Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#41: Carmen Santos


SANTOS, CARMEN (Brasil, 1904-52). Ainda que tenha dirigido somente um filme concluído, Carmen Santos foi a pioneira feminina mais importante do cinema brasileiro, produzindo numerosos filmes, mais notavelmente para Humberto Mauro, e atuando em uma série de filmes silenciosos, incluindo o grande Limite (1930). Santos nasceu em Vila Flor, Portugal, e após emigrar quando adolescente, envolveu-se com o cinema brasileiro muito cedo, atuando em Urutau (1919). O filme nunca foi exibido publicamente, e nem foram os dois filmes seguintes nos quais atuou, A Carne (1924) e Mademoiselle Cinema (1925). De acordo com Elice Munerato e Maria Helena Darcy de Oliveira em "As Musas das Matinês", "o público começou a amar Carmen Santos nos anos 20, principalmente através da revista de cinema Cinearte", que reportou sobre os mistérios que rondavam seu trabalho. "O produtor do primeiro filme desapareceu com os negativos, e os dois filmes remanescentes supostamente foram destruídos em incêndios. Outra versão do incidente, no entanto, sugere que Antonio Seabra, com quem Carmen Santos viveu, e posteriormente casou, e que financiou a produção no qual ela participava, proibiu a exibição do filme temendo 'complicações'" (Johnson e Stam, 1982).

A Carne, baseado em romance de mesmo nome de Júlio Ribeiro, foi considerado muito arriscado para sua época, e Mademoiselle Cinema se especula ter tido problemas com a polícia (Johnson e Stam, 1982, pp. 341-2). Ao final da década, Santos começou a apoiar Humberto Mauro enquanto realizador, interpretando o principal papel de Sangue Mineiro, e investindo dinheiro para assegurar seu término. Também participou do filme seguinte de Mauro, Lábios sem Beijos (1930), primeira produção da Cinédia.

Muito provavelmente para ter maior controle sobre sua própria obra, Santos operava um laboratório de processamento das películas privado; iniciou uma companhia cinematográfica nos primórdios dos anos 30; e abriu seu próprio estúdio, Brasil Vita Filmes, no Rio de Janeiro, em 1933. Tornou-se próxima de Mário Peixoto durante a produção de Limite, possibilitando sua finalização no laboratório dela, em troca de seu roteiro e direção para Onde a Terra Acaba, no qual estrelaria. Porém a relação azedou, e após Peixoto abandonar o projeto, Santos tomou o nome do filme pretendido (para ao menos salvar a publicidade) e produziu (e atuou) em uma obra completamente diferente em 1932, baseada em um romance do século XIX de José de Alencar, Senhora, dirigida por Otávio Mendes (Williams, 2005, p. 396). 

No seu estúdio, entre 1934-36, Santos produziu dois filmes de Mauro nos quais estrelaria, Favela dos Meus Amores e Cidade Mulher. Infelizmente ambos os filmes se perderam, destruídos em um incêndio nos depósitos da Brasil Vita Filmes. Por quatro anos, os estúdios de Carmen foram subutilizados, mas em 1940 ela realizou um retorno em Argila, novamente dirigida por Mauro. Embarcaria então em seu projeto mais ambicioso, para atuar, produzir, escrever e dirigir Inconfidência Mineira, baseado em um dos episódios mais importantes da luta pela independência brasileira. Levou três anos para que esse filme fosse produzido - algumas fontes falam de sete a dez anos - até que finalmente fosse lançado em 1948. Sua contribuição final ao cinema brasileiro foi produzindo Inocência (1949) e O Rei do Samba (1952), de Luís de Barros. Em seu testamento, estipulou que seus estúdios nunca fossem destruídos. 

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rownan & Littlefield, 2014, pp. 512-3.

 

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