Diretoras de Cinema#13: Babette Mangolte

 


MANGOLTE, Babette (1941-). França/EUA. Nascida na França, Babette Mangolte é uma realizadora independente americana e também renomada cinegrafista. Enquanto diretora de fotografia, Mangolte filmou muitos clássicos filmes feministas, incluindo Jeanne Dielman (1974), e News from Home (1976), de Chantal Akerman, Film About a Woman Who...(1974) de Yvonne Rainer, e The Gold Diggers [À Procura do Ouro] (1983). Mangolte também dirigiu quatro filmes: What Maisie Knew, The Camera: Je or La Camera: I (1977), The Cold Eye (My Darling, Be Careful) (1980) e The Sky on Location (1982). Mangolte é uma realizadora cinegrafista. Sua obra modifica os procedimentos cinematográficos padrões. Ela frequentemente joga com estratégias formalistas e minimalistas. O que não é surpreendente já que Mangolte trabalhou com Michael Snow e  Chantal Akerman, ambos formalistas em estilo. What Maisie Knew tem mais em comum com o filme de Akerman, no entanto, que com Michael Snow. A estrutura do filme, uma adaptação bastante livre do romance de Henry James, faz uso do plano-sequencia formalista; no entanto, a mise-en-scène de What Maisie Knew é erótica e estranhamente bem humorada, mais antenada com os filmes de Chantal Akerman. Em What Maisie Knew, Babette Mangolte brinca com o espectador para nos convencer de que tudo é filmado do ponto de vista de uma garota jovem. O filme captura a atenção da cena cinematográfica underground e foi exibido no Whitney Museum of American Art.

O filme seguinte de Mangolte, The Camera: Je or Le Camera:I, é um longa experimental sobre a vida de uma fotógrafa. Muito do filme são imagens de modelos masculinos, redefinindo o olhar masculino sobre um corpo masculino objetificado prescrutado por uma câmera/olho femininos. A mudança é sublinhada pela ênfase contínua no processo, que nos ancora no domínio da subjetividade feminina, a subjetividade da diretora mulher. Como Lauren Rabinovitz observa, as diretoras e artistas vanguardistas como Mangolde são problemáticas para os olhares dos repórteres masculinos porque localizam posições de "recusa do olhar masculino". (p. 10) A recepção destes filmes enquanto filmes dirigidos por mulheres, de acordo com Rabinovitz, "sempre prefigura a possibilidade de contenção de suas práticas cinematográficas mais radicais" (p. 10). The Camera: Je or La Camera:I é uma reconfiguração radical de um cinema que não pode ser desentranhado da política de gênero. Negar o envolvimento de Mangolte com a política sexual do cinema underground seria reduzir The Camera: Je or La Camera: I a apenas outro filme auto-reflexivo sobre uma artista. O fato de um filme de e sobre uma artista é parte de uma estética radical do cinema a negar contenção. The Camera: Je or La Camera: I é o filme favorito de Mangolte, como conta a Scott MacDonald: 

                                   Penso que é o meu filme mais original em termos de forma. E é também sobre meu envolvimento                                                profundo com a fotografia fixa (...) como todo mundo, fui mais diretamente a minha experiência                                                  mais imediata. Um tema que não sinto  ter sido efetivamente tratado no filme, é o  processo da obra.                                            (p. 287)

The Camera: Je or La Camera: I foi exibido no Museu de Arte Moderna de Nova York e na televisão francesa. O longa subsequente de Mangolte, The Cold Eye (My Darling, Be Careful) (1980), é um filme de narrativa mais convencional, ainda que de algum modo minimalista e difícil. The Cold Eye (My Darling, Be Careful) é contado da perspectiva de Cathy Digsby, uma jovem pintora, que escutamos fora do quadro, mas nunca vemos. O filme opera em um nível de discurso feminino, no qual a mulher "não é centrada no caráter ou fetiche psíquico, mas na voz ouvida intermitentemente em meio aos discursos sociais atraídos para o texto de um filme" (Gledhill, p. 118). Babette Mangolte nos lembra com The Cold Eye (My Darling, Be Careful) que a "identidade, como o real, é um lugar de negociação social e cultural", como Christine Gledhill observa (p. 121). Ser uma artista independente leva a uma contínua renegociação da identidade. Mangolte expressa insatisfação com o filme em uma entrevista com Scott MacDonald: "Por não ter muito dinheiro, criei atalhos" (p. 291) A despeito dos problemas financeiros, The Cold Eye (My Darling, Be Careful) se dirige a questão mais básica do cinema feminista radical: como se pode evitar objetificar à imagem feminina. Mangolte, através de um complexo sistema de estratégias de evitações, usa uma narração em off e recorre a cortes secundários. Enquanto finalizava The Cold Eye, Mangolte foi financiada pela televisão alemã para dirigir The Sky on Location, um travelogue experimental. Em The Sky on Location, o espectador é posto na difícil posição de ler textos e visuais que não combinam no sentido das narrativas tradicionalmente construídas.

Mangolte veio da França à Nova York buscando uma carreira no cinema, já que sempre foi capaz de encontrar trabalho como fotógrafa. Na verdade, pretendia permanecer em Nova York somente por uns poucos meses "para ver os filmes de Brakhage e Snow" (MacDonald, p. 295), mas acabou ficando por diversos anos. Mangolte tem se envolvido com dança e teatro em acréscimo a fotografia e cinematografia, mas ela agora se dedica mais a realizar filmes que a fotografá-los. Os filmes independentes de Babette Mangolte são extraordinariamente difíceis, de fato se encontrem entre alguns dos mais radicais afastamentos da narrativa no cinema independente.

Filmografia Selecionada

What Maisie Knew (1975)

 Now (or Maintenant entre parentheses) (1976) 

 The Camera: Je or La Camera: I (1977) 

 Water Motor (1978) 

 There? Where? (1979) 

 The Cold Eye (My Darling, Be Careful) (1980) 

 The Sky on Location (1982)

                     

BIBLIOGRAFIA SELECIONADA

Camera Obscura Collective. "Interview with Babette Mangolte." Camera Obscura 3.4 (summer 1979): 198-210. 

 de Lauretis, Teresa. Technologies of Gender. Bloomington: Indiana University Press, 1987. 

 MARSHALL, PENNY Film-Makers' Cooperative. Film-Makers' Cooperative Catalogue 7. New York: Film-Makers' Cooperative, 1989. 

 Gledhill, Christine. "Image and Voice: Approaches to Marxist-Feminist Film Criticism." In Multiple Voices in Feminist Film Criticism, (org.) Diane Carson, Linda Dittmar, and Janice Welsch, 109-23. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1994. 

 MacDonald, Scott. A Critical Cinema: Interviews with Independent Filmmakers. Berkeley: University of California Press, 1988. 

 Mayne, Judith. The Woman at the Keyhole: Feminism and Women's Cinema. Bloomington: Indiana University Press, 1990. 

 Quart, Barbara. Women Directors: The Emergence of a New Cinema. New York: Praeger, 1988. 

 Rabinovitz, Lauren. Points of Resistance: Women, Power & Politics in the New York Avant-Garde Cinema, 1943-71. Urbana: University of Illinois Press, 1991. 

 Turim, Maureen. Abstraction in Avant-Garde Film. Ann Arbor: UMI Research Press, 1985.


Texto: Foster, Gwendolyn Audrey. Women Film Directors. Westport: Greenwood Publishing, 1995, pp. 239-42.     

                                      

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