Filme do Dia: Queda Livre (2013), Stephan Lacant

 



Queda Livre (Freier Fall, Alemanha, 2013). Direção: Stephan Lacant. Rot. Original: Stephan Lacant & Karsten Dahlem. Fotografia: Sten Mende. Música: Montagem: Monika Schindler. Dir. de arte: Petra Bock-Hofbauer. Cenografia: Bele Schneider. Figurinos: Bettina Marx. Com: Hanno Koffler, Max Riemelt, Katharina Schüttler, Attila Borlan, Stephanie Schönfeld, Oliver Bröcker, Luis Lamprecht, Maren Kroymann.

Marc Borgmann (Koffler) é casado com Bettina (Schüttler). O casal está em vias de ser pai/mãe pela primeira vez. Borgmann, que é policial, treina para passar em um teste e ascender profissionalmente. Sua maior dificuldade é com a corrida, que o novato Kay Engel (Riemelt), ajuda-o. Porém, brincando com Marc, Kay beija-lhe na boca, o que provoca um momento inicial de retração de Marc. Corridas posteriores farão viver uma intensa relação amorosa com o colega de profissão. Mas também as tensões, que se tornam crescentes, em um ambiente grandemente homofóbico e vinculado à corporação, que inclui os pais de Marc, Wolfgang (Lamprecht) e Inge (Kroymann), e os vizinhos  Frank (Bröcker) e Claudia (Schönfeld) Richter. Sobretudo após a descoberta da homossexualidade de Kay, que havia dividido quarto no alojamento da polícia com Marc.

Desde o início, o espectador pode ficar imaginando talvez menos como Marc resolverá esse dilema, que como os realizadores do filme lidarão com o imbróglio e antecipando algumas saídas possíveis. Construído numa atmosfera que ressalta o crescendo de tensão, consegue se desvencilhar de algumas saídas mais facilmente clichês, como o da formação do novo casal, após o escândalo de todos próximos saberem da relação de ambos. Não é o caso. De fato, o filme opera com um final sinalizando para uma tomada de posição inescapável de Marc, de buscar uma reconstrução de sua vida, nem com os pais, nem com a esposa e sem laivos de superação ou orgulho gay – aliás o personagem até o final não se identifica enquanto tal. Que se aproxima de uma produção como O Som do Silêncio (2020), em que a fase de “aceitação” de sua condição (lá de surdez, aqui de homossexualidade) parece se encontrar mais ou menos explícita na tomada de posição de seus protagonistas – lá de forma um pouco mais assertiva. Em ambas as produções se observa que alguns retornos já parecem impossíveis (lá o relacionamento e querer negar a surdez, aqui o relacionamento e talvez também a condição sexual), mas ambos os filmes nos poupam da redundância de se ir além – embora o anúncio de uma continuação desse quase uma década após, no momento em que se escreve essas linhas, venha muito provavelmente a reconfigurar tais posições. Cumpre observar algumas lacunas que, mesmo sem serem o foco do drama, não propiciam que aceitemos de melhor grado como verossímil o que assistimos. Primeiro, a ausência de informações maiores sobre o cotidiano na instituição. De Marc, apenas sabemos que se encontra treinando e não muito mais. Não se escuta uma única conversa, sobre a rotina passada ou presente do grupo de policiais. E da relação entre Marc e Kay, não ficamos sabendo qual a cumplicidade que une tão intensamente os dois para além do sexo. E se resumindo ao último, somada a situação de auto-repressão e confusão com relação a sua sexualidade por Marc, com suas idas e voltas, que se manifestam de forma mais de uma vez agressiva com Kay, torna-se curioso que ele não consiga prazer em locais de sexo sem qualquer compromisso. Kurhaus Prod./SWR. 97 minutos.

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