O Dicionário Biográfico de Cinema#78: Emmanuelle Béart
Emmanuelle Béart, n. St. Tropez, França, 1965
Talvez se suponha que não devemos mais dizer coisas desse tipo - mas não nos ajuda pensar que existe sempre um beco sem saída do cinema (pode até ser uma travessa aberta) que é dedicada a mulheres bonitas. Nesse caso, Emmanuelle Béart em La Belle Noiseuse [A Bela Intrigante] (91, Jacques Rivette) é uma das odaliscas da introspecção. Certamente é um filme de Rivette, e naturalmente é uma meditação sobre o desenho e o processo criativo. Mas, e isso não ajudará, é - além disso - uma sinfonia de Béart mais ou menos nua. E funciona.
Muitos homens tem tentado justificar sua beleza extraordinariamente calma e tem assistido desamparados com a possibilidade de que ela também seja uma grande atriz. A tensão dessa tentativa nunca foi apresentada por Mademoiselle Béart. Há sinais de que ela está contente em ser um fenômeno. Conhecidamente cresceu em uma minúscula vila provençal, a filha do cantor Guy Béart, mantida longe do olhar público e da experiência do cinema. Fez um punhado de coisas enquanto criança - La Course du Lièvre à Travers les Champs [O Homem Que Surgiu de Repente] (72, René Clement) e Demains les Mômes (76, Jean Pourtalé) - mas aparentemente foi quando viajava ao Canadá, trabalhando como uma au pair (*), que viu seus primeiros filmes e foi vista por Robert Altman, que tentou pô-la nas telas.
Não funcionou, mas ela começou a trabalhar para a televisão francesa, e foi propriamente revelada por David Hamilton, o fotográfo de foto fixa erótica, em Premier Désirs [Primeiros Desejos]. Ainda para a TV realizou Un Amour Interdit (84, Jean-Pierre Dougnac); Raison Perdue (84, Michel Favart); Et Demain Viendra le Jour (84, Jean-Louis Lorenzi); e outro filme, L'Amour en Douce (85, Edouard Molinaro).
Sua descoberta foi em Manon des Sources [A Vingança de Manon] (86, Claude Berri), um sucesso internacional que a levou ao papel de anjo em Date with an Angel [Encontro com um Anjo] (87, Tom McLoughlin), um retumbante fracasso. Então permaneceu na França para À Gauche en Sortant de l'Ascensour (88, Molinaro); na TV como Marie-Antoinette (89, Caroline Huppert); Les Enfants du Désordre (89, Yannick Bellon); Il Viaggio di Capitan Fracassa [A Viagem do Capitão Tornado] (91, Ettore Scola); J'Embrasse Pas [Não Dou Beijos] (91, André Techiné); Un Coeur en Hiver [Um Coração no Inverno] (92, Claude Sautet), trabalhando com Daniel Auteil, com quem se casaria por um tempo; L'Enfer [Ciúme - O Inferno do Amor Possessivo] (94, Claude Chabrol); Une Femme Française [Desejos Secretos] (95, Régis Wargnier); Nelly & Monsieur Arnaud [Minha Secretária] (95, Sautet).
Então veio outra tentativa de lançá-la em filmes falados em inglês - Mission: Impossible [Missão: Impossível (96, Brian De Palma) - e o mesmo velho retrato da França: Don Juan (98, Jacques Weber); Vouleur de Vie (98, Yves Angelo); como Gilberte em Le Temps Retrouvé [O Tempo Redescoberto] (99, Raoul Ruiz); Elephant Juice [Sexo Entre Amigos] (99, Sam Miller); La Bûche [Três Irmãs] (99, Danièle Thompson); Les Destinées Sentimentales [Os Destinos Sentimentais] (00, Olivier Assayas); Voyance et Manigance (01, Eric Fourniols).
Fazer trinta não alterou nada sua beleza, ainda que uma certa frieza começou a aparecer: La Répétition (01, Catherine Corsini); 8 Femmes [8 Mulheres] (02, François Ozon); Les Égarés [Anjo da Guerra] (03, Techiné); L'Histoire de Marie et Julien [A História de Marie e Julien] (03, Rivette); Nathalie... [Nathalie X] (03, Anne Fontaine); À Boire (04, Marion Vernoux); Un Fil à la Patte [05, Michel Deville); Milady em D'Artagnan et le Trois Mousquetaires [D'Artagnan e os Três Mosquiteiros] (05, Pierre Aknine); L'Enfer [Inferno] (05, Denis Tanovic); O Crime (06, Manuel Pradal); Les Témoins [As Testemunhas] (07, Téchiné); Disco [Nos Embalos da Disco] (08, Fabien Onteniente); Vinyan [Espíritos Condenados] (08, Fabrice Du Welz); Mes Stars et Moi (08, Laetitia Colombani); Nous Trois (10, Renaud Betrand); Ça Commence per la Fin (10, Michael Cohen); Ma Compagne de Nuit (11, Isabelle Brocard); Bye Bye Blondie (11, Virginie Despentes); para a TV, Le Desert de l'Amour; Télé Gaucho [Anos Incríveis] (12, Michel Leclerc); Par Exemple, Electre (12, Jeanne Balibar e Pierre Léon); My Mistress (14, Stephen Lance).
Texto: Thomson, David. The Biographical Dictionary of Film. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 195-6.
(*) N.do E.: Programa de trabalho remunerado, estudo e intercâmbio.
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