Filme do Dia: Um Lugar Silencioso (2018), John Krasinski
Um
Lugar Silencioso (A Quiet Place, EUA,
2018). Direção: John
Krasinski. Rot. Original: Brian Woods, Scott Beck & John Krasinski, a
partir do argumento de Woods e Beck. Fotografia: Charlottte Bruus
Christensen. Música: Marco Beltrami. Montagem: Christopher Tellefsen. Dir. de arte: Jeffrey Beecroft & Sebastian
Schroeder. Cenografia: Heather Loeffler. Figurinos: Kasia Walicka-Maimone. Com:
Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds, Noah Jupe, Cade Woodward, Leon
Russom.
Em um mundo no qual os poucos humanos
sobreviventes vivem atormentados com a possibilidade de que qualquer ruído
possa lhes ser o passaporte para a morte abrupta e violenta, nas garras de
bestas aladas que agem com a rapidez de um piscar de olhos ou de uma colisão no
tráfego, Lee Abbot (Krasinski) e sua esposa Evelyn (Blunt), tentam se manter
vivos e cuidar dos filhos Regan (Simmonds) e Marcus (Jupe).
Se a distopia apocalíptica das cenas iniciais
poderia lembrar, em bem menor escala, a que uma produção de maior porte à sua
época, conseguiu de Nova York em tempos ainda distantes do CGI, como A Última Esperança da Terra (1971), o
messianismo já existente naquele se torna ainda mais acentuado pela presença de
uma família de moldes cristãos (e também robinsonescos!!). Pretendendo
provavelmente ser inovador na restrição que impõe a seus atores, de utilizar a
linguagem dos sinais ao invés de diálogos convencionais, a primeira fala
somente sendo ouvida com 38 minutos de filme, e não muitas ocorrendo até vinte
minutos após, o resultado final dessa restrição soa bem menos efetivo que a de
uma produção contemporânea que abdica de forma mais radical de elementos comuns
ao cinema desde a invenção do som, que é do casamento entre imagem e som, ao
mesmo plano no caso dos interlocutores ausentes de Culpa. Aqui a gestualidade excessiva habitualmente dramática e,
pior que isso, a vulgar trilha sonora, acenam para um lugar-comum com
pretensões de ser bem mais que de fato são. Idem para as câmeras que correm na
mesma pressa desesperada do garoto, sob a iminência de ser capturado pelas
bestas. Lógico que o filme a todo momento testa os limites humanos da dor, seja
ela emocional (caso do senhor que observa outro morto) ou física (um corte no
pé com vidro, um parto, os ruídos de um bebê, etc.). O ápice da verve cristã se
dá quando o pai doa sua vida para salvar não o mundo humano, mas sua família,
mas com implicações que apontam para uma provável luz no fim do túnel. E o faz
da forma mais pateticamente sentimental possível. Ao se ter como horizonte uma
única família, tem-se uma medida dos contemporâneos tempos conservadores a essa
produção, que já não pensa em termos de uma visão global, sobre o qual apenas
sabemos que também se encontra em situação aparentemente tão calamitosa quanto
e tampouco o herói era um indivíduo para quem a família era mero – e breve,
diga-se de passagem - aceno de
nostalgia, no filme dos anos 70. E o status quo familiar, levemente
ameaçado de ruptura, com a rebelde filha adolescente, rapidamente se volta a
unir com força após a morte de seu líder. Não sem antes ter plantado sua
semente, que Evelyn tem em condições precárias (evocativas das de Filhos da Esperança) e ainda com o perturbador agravante de não
poder gemer. Platinun Dunes/Sunday
Night/Paramount Pictures para Paramount Pictures. 90 minutos.
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