Filme do Dia: A Audácia é Minha Lei (1955), Allan Dwan
A Audácia é Minha Lei (Tennessee’s Partner, EUA, 1955).
Direção: Allan Dwan. Rot. Adaptado: Milton Krims, D.D. Beauchamp, C. Graham
Baker & Teddi Sherman, a partir do conto de Bret Harte. Fotografia: John Alton. Música: Louis Forbes. Montagem: James Leicester. Cenografia: Alfred E.
Spencer. Com: John Payne, Ronald Reagan, Rhonda Fleming, Coleen Gray, Anthony
Caruso, Morris Ankrum, Leo Gordon, Chubby Johnson.
Quando o incorrigível jogador
Tennessee (Payne) é pegue desprevenido, um forasteiro, Cowpoke (Reagan) salva
sua vida, transformando-se subitamente em seu único amigo em uma cidade hostil
a ele e também a sua companheira, a Duquesa (Fleming), conhecida pelo
prostíbulo-cassino mais sofisticado da região, disfarçado como casa de
casadouras. Cowpoke afirma que espera pelo grande amor de sua vida, Goldie
(Gray), que já passou pelos braços de Cowpoke e foi um de seus “descartes”,
como a própria Duquesa afirma, de quem sabe não valer um centavo, quanto mais
os 5 mil dólares que Cowpoke lhe entrega em ouro. Tennessee resolve se livrar
de Goldie e quando sabe que os dois fugiram, Cowpoke promete mata-lo. Um velho
mineiro alcóolatra, Grubstake (Johnson) desacreditado por todos, de fato
encontrou uma mina de ouro, despertando a cobiça de toda a escória da cidade.
Quando ele morre assassinado e hospedado na casa de Tennessee esse, que apenas
ajustara suas contas com Cowpoke, tem novos motivos a temer.
Poder-se-ia afirmar que este western
está para o gênero, como os filmes de terror da Hammer estão para seus
precedentes norte-americanos, comparação que talvez seja menos generosa com as
produções britânicas. Há um excesso na cenografia, menos bem aquilatado que nos
filmes da Hammer, no limite do mau gosto, e suas mulheres trazem a
licenciosidade possível para a época – caso da cena em que a “Duquesa” de
Fleming se banha e é observada a se empoar por seu amante, sendo que apenas ele
tem acesso aos detalhes que o espectador não. Já a misoginia do
personagem-título (original, bem entendido) beira o homo-erotismo e o próprio
título original parece brincar com a ambiguidade de um personagem que, sentado
ao lado de seu novo parceiro, que lhe salvou a vida, mesmo sem conhece-lo,
afirma que agora “é bom ter um amigo” e não tem o menor plano de se casar,
porque as mulheres, enfim, são mulheres. E no reino da ambiguidade marota,
Tennessee tem que afetar um ciúme do amigo em relação a continuidade da relação
de ambos após o casamento planejado desse, para disfarçar o que sabe sobre o
passado de sua noiva. E quando Cowpoke se sabe traído pela mulher que entregara
tudo o que possuía, afeta-lhe menos a traição dela que a do amigo
recém-conhecido. E Tennessee se deixa
esmurar passivamente por Cowpoke no ajuste final de contas, alívio para os que
imaginavam que a intensidade de tal relação resultaria em crime passional. E a
dupla divide a prisão duas vezes, então se havia alguma dúvida quanto ao
título, rapidamente ela se desfaz. Desnecessário dizer que o olhar do filme é
filtrado pela misoginia de Tennessee, com o momento em que se percebe que os
dois casais reunidos e a fonte de tensão dramática se dirigindo para uma Goldie
vestida como noiva, ela “interpretando” o seu papel de boa moça, Cowpoke
completamente fisgado por ela e a dupla veterana como reserva de passividade
cínica um tanto razoável. Seu final, repleto de clichês, já se imaginando que
um dos protagonistas será sacrificado e com direito a um gesto de vilania
altamente desnecessária, assim como socos, sopapos e saltos é o que resta,
quando o imbróglio das relações entre os quatro principais, e também o melhor
que o filme traz, já inexiste. Morto o impedimento para que o adeus à vida de
solteiro se concretizasse, ocorre o casamento e a nova vida “respeitável” da
dupla se iniciando, sendo que a malícia feminina em enganar os homens sobra
inclusive para a Duquesa, observada roubando do bolso de Grubstake pepitas.
Dwan tem participação não creditada no roteiro, que aparentemente deve muito
pouco ao conto original, que já havia sido adaptado no cinema mudo várias vezes
(Os Bravos Só Tem uma Palavra e Palmyra, A Princesa de Ouro, em meados
dos anos 20 e Tennessee’s Pardner, de
1916). Angie Dickinson, bem antes dos anos em que esteve em evidência, possui
uma ponta não creditada, como uma das jovens “casadouras” da mansão da
Duquesa. Benedict Bogeaous
Prod./Filmcrest Prod. para RKO Radio Pictures. 83 minutos.
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