Filme do Dia: A Grande Viagem (2004), Ismaël Ferroukhi
A Grande Viagem (Le Grand Voyage, França/Marrocos, 2004). Direção e Rot. Original:
Ismaël Ferroukhi. Fotografia: Katell Djian. Música: Fowzi Guerdjou. Montagem:
Tina Baz. Cenografia: Gilles Tissot. Figurinos: Christine Boltes. Com: Nicolas
Cazolé, Mohamed Mayd, Jakcy Nercessian, Ghina Ognianova, Kanel Belgazhi, Atik
Mohamed, Malika Messar el Hadaorei, François Boroni.
Redá (Cazalé) é um jovem que abandona
temporariamente a escola para satisfazer o desejo do pai (Mayd), muçulmano
ortodoxo, de conhecer Meca. Para o pai a viagem só ganha sentido de
peregrinação se forem de carro. Atravessam a França, Itália, Bulgária, Eslovênia,
Croácia, até chegarem a Turquia. Lá acabam sendo vítimas do trapaceiro Mustafá
(Nercessian), que facilita a entrada deles em solo turco. A situação de tensão
explode quando o pai estapeia o filho, que tomara a esmola que o pai oferecera
a uma mulher, reclamando que eles próprios mal tinham o que comer. Após
atravessarem a Jordânia e o Líbano e, finalmente, chegarem a Meca, o pai
demonstra gratidão pelo filho ter sido indispensável na realização de seu
último desejo, morrendo no primeiro dia de peregrinação.
Bem interpretado e com bom senso
rítmico, o filme de Ferroukhi acaba se ressentindo da polaridade por demais
esquemática entre as gerações. Sua metáfora da sábia tradição oriental
ensinando algo de humano, apesar da rudeza, para uma juventude ocidental completamente
voltada para o próprio umbigo é, em última instância, simplista e mesmo
conservadora. Tal dimensão fica explicitada próximo ao final do filme quando
Redá, tendo “aprendido a lição”, dá uma esmola a uma pedinte, antes de embarcar
de volta para casa. Em termos narrativos, o filme também é prejudicado pela
mudança abrupta de registro, passando de comédia de situações (que tem seu na
auge na hilária seqüência em que Redá deixa escapar um carneiro comprado pelo
pai) para um lancinante drama, com a previsível morte do pai. Sua morte apenas
reforça um sentimenot de culpa no protagonista menos potencialmente libertador
que o oposto. A trilha sonora, por sua vez, acentua o tom sentimental e de
conciliação final entre as gerações – após vários momentos de tensão de ambas
as partes, o pai reconhece a diferença do filho ao lhe devolver a foto de sua
namorada francesa. Ognon
Pictures/Arte France Cinéma/Soread-2M/Casablanca Film Prod./Les Films du
Passage/Sofilm/Alfa Film. 108 minutos.
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