade da mulher pelo fato de estar sendo filmada não é disfarçada,
direcionando ela o olhar para a objetiva da câmera. Situação que quando volta a
ocorrer parece apresentar certo incômodo da curandeira com a presença dessa e
um gesto de um homem mais próximo que parece pedir que o operador se retire.
Talvez nenhuma imagem seja mais interessante que a da pretensa milagrosa
filmada à contraluz, com o véu branco que a recobre provocar um efeito de halo
de luz de um sol provavelmente forte – é observado pouco antes várias pessoas
portando guarda-chuvas – a destaca-la, no campo da imagem como algo incorpórea
em meio a tanta materialidade bruta que a circunda. Quando a quantidade de água
ou correspondência é demasiado numerosa, a mulher benze coletivamente as
mesmas, e talvez lhe poupasse tempo se todos se servissem diretamente da água
benta por ela ao início da manhã, como muitos fazem, do que esperarem para
serem bentos por ela própria. A própria ciência parece se render às evidências,
quando uma comissão científica formada por três homens conversam com Manoelina, a mulher que se diz dotada de
poderes inexplicáveis, examina vários
dos que se dizem curados ou em situação bem melhor do que estavam antes do
contato com a “santa”. A última cartela parece mais cautelosa, quando comenta
que os romeiros voltam sorridentes (talvez por “sugestão”) depois de terem sido
bentos por Manoelina, após chegarem angustiados com seus males. Dividido em
duas partes, equivalentes muito possivelmente aos dois rolos de filmes. Empresa
A. Sonschein para Empresa Carlos Penteado. 22 minutos.
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