Filme do Dia: Rua São Bento 405 (1976), Ugo Giorgetti
Panorama do Edifício Martinelli em
vias da desocupação por conta de um pedido de reapropriação do prédio pela
prefeitura. O curta apresenta quase ao início fotos da construção de um prédio
que se tornaria o maior arranha-céu da América Latina de sua época, final dos
anos 20, mas que curiosamente não havia sido intencionalmente planejado para
sê-lo, ocorrendo sua elevação a partir da ideia de seu dono Giuseppe
Martinelli. Ao fim da Segunda Guerra, o prédio seria confiscado pelo governo
brasileiro sob alegação de que o principal capital dele era italiano, inimigo
da guerra do Brasil. Inicia um período em que o prédio passa por um decadência
visível, que atingiu seu auge no momento em que esse curta foi realizado, no
qual um dos depoentes afirma que sonhado como o maior prédio latino-americano,
havia se transformado em seu maior cortiço. Giorgetti passeia por seus
corredores, entrevista moradores e trabalhadores de firmas – um desses últimos
afirma que apenas deviam sair os moradores, não as firmas e que apesar dos
funcionários gostarem, não havia empregadas mulheres, pelo temor da falta de
segurança do prédio. Existindo de tudo um pouco, de loja de aprendizes de
relojoaria a estúdio cinematográfico, cuja produção se encontra interrompida
por falta de verbas . O filme, por vezes, parece acentuar ainda mais a relação
de poder imposta por uma câmera diante de vários de seus humildes
entrevistados. Algumas vezes no próprio processo de contato direto com seus
moradores, como quando é indagado de uma moradora se ela paga aluguel e essa responde
cabisbaixa que não ou quando flerta com uma veia voyeurística cômica ao
apresentar o sonho do ascensorista de ser um galã de filmes de cowboy,
apresentando-o vestido em trajes a rigor, quando a dose de perversão se estende
sobretudo ao comentário over,
afirmando que ele levará menos que os sonhos quando for, dada a quase
inexistência de objetos pessoais do mesmo. O mesmo se pode dizer de um dos dois
bares que existe, do qual saíram fregueses e proprietários certamente quando
souberam da chegada da produção. E talvez para culminar todas as
idiossincrasias observadas, existe o senhor que mora em um amplo espaço e que,
acostumado com a vida numa fazenda, resolveu soltar seus pássaros no ambiente
de morada, para trazer um pouco da natureza para a cidade, sendo essas últimas
palavras duplicadas em tom de ironia pelo narrador. Enquanto ele fala,
observamos o vôo frenético dos pássaros sobre as cabeças de todos. Giorgetti
voltaria ao tema do edifício ocupado por moradors de baixo poder aquisitivo em seu
universo ficcional. Espiral Cinema Educação e Audiovisual/Villa Cinema e Som.
22 minutos.
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