O Dicionário Biográfico de Cinema#295: Julie Andrews

 


Julie Andrews (Julia Elizabeth Wells), n. Walton-on-Thales, Inglaterra, 1935

Se você não pode dizer algo bom, não diga nada - assim Tambor é ensinado em Bambi (mas talvez tenha se transformado em um coelho assassino sob o estresse). Ainda, deixe-me declarar isso: que Julie Andrews é um milagre, uma rosa inglesa que nunca murcha ou empalidece, e é a figura de proa cantando em dois dos filmes mais bem sucedidos jamais feitos: The Sound of Music [A Noviça Rebelde] (64, Robert Wise) e Mary Poppins (64, Robert Stevenson). Que ela tornou a completude em algo como uma condição terminal, e que valentemente resistiu em ser interessante e deveria me ensinar que muitas pessoas encontram prazer no cinema por razões que me deixam perplexo. Apesar destes dois grandes sucessos, ela nunca teve duradouro apoio - de fato, seu brilho inspirador (mas de alguma maneira impassível) e retidão se assemelham ao Natal, enquanto ocasião que toda a família pode se divertir, qualidades que nunca parecem envelhecer.

Na verdade criou o papel de Elza Dollitle nos palcos em Nova York e Londres para My Fair Lady, mas então teve seu papel negado no filme, porque Jack Warner considerava que ela não era sucesso de bilheteria. Assim Audrey Hepburn ganhou o papel, mas não foi permitida cantar e, um ano após, Andrews levaria o Oscar de melhor atriz por Mary Poppins. Pode valer a pena se acrescentar que a abundância e segurança de seus dois filmes surgiram justamente quando a ordem social e otimismo político estavam se desintegrando, como o gelo se quebra na primavera. O resto é bastante estranho: The Americanization of Emily [Não Podes Comprar o Meu Amor] (64, Arthur Hiller) foi além dela; Hawaii [Havaí] (66, George Roy Hill), um fracasso épico; enquanto em Torn Curtain [Cortina Rasgada] (66, Alfred Hitchcock), apenas recusou ser sexy, amedrontada ou excitada. Thoroughly Modern Millie [Positivamente Millie] (67, Hill), a pôs nos anos 20 - havia feito The Boy Friend nos palcos de Londres e Nova York - e foi seu último sucesso verdadeiro. Interpretou Gertrude Lawrence em Star! [A Estrela] (68, Wise), e perdeu, por três horas. 

Iniciou um segundo casamento, com o diretor Blake Edwards, e começou a trabalhar somente para ele. Sua acidez costumeira não teve efeito evidente; de fato, parece antes que ela começou a levá-lo para filmes feitos pela mãe do Tambor: o enorme fracasso de Darling Lili [Lili, Minha Adorável Espiã] (70); The Tamarind Seed [Sementes de Tamarindo] (74); 10 [Mulher Nota 10] (79), no qual teve que subir acima de Bo Derek, que vendeu o filme. Esteve em Little Miss Maker [A Garotinha Que Caiu do Céu] (79, Walter Bernstein); fez uma famosa exibição de seus seios no cáustico, mas instável S.O.B. [S.O.B. - Nos Bastidores de Hollywood] (81, Edwards);  uma interpretação boa e esperta em Victor/Victoria [Vítor ou Vitória?] (82, Edwards); mas não poderia fazer nada para salvar The Man Who Loved Women [Meus Problemas com as Mulheres] (83, Edwards) ou o glorificado filme doméstico That's Life [Assim é a Vida] (86, Edwards). Trabalhou corajosamente como a violinista com esclerose múltipla em Duet for One [Sede de Amar] (86, Andrei Konchalovski), mesmo negligenciando a ausência de talento ou interesse. Fez Our Sons [Nossos Filhos] (91, John Erman), para a TV. 

Parecia explêndida aos 60 e tantos, mas havia perdido sua voz e não parecia excessivamente preocupada em trabalhar. Depois disso, foi esperta o suficiente para reconhecer que não era verdadeiramente uma atriz - então fez filmes ao modo como as rainhas fazem suas turnês, sorrindo e acenando para um público sortudo, recusando em reconhecer seu encolhimento: com Marcello Mastroianni em Cin Cin [Doce Infidelidade]; com James Garner em One Special Night (99, Roger Young); Relative Values [Fofocas de Hollywood] (00, Eric Styles); reunida com Christopher Plummer para a versão televisiva de On Golden Pound [Num Lago Dourado] (01, Ernest Thompson);  a rainha de algum lugar ou outro no surpreendente sucesso The Princess Diaries [O Diário da Princesa] (01, Garry Marshall); como babá em Eloise at the Plaza [Eloise no Plaza] (03, Kevin Lima); Eloise at Christmastime (03, Kevin Lima); The Princess Diaries 2 [O Diário da Princesa 2: Casamento Real] ()4, Garry Marhsall); Shrek the Third [|Shrek Terceiro] (07, Chris Miller); Tooth Fairy [O Fada do Dente] (10, Michael Lambeck); Shrek Forever After [Shrek para Sempre] (10, Mike Mitchell); a voz da mãe de Steve Carell em Despicable Me [Meu Malvado Favorito] (10, Pierre Coffin e Chris Renaud).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 69-71. 

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