Filme do Dia: O Noivo de Minha Esposa (1943), Carlo Ludovico Bragaglia

 


O Noivo de Minha Esposa (Il Fidanzato de Mia Moglie, Itália, 1943). Direção: Carlo Ludovico Bragaglia. Rot. Original: Carlo Ludovico Bragaglia & Aldo De Benedetti, a partir do argumento do primeiro. Fotografia: Ugo Lumbardi. Música: Cesare A. Bixio & Ugo Finni. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Antonio Taglioni. Com: Vera Carmi, Leonardo Cortese, Gugliemo Barnabó, Jone Morino, Aroldo Tieri, Eduardo De Filippo, Sergio Tofano, Vittorina Benvenuti, Magda Forlenza.

Preparando-se para o casamento, Enrico (Tieri) se torna completamente destemperado ao descobrir que a jovem com o qual decidira se casar, Renata (Carmi), na verdade já se encontra oficialmente unida ao Conde Giulio Marini (Cortese), que já oferecera carona a eles, quando de uma viagem improvisada para descobrir o que se sucedera de fato, despertando imediatamente a atração mútua. Quando tudo é descoberto, a corte ostensiva de Giulio, que iria igualmente casar, com Marcella Toriani (Forlenza), filha do influente juiz Ernesto (Tofano), a Renata, acaba por afastá-la mais do que aproximá-la. Após muitas confusões, o casamento dos dois casais se encontra marcado, mas para a surpresa de todos, Giulio resolve casar com Renata, enquanto Marcella se casa com Enrico.

O inexplicado erro que dá motor a essa comédia de situações bem poderia sugerir uma leitura moderna, algo ionesca ou pirandelliana em seu absurdo, porém nada mais diverso do estilo desse filme, com seu humor e composição de cena herdeiros do teatro, longos planos com diálogos disparados em ritmo frenético e previsíveis clichês e coincidências. O que poderia ter ficado como ação do inexplicável, em termos surrealistas, logo se descobre ser uma aberta crítica da burocracia, capaz de se impôr à própria realidade – um funcionário do cartório o fizera de propósito – talvez venha a ser o trunfo do filme, porém sua fórmula cômica se tornou tão desgastada quanto a aparente ousadia de propor uma troca-troca entre casais, que sedimente a união entre a elite italiana com uma classe média bem mais modesta, em ambos os casos. Seu aberto desprezo pelo verossímil se ergue menos enquanto crítica de um status quo da sociedade italiana de sua época, do que enquanto abstrata e universal crítica de um mundo aprisionado cada vez mais pela burocracia. Provavelmente dada a boa recepção desse filme, Bragaglia continuaria investindo no filão, no ainda mais pirandelliano, Lo Sbaglio di Essere Vivo (1945), em que um homem dado como morto, pretende continuar vivendo com sua esposa e com a fortuna que amealham com o gople, até surgir um pretendente bastante disposto a lhe roubar o posto. Dentre as muitas convenções que se enfileiram sem o menor constrangimento na narrativa, encontra-se a do personagem cômico não formar par com a mocinha, que vem a se unir ao galã. E, como nesse, sua marcação teatral assim como seu tema fantasioso parece ser completamente oposto ao realismo que se delinearia por volta da época de sua produção, ganhando destaque no pós-guerra. Excelsa Film para Minerva Film. 85 minutos.

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