Filme do Dia: The Raw Ones (1965), John Lamb

 


The Raw Ones (EUA, 1965). Direção: John Lamb. Fotografia: Jack Hill & Robert Wilson. Montagem: Jack Hill.

Sob o pretexto de se tratar de uma produção com propósitos “educacionais” sobre o nudismo, o filme talvez tenha se tornado o mais ousado – e provavelmente disputado à época – dos célebres nudies, produções que exploravam a nudez, aqui quase indiscriminadamente entre rapazes e moças (essas se encontram em maior quantidade), e aparentemente o primeiro no formato longa-metragem. Não falta a voz over para trazer comentários que pretenderiam um verniz intelectual que vão de Freud a Rousseau, assim como Thomas Jefferson (no que diz respeito à liberdade de expressão). E que afirma se tratarem de famílias (em muitos poucos momentos se observa crianças, menos que animais) que viajam centenas de quilômetros para compartilharem desse momento de despojamento coletivo, passando por como diversas sociedades e culturas lidam com a nudez, quando, na verdade, os espectadores da época deveriam estar completamente desligados da banda sonora, apenas observando o verdadeiro banquete voyeurístico que acompanha suas imagens do início ao final, por vezes chegando a se esquecer de sua grave voz over, como em longos momentos de fruição na piscina – antecipadores em duas décadas das cenas mais pudicas do grande sucesso comercial que foi A Lagoa Azul. Menos ausente na banda sonora são os temas clássicos, incluindo  O Lago dos Cisnes, que, tal como os corpos nus, estão presentes sem exceção, em todos os planos do filme. Quando se liga o áudio às imagens, no entanto, fica mais divertido, pois se tem momentos como o que se discute as liberdades individuais e o livre discurso, apoiado em nomes como o de Havelock Ellis, psicólogo que se dedicou a sexualidade humana,  enquanto se observa o grupo de nudistas se banquetear com melancias em meio ao recanto de águas em que se encontram. Observando-se contar na ficha técnica com um diretor como Lamb, que havia dirigido filmes como Mermaids of Tiburon (1962), e um fotógrafo-montador como Hill, adepto de todas as formas de sensacionalismo e posteriormente cineasta do conhecido blackexplotation Foxy Brown, que se tornaria cult após ser comentado por Tarantino (Jackie Brown). O “elenco” é aparentemente composto de um misto de atores, estudantes, modelos e verdadeiros nudistas – e uma das características a imediatamente chamar a atenção, e o diferenciar de qualquer local nudista, é a ausência de pessoas de mais idade ou de corpos menos atrativos. Em um único momento o grupo aparece subversivamente vestido, apenas para rapidamente se desfazer de suas roupas e proporcionar esse bônus extra para seu público. Há determinado momento, brinca-se com a fantasia do grupo incorporar indígenas, com mulheres e uma criança com arco e flexa, em meio as águas que vem de uma cachoeira. Noutro momento, tal relação é trabalhada de forma um pouco menos direta, com boa parte do grupo em volta da carne de um churrasco, acrescendo ao que seria um hábito comum da classe média norte-americana da época o vestígio pré-histórico. Embora não exista a idealização excessiva do corpo físico quanto os filmes nudistas alemães de retórica ariana de três décadas antes – produção essa que parece não ter resistido ao tempo ou sido divulgada (há não ser em trechos de documentários como O Mito daEterna Beleza) não seria muito diferente daqueles, inclusive no voyeurismo disfarçado de mero interesse cultural, ainda que provavelmente nesses filmes soe ainda mais escrachado o aparente propósito de seu resultado final. E certamente mais sexualizado que os corpos desnudos que aparecem em eventos registrados pelo cinema poucos anos após, associados a contracultura e os festivais de rock. Destaque para o momento em que um membro da equipe técnica, completamente vestido (seria o fotógrafo Jack Hill?)  atravessa rapidamente o campo visual da câmera.  Trata-se da versão lançada em DVD, com 7 minutos a menos que a original. Pacifica Films. 68 minutos.

 

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