Filme do Dia: Anjo (1937), Ernst Lubitsch


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Anjo (Angel, EUA, 1937). Direção: Ernst Lubitsch. Rot. Adaptado: Guy Bolton, Russell G. Medcraft, Samson Raphaelson & Frederick Lonsdale, a partir da peça de Melchior Lengyel. Fotografia: Charles Lang. Música: Friedrich Hollaender & Werner R. Heymann. Montagem: William Shea. Dir. de arte: Hans Dreier & Robert Usher. Figurinos: Travis Banton. Com: Marlene Dietrich, Herbert Marshall, Melvyn Douglas, Edward Everett Horton, Ernest Cossart, Laura Hope Crewes, Herbert Mundin, Dennin Moore.
Maria (Dietrich), casada com um importante representante britânico na Liga das Naçõse, Frederick (Marshall), busca emoções em Paris, que já não encontra com tanta frequência no casamento, dada a dedicação premente do marido ao trabalho. Ao revisitar a Grã-Duquesa russa Anna (Crews), Maria conhece e se sente imediatamente atraída por Anthony (Douglas). Os dois vivenciam um momento de amor, mas Maria desaparece subitamente. Anthony a reencontrará, por acaso, na própria residência dela, mas ela fingirá que não o conhece. Quando a máscara cai, Anthony a incita a voltar a se encontrarem na casa da Grã-Duquesa. Desconfiado das evidências – pois escutara Anthony ao piano tocando a composição que ouvira Maria a teclar – Frederick também vai ao encontro.
Não é sem maestria que Lubitsch ensanduicha seu triângulo amoroso em moldes elegantemente ousados, no limite que o padrão de moralidade hollywoodiana aceitava, evocando o desejo feminino uma bem casada mulher burguesa de forma não tão incisiva quanto tentativas diversas de lidar com o tema europeias que o antecedem (L’Invitation du Voyage) ou procedem (A Bela da Tarde). De fato, o que Maria fora fazer numa casa de “reputação duvidosa”, tendo como anfitriã uma grã-duquesa de quem se diz amiga de longa data? Dietrich parece encarnar como ninguém a efígie da mulher de reputação variante, ao sabor da interpretação, sugestão que ela própria instila ao marido ao final, enquanto chave de salvação de seu casamento e abdicando de triviais esclarecimentos quanto a honra do marido pretensamente traído. Talvez os quatro minutos mais gloriosos do filme, ou pelo menos emblemáticos, sejam os que Maria finge não ser quem é, provocando um fascínio confuso em seu apaixonado Anthony nada muito diverso do que ocorrerá com o Scottie de James Stewart em Um Corpo Que Cai. Ao início,  parece brincar com os códigos do filme de espionagem. Como padrão nos filmes da época, apesar dos virtuosos movimentos de câmera que acompanham todos os aposentos da enorme – e movimentada – residência da Grã-Duquesa, o filme destaca a absoluta dominância dos atores, por muitas vezes os únicos focados em um ambiente ao redor. Dito isso, até que o filme colha algum louro do que foi vagarosamente plantado se passa dois terços de sua metragem, o que não deixa de torna-lo, até então, um exercício um tanto aborrecido de lugares-comuns,  o que talvez se deva a se tratar de uma adaptação teatral.  A fatalidade de Dietrich, trabalhada via de regra ainda com maior brilho pelo conterrâneo de Lubitsch, Von Sternberg, já surge desde o primeiro plano e sua virada de rosto à janela do avião que sobrevoa Paris. Destaque para os momentos em que o filme explora equivalentes do coro teatral (e potenciais dúplices do espectador), seja apenas através da visualidade, como a mulher que vende rosas, testemunha do encontro atribulado do casal, seja ainda nas inserções em que se aproxima dos bastidores da recepção a Anthony, quando a criadagem é observada fofocando sobre os patrões. Destaque para Anthony observando com espanto Dietrich enquanto grã-duquesa, quando essa, fora descrita pelo amigo como alguém que está “começando a se deteriorar”.  Paramount Pictures. 91 minutos.



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