Filme do Dia: Amargo Pesadelo (1972), John Boorman
Amargo Pesadelo (Deliverance, EUA, 1972). Direção: John Boorman. Rot. Adaptado:
James Dickey, a partir do romance dele próprio. Fotografia: Vilmos Zsigmond.
Montagem: Tom Priestley. Dir. de arte: Fred Harpman. Cenografia: Morris Hoffman. Figurinos: Buck Rous. Com:
Jon Voight, Burt Reynolds, Ned Beatty, Ronny Cox, Ed Ramey, Billy Redden, Bill
McKinney, Herbert “Cowboy” Coward.
Grupo de amigos, liderado por Lewis
(Reynolds) vai praticar canoagem em um rio
de corredeiras fortes ao nordeste da Georgia que em breve se
transformará em lago. Com ele vão o mais precavido Ed (Voight), o gordo Bobby
(Beatty) e Drew (Cox). Junto a um
lugarejo miserável e repleto de pessoas com deformidades físicas, o grupo
consegue que dois irmãos os guiem até às margens do lago. A primeira experiência de canoagem provoca uma
sensação indescritível. Porém, logo a seguir Ed e Bobby encontram dois
caçadores truculentos. Um deles estupra Bobby, sendo Ed amarrado a um tronco. Quando esse vai ser
seviciado, Lewis mata o homem. Desesperado, o grupo pensa o que fazer a seguir.
Numa descida pelas corredeiras, Drew se acidenta e desaparece, Lewis é ferido
gravemente na perna e Ed vai tentar se livrar do parceiro (Coward) do homem
morto.
Ao criar uma atmosfera atípica, demonstra
ser um relativamente arguto estudo sobre a masculinidade, sobretudo em
situações adversas. E com inspirados momentos, como o do duelo entre banjo e
violão. Porém, o que vinha sendo trabalhado de forma densa, minimalista e
compassada até cerca da metade do filme se transforma em seu oposto. É justamente
ao abraçar o elemento de
ação/suspense/violência que o filme tanto se perde brutalmente, pelo excessivo
da situação, quanto trai uma visão profundamente preconceituosa do sul do país,
povoado de personagens rudes e, mesmo, selvagens, como no caso da dupla de
caçadores. Tampouco as interpretações soam exatamente no nível que tal sutileza
esboçada ao início sugeria, como é o caso, sobretudo, do canastrão Reynolds. E,
como golpe de misericórdia, não se extrai nada que transcenda ao próprio
relato. E, como esse se encontra longe de ser algo fascinante, fica-se com a
péssima impressão de voyeurismo sensacionalista. Afastando-se de uma fotografia
exuberante para se aproximar de um efeito mais realista, o diretor de
fotografia Zsigmond conquistou, com o auxílio da montagem, um de seus tentos
com as impressionantes cenas filmadas nas corredeiras. Seja que cuidados houve
durante a produção, os próprios atores fizeram as cenas de perigo, resultando
em um cóccix quebrado por parte de Reynolds. O pesadelo final vivido por Ed, e
do qual o título brasileiro também tira partido, não deixa de destilar um pouco
de ambiguidade em relação a tudo que é entrevisto antes. Enquanto estudo sobre
a masculinidade ameaçada Sob o Domínio do Medo (1971), de Peckimpah, de viés conservador, é deveras mais
interessante. Warner Bros./Elmer Enterprises para Warner Bros. 110 minutos.
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