Filme do Dia: Culpa (2018), Gustav Möller
Culpa (Den Skyldge, Dinamarca, 2018). Direção: Gustav Möller. Rot.
Original: Gustav Möller & Emil Nygaard Albertsen. Fotografia: Jasper
Spanning. Música: Carl Coleman & Caspar Hessalager. Montagem: Carla Luffe
Heintzelman. Dir. de arte: Gustav Pontoppidan. Com: Jakob Cedergren, Jessica
Dinnage, Omar Shargawi, Johan Olsen, Katinka Evers-Jahnsen.
Asger
Holm (Cedergren), policial recém-transferido para o setor de atendimento de
emergência, após ter praticado um crime em sua conduta na rua, envolve-se muito
além de suas atribuições, com uma chamada de uma mulher chamada Iben (voz de
Dinnage), que afirma ter sido sequestrada pelo ex-marido Michael (Olsen) e que
teve o filho bebê cortado em pedaços, enquanto a filha, Mathilde (Evers-Jahnsen)
permanece sozinha em casa. Asger mobiliza vários artifícios para conseguir
chegar ao ex-casal e no meio de uma conversa com Iben, descobre que as coisas
não são como havia imaginado.
O drama
aqui ocorre, porque o protagonista sai de sua rotina de atendimentos e se
envolve emocionalmente com a históra, ao mesmo tempo que não é exatamente comum
se extrair a dramaticidade mais do áudio que propriamente da encenação visual,
numa linha que remete às produções autorais como Branca de Neve e Blue,
que radicalizam esta perpectiva, embora aqui, ao contrário das duas, tenha-se
uma linha de acontecimentos mais convencional e realista – não convencional é a
opção com a qual é feita. Beneficia-se certamente de uma assistência continuada
e sem interrupções, como na sala de cinema, exceção para a recepção do momento
em que foi lançado, por conta do crescendo, em termos de tensão. Ao privilegiar
a dimensão auricular sobre a visual nem por isso o filme deixa de remeter,
mesmo que involuntariamente, ao espetáculo cinematográfico, tal como Janela Indiscreta o fizera destacando o
olhar. Como naquele temos um personagem relativamente imobilizado e o caráter
de interesse incomum de seu(s) protagonista(s) por um episódio específico que
carrega o filme (aqui menos focado que Hitchcock, já que “subtramas” também são
ouvidas) que demonstra da parte de Jeff um duplo do voyeurismo expectatorial,
em Hitchcock, e aqui um Asger uma reserva de neurose latente que tampouco
poderia deixar de ser associada ao espectador. Em ambos os casos, é da
profissão de seus protagonistas que emerge a pulsão principal e obsessiva. E o
fato de Asger ter sido transferido da rua para o atendimento de emergência faz
com que tenha uma postura bem menos passiva do que seria sua função, ao mesmo
tempo indo de encontro à virtude do herói que se contrapõe às convenções
estabelecidas por se encontrar certo do que faz. Ao contrário da produção norte-americana, no
entanto, tem-se aqui uma bem maior compressão temporal que naquele. E, talvez a
aproximação maior do ambiente retratado na delegacia policial, a mídia
computacional e o isolamento seja mais próxima que o espetáculo
cinematográfico, o que vem a ser potencializado no momento em que Asger se
isola do contato visual dos colegas, na sala solitária e escura na qual se
encontra, iluminada parcamente apenas pela tela do computador. Como no clássico do suspense, o protagonista
liga para o pretenso criminoso e faz “ameaças” veladas. O momento em que o
policial se desliga de si enquanto um comprimido se dilui na água pode ser uma
evocação de Taxi Driver, que por sua
vez já o era de 2 ou 3 Coisas Que Sei
Dela, ainda que a câmera se detenha nele e não no copo. Nordisk Film-SPRING para Nordisk Film Dist.
85 minutos.
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