The Film Handbook#175: Albert Lewin
Albert Lewin
Nascimento: 23/09/1894, Nova York, EUA
Morte: 05/04/1968, Nova York, EUA
Carreira (como diretor): 1942-1956
Na época em que foram realizados, os filmes de Albert Lewin foram amplamente desconsiderados enquanto produtos de um pretensioso diletante cultural dado a adaptações literárias verborrágicas e vulgares. Com o passar dos anos, no entanto, passou a ser considerado (ao menos em uns poucos círculos críticos) como um notável realizador moderno, cujo amor pelas palavras de modo algum impedia o potencial cinematográfico de sua obra.
Ex-estudante e professor de inglês, Lewin se tornou pela primeira vez destacado em Hollywood ao final dos anos 20 e anos 30 enquanto chefe do departamento de roteiros e, posteriormente, produtor na MGM de Irving Thalberg; dentre as mais notáveis de suas produções se encontram O Beijo/The Kiss, de Jacques Feyder (com Garbo), O Grande Motim/Mutiny on the Bounty e (para a Paramount) Zazá/Zaza de Cukor. Em 1942 dirigiria seu primeiro filme, uma sensível, verbalmente engenhosa e imaculada interpretação de Um Gosto e Seis Vinténs/The Moon and Sixpence, de Somerset Maugham. George Sanders, admiravelmente destituído de sentimentalismo, interpreta um artista como Gaughin, cuja obsessão egóica com a pintura o leva a abandonar a família e seu emprego de clérigo para trabalhar em Paris e nos Mares do Sul. Do cinismo articulado e amoral de Sanders foi feito ainda melhor uso no conto de admoestação faustiana de Wilde, O Retrato de Dorian Gray/The Picture of Dorian Gray>1. Enquanto o profuso proferidor de provérbios Lorde Henry Wotton, servindo para despistar e se tornar o mentor do meigo Hurd Hatfield e do maleável Dorian, cuja alma é pervertida e corrompida por um desejo de eterna juventude e beleza. Os sofisticados e densamente alusivos diálogos de Lewin são saboreados do início ao final, ainda que as qualidades visuais do filme nunca sejam negligenciadas: tanto a desordenada elegância fin-de-siècle de Mayfair quanto o mundo mortiço e decadente de Blue Gate Fields, visitados por Dorian em busca de depravação, são descritos em detalhes autênticos e atmosféricos, enquanto as inserções em Technicolor da pintura que reflete a degradação de seu eu interior são apropriadamente hediondas.
Igualmente inteligente, uma versão de The Private Affairs of Bel-Ami>2 de Maupassant, ofuscou a fonte original na sua compreensão sutil e generosa das emoções de um ambicioso e jovem jornalista, cujo alpinismo social é facilitado por um desprezo pelas amantes e amigos. Pandora/Pandora and the Flying Dutchman>3 foi semelhantemente literário e alusivo, apesar de numa veia mais auto-conscientemente mítica: numa vila costeira espanhola nos anos 30, uma cantora expatriada americana - como seu homônimo grego, para o efeito letal que aparenta exercer sobre seus admiradores - se apaixona por um misterioso proprietário de um iate, que vem a ser um fantasma condenado a eterna miséria até encontrar uma mulher que sacrifique sua vida por ele. De lógica absurda, o filme se beneficia de uma teia de referências literárias e de lendas, interpretações vigorosas e imagens virtualmente surreais em Technicolor, que emprestam a sua narrativa de amour fou tanto pungência emocional quanto um tempestuoso e exuberante romantismo. Porém o enredo pouco comum e os diálogos elevados se provaram pouco atraentes para o público e pelos próximos sete anos, o diretor-roteirista realizaria somente mais dois filmes - Saadia, no qual um jovem médico europeu no Saara cai presa da superstição local e O Ídolo Vivo/The Living Idol, sobre uma garota mexicana que se acredita possuída pelo espírito de um jaguar milenar. Desde então, seguindo recomendações médicas, Lewin se aposentou da direção.
Em retrospecto, a amplamente depreciada pretensão artística de Lewin parece ser uma marca de um diretor sempre audacioso, incomumente literário e independente. Não foi sua personalidade totalmente subserviente aos autores cujas obras se voltou: as adaptações de Maugham, Wilde e Maupassant também revelam seu próprio interesse em personagens obcecados e destruídos por um sonho idealista de conquistar uma vida melhor para si próprios. Os elaborados padrões visual e verbal e as alusões das melhores obras de Lewin podem ser apreciados como suas tentativas idealistas de proporcionar uma alternativa complexa e sutil à diversão primária ou mediana oferecida por Hollywood.
Cronologia
O próprio Lewin citou O Gabinete do Dr. Caligari de Robert Wiene como tendo lhe inspirado a entrar no cinema; Thalberg, também, foi claramente uma influência. Em alguma medida, ele pode ser comparado com Cukor, ainda que seu gosto pelo refinamento verbal talvez o coloque mais próximo dos gostos de Mankiewicz, Rohmer ou mesmo Greenaway.
Leituras Futuras
The Unaltered Cat (Nova York, 1967) de Lewin é um romance. Existe pouca coisa substancial escrita sobre sua obra.
Destaques
1. O Retrato de Dorian Gray, EUA, 1945 c/ Hurd Hatfield, George Sanders, Angela Lansbury
2. The Private Affairs of Bel Ami, EUA, 1947 c/George Sanders, Angela Lansbury, Ann Dvorak
3. Pandora, Reino Unido, 1951 c/ Ava Gardner, James Mason, Nigel Patrick
Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 169-70.
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