Filme do Dia: Trágica Obsessão (1976), Brian De Palma

 


Trágica Obsessão (Obsession, EUA, 1976). Direção: Brian De Palma. Rot. Original: Paul Schrader, a partir do argumento dele próprio e de De Palma. Fotografia: Vilmos Zsigmond. Música: Bernard Hermann. Montagem: Paul Hirsch. Dir. de arte: Jack Senter. Cenografia: Jerry Underlich. Figurinos: Frank Balchus. Com: Cliff Robertson, Genevieve Bujold, John Lithgow, Sylvia Kuumba Williams, Wanda Blackman, J.Patrick McNamara, Stanley J. Reyes,  Nick Kreiger.

New Orleans, 1959. Michael (Robertson), rico homem de negócios, tem a celebração em sua casa interrompida ao descobrir, após a partida dos convidados, que sua filha, Amy (Blackland) e sua mulher, Elizabeth (Bujold), foram sequestradas. Sob recomendações do policial Brie (Reyes), eles cercam o local onde se encontram os sequestradores, que usam mãe e filha como escudo. Na perseguição policial, o carro explode e aparentemente as duas morrem incineradas. Florença, 1975. Numa viagem de repouso à cidade, com seu parceiro e amigo mais próximo, Robert (Lithgow),  Michael encontra uma jovem, Sandra (Bujold), que é idêntica a sua falecida mulher. Obcecado, ele fica na Itália, enquanto Robert retorna aos Estados Unidos, e posteriormente a leva para sua residência em New Orleans, com planos de casar-se. Porém, a véspera do casamento, um novo sequestro se sucede.

O jogo de espelhamentos domina essa produção ao ponto de talvez quase obstruir qualquer tipo de imersão maior no que ela própria teria a apresentar. Isso pode se dar de forma mais explícita, como quando Sandra apresenta a um embasbacado Michael o local em que Beatrice era observada pelo seu olhar ininterrupto, apenas para perceber que ele é como que um prolongamento de Dante no aspecto do olhar. Ou, de forma mais sofisticada, como quando Michael se aproxima de Sandra e ela lhe informa que sobre a obra que restaura, existe uma outra pintura sobreposta, deixando entrever a própria apropriação escancarada que o realizador faz de Um Corpo que Cai (1958), de Hitchcock, não apenas temática, mas de colaboradores seminanais como Bernard Hermann – sendo sua trilha um tanto intrusiva e over, algo como um decalque maneirista que depõe sobre a impossibilidade de se reencenar o cinema clássico em seus próprios termos.  O fato de Michael viver em 1959, como seu colega aponta, bem mais próximo não apenas do filme ao qual este se relaciona, dota-o igualmente de uma sensibilidade romântica que se acredita mais associada ao período, recurso esse do anacranismo que já havia sido utilizado, para outros fins, em um filme como Um Perigoso Adeus (1973), de Altman. Seu romantismo démodé também pode acenar para uma possibilidade de leitura menos polêmica – ou seja, que pai e filha não praticaram o ato sexual – enquanto San Francisco é substituída por outra cidade de charme e apelo, New Orleans. Assim como a antecipação da chocante revelação, seja no momento em que Michael indaga se é pai de Beatrice, por conta da diferença de idade entre ambos, seja ainda quando Sandra se encontra consigo própria no quadro da parede – um traço fantasmático talvez menos operante para ela que para o espectador de um cinema de outra época, o dos melodramas góticos dos anos 1940 (Rebecca, Laura, O Retrato de Jennie, dentre outros), assim como o inevitável quarto trancado e sem uso, representação física do que verdadeiramente não se conseguiu recalcar. Destaque para a típica fotografia vaporosa de Zsigmond, assim como para interpretações não muito disantes de qualquer telefilme, com destaque para o vilão de Lithgow, que mais parece saído de um filme de terror B britânico. E também para a inusitada participação de Bujold em um terceiro papel,  determinado momento, representando a si própria enquanto criança, o que não deixa de provocar uma confusão inicial.  Como demonstrará praticamente ao longo de sua carreira, De Palma prefere antes de tudo os efeitos de um roteiro rocambolesco a qualquere construção mais interessante e/ou crível de seus personagens. Seu final, ambíguo no reencontro entre pai e filha, apresenta uma câmera a girar tal e qual seria a de qualquer casal romântico. Columbia Pictures/Yellowbird Prod.  para Columbia Pictures. 98 minutos.

 

 

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