Filme do Dia: O Homem das Mil Caras (1957), Joseph Pevney

 


O Homem das Mil Caras (Man of a Thousand Faces, EUA, 1957). Direção: Joseph Pevney. Rot. Original: R. Wright Campbell, Ivan Goff & Ben Roberts, a partir do argumento de Ralph Wheelwright. Fotografia: Russell Metty. Música: Frank Skinner. Montagem: Ted J. Kent. Dir. de arte: Alexander Golitzen & Eric Orbom. Cenografia: Russell A. Gaussman & Julia Heron. Figurinos: Bill Thomas. Com: James Cagney, Dorothy Malone, Jane Greer, Marjorie Rambeau, Jim Backus, Robert Evans, Cealia Lovsky, Jeanne Cagney, Roger Smith, Nolan Leary, Robert Lyden, Richard Sorensen, Dennis Rush.

Lon Chaney (Cagney) não consegue maiores progressos em sua carreira de ator no vaudeville por ser fiel a sua companheira de trabalho e esposa, Cleva (Malone). Essa, no entanto, ao se encontrar grávida e ficar sabendo que os pais (Lovsky e Leary) de Lon são surdos-mudos, enfurece-se com ele, achando que há possibilidades grandes de seu filho também sê-lo. O filho nasce normal, no entanto, como Lon e seus irmãos. Cleva, no entanto, vive em conflito com Lon, porque também pretende seguir sua carreira. A de ambos recebe um baque quando Cleva engole ácido, prejudicando irremediavelmente suas cordas vocais e arruinando com sua bem-sucedida carreira de cantora. Lon parte para Los Angeles e inicia uma trajetória de relativamente rápida fama, unindo-se a Hazel (Greer), antiga colega do meio teatral e extremamente devota a seu filho, Craighton (Rush, Sorensen e Lynden). O casal decide se unir. Porém, à sombra de Cleva, que volta a ser aproximar da família e fica espiando o filho à dstância. Quando o filho sabe que a mãe não se encontra morta, decide ir morar com ela, para o extremo pesar de Lon. Próximo de sua morte, pai e filho se reconciliam.

Desde o seu prólogo, o tom apolegético que é dedicado ao seu biografado sugere uma produção demasiado laudatória para sequer se aproximar da releitura que Hollywood efetuava na década de seu passado silencioso (Crepúsculo dos Deuses) ou sonoro (Nasce uma Estrela),  ou no momento de transição de um para o outro (Cantando na Chuva). Felizmente, o filme demonstra ser algo além disso, apesar de sua conservadora postura em relação à Cleva de Malone, tornada vilã por não dar a atenção parental que o pai tampouco dava, por conta de ambos estarem presos aos compromissos de suas carreiras – porém, enquanto ela surge enquanto ególatra e infiel, ele como muito mais preocupado com o filho. De toda forma o filme consegue erigir paralelos interessantes, como os de Lon e Hazel terem se casado com figuras cujas inaptidões contraídas ao longo da união – o ex-marido dela não tem pernas, Cleva perde as cordas vocais (em uma cena de intromissão ao mundo do espetáculo evocativa, embora bem menos inteligente, a do filme de Cukor), justamente aquilo que a aterrorizava na família Chaney. Hazel, em contraposição, é construída como uma mulher bem mais dedicada e subordinada. Exageros previsíveis se concretizam tanto nas interpretações quanto – e principalmente – na muito provável licença imagética de representar a casa dos pais de Chaney como de uma classe média afluente e respeitável. E a despedida de seu filho, mais parece uma referência consciente aos melodramas mudos ou cenas melodramáticas em filmes cômicos (O Garoto, de Chaplin). E o próprio sucesso rápido de Loney no cinema mudo tampouco deixa de ser vinculao ao fato dele ter desde a mais tenra idade que se expressar com os pais na linguagem dos surdos-mudos, há um passo da pantomima que incorporará com gosto em sua profissão, desde os tempos do vaudeville. Porém, a seu modo, mais adiante, o filme “redime” Cleva, ainda que pela via da expiação do arrependimento de sua postura arrogante prévia. E apresenta um Lon demasiado turrão e inflexível.  Dentre os vários filmes mais famosos de Chaney,  reconstitui-se pobremente a passagem mais célebre de O Fantasma da Ópera (1925). Boa parte do filme Cagney interpreta com maquiagem pesada e, a determinado momento, o contraste entre sua maquiagem de palhaço e a situação dramática que vivencia torna-se por demais evocativa do então recente Nasce uma Estrela, agora na pele de um homem.  Universal International Pictures para Universal Pictures. 122 minutos.

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