Filme do Dia: Tocaia no Asfalto (1962), Roberto Pires
Tocaia no Asfalto (Brasil, 1962).
Direção: Roberto Pires. Rot. Original: Roberto Pires, a partir do argumento de
Rex Schindler. Fotografia: Hélio Silva. Música: Remo Usai. Montagem: Roberto
Pires. Dir. de arte: José Teixeira de Araújo. Com: Agildo Ribeiro, Arassary de
Oliveira, Adriano Lisboa, Geraldo Del Rey, Angela Bonatti, David Singer, Jurema
Penna, Antonio Pitanga, Milton Gaúcho, Othon Bastos.
Rufino (Ribeiro), matador de aluguel,
chega em Salvador, proveniente de Maceió, com a missão de matar o Coronel Pinto
Borges (Gaúcho), candidato a governador. Ele se hospeda na pensão de Dona Filó
(Penna), um bordel disfarçado, apaixonando-se por sua vizinha de quarto, Ana
Paula (Oliveira). A filha de Borges, Lucy (Bonatti) se encontra enamorada do
deputado Ciro (Del Rey), que faz oposição ao pai e o convocou a uma CPI.
Sabendo que há um matador contratado para dar um fim em Borges, Luciano
(Lisboa) é encarregado de encontrar um homem para que dê cabo dele, antes de
fazer o mesmo com Ciro. Esse homem é conhecido como Matador de Caxias
(Pitanga). Rufino parte com Ana Paula e uma outra prostituta que se recusava a
trabalhar da pensão de Filó. Uma das prostitutas dá com a língua nos dentes.
Luciano a espanca e estupra para que confesse onde o casal se encontra. O plano
que foi passado a Rufino é que ele deve assassinar Pinto Borges numa cerimônia
religiosa por um mês da morte de um rival político seu.
Pires tem traquejo para compor cenas,
criar atmosferas e desdobrar com ritmo os segmentos diversos de sua narrativa.
No primeiro quesito o excelente partido que se tira do interior de uma igreja
barroca. E ainda a câmera de ponta
cabeça, meio a Welles (ou o contemporâneo Sob
o Domínio do Mal), quando da fuga de Rufino do cemitério. Ou ainda o belo
plano em que o Deputado Ciro tem uma conversa acalorada com a filha de seu
rival, Lucy, tem um coqueiro ao fundo a situá-los em campos opostos. Se as
interpretações, sobretudo a da garota, deixam a desejar pelo excesso de
empostação, talvez fosse algo que fugisse a alçada do realizador, que
provavelmente tinha pouca película à disposição e um elenco numeroso a dar
conta. E tampouco deixam de existir flashbacks
canhestros que explicam o comportamento do matador Rufino, seu ponto fraco (e
talvez também o do ator Agildo Ribeiro no filme). Destaque para as ousadas
cenas de quase nudez de uma das pensionistas da Dona Filó ou da prostituta que
é flagrada deitada na cama por Rufino, antecipando a nudez mais sugerida que
mostrada de fato das pornochanchadas da década seguinte, assim como o
homossexual que leva as malas, outra figura recorrente na produção
pornochanchadesca. Mesmo um tanto exagerado em sua descrição do bordel popular,
Pires consegue traduzir com perspicácia brejeira os tipos que também parecem
antecipar as descrições escrachadas da Boca em O Bandido da Luz Vermelha. Silvio Lamenha, colunista social, vive
muito bem a si próprio, em uma ponta na festa em que é lançada a candidatura de
Pinto Borges a governador. O produtor Schindler, indispensável para que o ciclo
baiano do período se concretizasse, assina igualmente o argumento. A imagem de
Ana Paula caindo em meio a corrida, é evocativa da cena final de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Iglu
Filmes. 101 minutos.
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