Filme do Dia: Wege zu Kraf und Schönheit - Ein Film über Modern Körperkultur (1925), Nicholas Kaufmann & Wilhelm Prager
Wege zu Kraf und Schönheit - Ein Film über Modern Körperkultur (Alemanha, 1925). Direção: Nicholas
Kaufmann & Wilhelm Prager.
Muito do ideário
nazista já parece posto por esta produção que tem um modus operandi
completamente aderente do documentário que do drama convencional, embora
algumas fontes o situem na segunda rubrica, quando é atravessado por
informações que apenas possuem alguma vinculação porque dada pelas cartelas,
como a da remissão aos ginásios clássicos gregos em que era praticado, de fato,
ginástica, ao contrário dos modernos, o que aponta para uma consciência da
época contemporâenea como decadente, nervosa, porque evidentemente substituiu a
cultura do corpo pelo saber (prédica não muito distinta de um filme produzido
já ao ocaso Nazismo como Opfergang).
Então é a retórica que toma a condução da organização das imagens, mas que
qualquer apresentação de um universo diegético e personagens inseridos nesse,
em suas relações sociais. Há nessa ode ao físico e as atividades físicas,
igualmente, a forte veia fascista comparativa, apresentando imagens, inclusive,
de degenerescências físicas, aqui associadas apressadamente a falta de cuidados
com o corpo durante a infância e uma contraposição entre um homem de 50 que
nunca praticou esportes e um outro, atleta, 12 anos mais velho. E não será
surpresa se o homem ocioso for apresentado como um tipo próximo do semita,
ainda que curiosamente ambos os homens fumem, e até o esportista acenda o seu
cigarro no charuto do velho precoce que quase atropelara com sua bicicleta, os
reflexos reativos a ação do esportista são defasadas. Corpos desnudos e
esculturais, ou ao menos próximos do que seria a beleza grega, adornam
homofilicamente, uma representação de um ginásio grego antigo, antecipando toda
uma série de filmes que explorará esse filão (recuperado pelo documentário O Mito da Eterna Beleza) e abraçado por
Riefensthal em seu documentário sobre as Olímpiadas do final da década seguinte
(Olympia); também para esse puxará o
uso da câmera lenta, como efeito poético que acentuará a beleza dos movimentos,
e a própria nudez (na cena em questão, o grupo de garotas está despido da
cintura para cima); não por acaso a
realizadora estreou como atriz nessa produção. Aliás, com seus minúsculos
tapa-sexo, os atletas gregos tal como representados aqui, serão retomados com a
verve artística (e o mau gosto inerente a ela) por Riefensthal na abertura de
seu documentário, fazendo-o de forma bem mais solene e pomposa, a partir do
mesmo esporte, o atirador de discos. E já se espera que uma estátua de Vênus
ganhe vida, a partir do conhecimento retrospectivo prévio do citado
documentário de Riefensthal, embora aqui sob o signo do humor. Ou ainda imagens
de esportistas em diversas categorias praticando o que sabem fazer melhor em
câmera lenta. Talvez nunca esteja tão patente a filiação do célebre
documentário sobre as Olímpiadas a esse, mesmo que a dança, a nudez e a
evocação sempre elegíaca da Antiguidade Grega já fossem provas suficientes. E,
antes disso, parte-se para a exibição de técnicas de desenvolvimento de
práticas físicas em bebês do sexo feminino e masculino! Depois “evolui-se” para
um grupo de crianças pequenas. E crianças em idade escolar. A espinha tem que
ser tratada como um dos pontos centrais do corpo humano, justamente aquele que
diferencia o letárgico do esportivo. Portanto, boa parte das práticas a possuem
como referência. E pioneiramente já alerta para as atividades continuadas,
sobretudo vinculadas aos trabalhos manuais, que se traduzem em posturas que
maltratam a coluna (sempre ela!) como o da costureira em sua máquina. E que
podem ser combatidas com apenas alguns minutos diários de exercícios. E o filme
não recua em mostrar os corpos nus de pessoas maduras como retrato de um corpo
marcado pelo sedentarismo, em comparação francamente cruel com os belos corpos
jovens entrevistos antes. E é aqui que surgirá a futura musa de Hitler,
Riefensthal, em movimentos que simulam uma mescla entre dança e balé meio
tresloucado. Ao contrário do cinema abertamente nazista posterior, aqui ainda
se pode utilizar uma série de exercícios “suecos” em um Tâmisa atulhado de
barcos, como modelo de prática saudável. Esse cosmopolitismo, apresentando os
melhores nos esportes e nas artes, e muito poucos deles são alemães, diga-se de
passagem, é diferencial, por mais que Riefensthal queira passar uma ideia de
festa global das nações em seu filme. Ou ainda a escola que associa o ritmo do
corpo humano à música e que é proveniente de um francês (Jacques Dalcroze). E o
ritmo e beleza dos movimentos de um corpo humano consciente são associados aos
mesmos na natureza (o das ondas do mar, o de um campo de trigo varrido pelo
vento, os cervos pulando uma cerca alta). A determinado momento, afirma-se que
na Inglaterra e nos Estados Unidos, pratica-se esporte como se respira – como
se fosse uma mensagem dada aos alemães, talvez ainda associados às noções
decandentistas de cultura mais que as do culto ao corpo. Destaque para o momento involuntariamente
cômico em que no meio de tantas sublimações do corpo humano praticamente nu que
o filme traz, por mais que se tente maquiar qualquer impureza, mesmo atestando
que o conjunto harmônico entre as partes, mas que um corpo perfeito, seria o
ideal – momento em que observamos uma dupla de mulheres com um peso acima da
média, mas com a gordura relativamente bem distribuída pelo corpo – não se pode
deixar de perceber os pés completamente
sujos de uma das mulheres que efetua esses movimentos graciosos em paisagens
naturais desertas. Kulturabteilung/UFA.
89 minutos.
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