Filme do Dia: A Arte de Ser Adulto (2020), Judd Apatow
A Arte de Ser
Adulto (The King of Staten Island, EUA, 2020). Direção Judd Apatow. Rot.
Original Jude Apatow, Pete Davidson & Dave Sirus. Fotografia Robert Elswit.
Música Michael Andrews. Montagem Jay Cassidy, William Kerr & Brian Scott
Olds. Dir. de arte Kevin Thompson & Nick Francone. Cenografia David
Schlesinger. Figurinos Sarah Mae Burton. Maquiagem e Cabelos Jill McKay &
Dennis Polanco. Com Pete Davidson, Marisa Tomei, Bill Burr, Bel Powley, Maude
Apatow, Steve Buscemi, Carla Aquilino,
Ricky Velez, Kevin Corrigan.
Em
Staten Island, Scott (Davidson) é um jovem de 24 anos a ter problemas de
conseguir um emprego e uma namorada. No impulso de fazer uma tatuagem em uma
criança, provoca a visita do pai dessa, Ray (Burr), que se torna o primeiro
amante da mãe em 17 anos de viuvez. Sua irmã mais jovem, Claire (Apatow) já se
tornou independente. Ele, pelo contrário, tem uma vaga ideia de trabalhar com
tatuagens e possui um grupo de amigos semelhante. Sua amiga de infância, Kelsey
(Powley), possui uma relação entre a amizade e o sexo eventual. Scott detesta o
namorado da mãe, e quando conhece a ex-mulher de Ray, Tara, o que era antipatia
pessoal passa a ter evidências de Ray ser um mau caráter. Ele sopra tudo a mãe
e a relação é desfeita, levando a uma briga entre Ray e Scott, presenciada pela
mãe, que expulsa ambos de casa. Após se virar como pode, tentando dormir na
varanda de uma casa, e sendo expulso da casa de Kelsey, quando esta descobre o
motivo primordial dele estar por lá, acaba sendo acolhido na sede local dos
bombeiros, onde busca a ajuda de Ray, e consegue mais empatia de outro, que
fora mais próximo de seu pai, e lhe conta certos causos dele, Papa (Buscemi), o
veterano do grupo. Aos poucos, ele conquista seu espaço, e ganha a admiração do
próprio Ray, de quem já havia despertado o mesmo, quando o vira em combate. O
episódio envolvendo um homem ferido em busca de socorro médico, voltará a fazer
com que reúna Ray a sua mãe. E ele agora consegue expressar os sentimentos
sobre a perda do pai, sempre sentida e também dizer que ama Kelsey.
Demasiado
próximo de ser um piloto de sitcom (ou dois pilotos, dada sua extensão) ou de
nos fazer lembrar o quão gentrificada e corporativa é a cultura e vida
estadunidenses para que esta produção com laivos de ser independente-original
seja tudo menos isso; sensação correta já que Apatow dirigiu, produziu e
escreveu diversas séries para a TV. Há um bom desempenho naturalista do elenco
e não se precisa ser paternalista quando se descobre que a pós-balzaquiana
extremamente charmosa e talentosa é...Marisa Tomei. E que o jovem ator que
vivencia seu filho de fato perdeu o pai bombeiro na queda das torres do WTC – a
pergunta a se fazer, sem cinismo, é se a utilização do próprio arsenal de
emoções torna um ator mais brilhante. E tudo flui como um rio, talvez flua até
demais, com suas gracinhas e tentativas de trazer um retrato da estranheza
juvenil de sua época (de forma mais banal e menos dramática que, a seu tempo, Juventude Transviada). E é por conta de ser tudo tão estandardizado nas terras do Tio
Sam que Scott pode soar como outsider. Dependendo do lugar, poderia ser
até demasiado estabelecido. E transformar todos os outros personagens em por
demais ajustados para aumentar a sensação de estranheza do garoto é um passo a
mais na convencionalidade dramática que inclui ainda no pacote, a morte do pai
do garoto de forma trágica, sofrer doença de Crohm, ser considerado um
fracassado por ter 24 anos e não ter se encaminhado na vida, tornar-se
gradualmente menos egocêntrico a partir do momento que vivencia experiências
fora de sua caixinha et al. A lista é longa. Bem mais extensa que as opções
oferecidas por Scott na lanchonete onde trabalha. E o título brasileiro já
seria uma boa advertência sobre o modus operandi “edificante”, da
iniciação de um garoto “desajustado”, envolvido até mesmo em um assalto a uma
drugstore (no estilo Drugstore Cowboy e ainda mais amador) que aos
poucos vai descobrindo a dureza da vida, quando passa a conviver com um grupo
de bombeiros, a aceitaram-no como pet por conta de seu pai. E, como fechamento
de um ciclo de afetos os mais diversos, o mesmo garoto que provocou a fúria do
bombeiro por ter iniciado a fazer uma tatuagem em seu filho pequeno vem a ter
suas costas como laboratório para a arte do enteado. E o que dizer do momento
em que surge um homem ferido a cair como uma luva na volta da mãe a se
relacionar com Ray, sendo a ponte ele, o imprestável? E a sensação de
desconforto somente aumenta com a dedicatória ao pai, que surge numa foto, com
o ator enquanto pequeno, o pai
uniformizado, a delatar sua narrativa autobiográfica. E a tornar constrangedor
tais apelos sentimentais para uma fatura a mais no mundo do entretenimento. E
com a provável irmã do diretor fazendo a irmã– algo que Spike Lee também fez
uso (só que ele próprio sendo o seu alter-ego, no de longe mais afortunado Faça a Coisa Certa). É impressionante o quanto a relação da mãe com Ray passa
sempre por Scott para iniciar, romper e se reestabelecer. |Apatow Prod./Perfect World Pictures para
Universal. 136 minutos.
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