Filme do Dia: Bonnie & Clyde (1967), Arthur Penn
Bonnie
& Clyde – Uma Rajada de Balas (Bonnie
and Clyde, EUA, 1967). Direção: Arthur Penn. Rot. Original: David Newman
& Robert Benton. Fotografia: Burnett Guffrey. Música: Charles Strouse.
Montagem: Dede Allen. Dir. de arte: Dean Tavoularis. Cenografia: Raymond Paul.
Figurinos: Theadora Van Runkle. Com: Warren Beatty, Faye Dunaway, Micheal J.
Pollard, Gene Hackman, Estelle Parsons, Denver Pyle, Dub Taylor, Gene Wilder,
Evans Evans, Mabel Cavitt.
1934. A jovem Bonnie Parker (Dunaway) é
motivada a fazer parte das ações criminosas de Clyde Barrow (Beatty). Unem-se a
dupla posteriormente o então balconista C.W. Moss (Pollard), o irmão de Barrow,
Buck (Hackman) e sua esposa Blanche (Parsons). O quinteto vivencia vários
assaltos a banco e carros, fugas e tiroteios com a polícia. O cerco ao grupo começa
a se tornar iminente após a captura de Buck e Blanche. Essa, fragilizada com a
morte do marido, sua captura pela polícia e a visão perdida após um tiro no
rosto, entrega informações importantes para Frank Hamer (Pyle), caçador de
bandidos texano que já havia sido humilhado pelo grupo. Feridos, Bonnie e Clyde
buscam refúgio na casa do pai de C.W., Ivan (Taylor), porém o velho não gosta
de ver o filho envolvido com a dupla. Mancomunado com a polícia, finge estar
trocando um pneu como pretexto para a emboscada onde o casal é fuzilado à
queima-roupa.
Considerado, juntamente com A Primeira Noite de um Homem, do mesmo
ano, como marco inaugural da New Hollywood, em que a produção do cinema autoral
europeu começa a influenciar de sobremaneira à norte-americana, o filme remete a
uma tradição que não mesmo se iniciando com ele – vários noirs possuíam algum paralelo, apresentando casais fora-da-lei e Mortalmente Perigosa de Joseph H. Lewis
o antecipa, em vários aspectos, em quase duas décadas, tornar-se-á, no entanto,
referência sobretudo em relação aos limites em que a encenação da violência
passa a ganhar nas telas do cinema, tratando-se do primeiro filme a fazer uso
extensivo de saquinhos de “sangue” que explodiam com os tiros, além de outras
licenças de maior descrição gráfica de atos violentos. Beatty, produtor,
encarna um Clyde sem energia sexual que, a determinado momento, chora ao perceber a fuga de Bonnie do
grupo. Dunaway alcança o estrelato relativamente breve que é destinado às
atrizes hollywoodianas (mais ou menos até Rede de
Intrigas, de menos de dez anos depois). Pollard e Parsons vivenciam tipos um
tanto caricatos de caipiras. Cavitt é uma moradora local e não uma atriz
profissional, não aparecendo em qualquer outro filme, e emprestando algo de sua
espontaneidade e estranhamento com a
situação – trata-se do inesperado surgimento da filha com a gangue para
reencontrar a família - ao personagem da
mãe de Bonnie. Grande parte do sucesso do filme certamente, tal como o de
Nichols, provavelmente adveio de seu flerte um tanto populista e fácil com uma
visão anti-conformista dos rebeldes, angariando alguma simpatia entre os
despossuídos como apresentado numa cena em um acampamento improvisado.
Procurando ser poético no momento do reencontro de Bonnie e sua mãe, fazendo
uso de um filtro que deixa a imagem algo emaciada e evocativa de uma bitola não profissional sem perder
nunca a bússola da espetacularização, como demonstra o massacre final em câmera
lenta, recurso que posteriormente se tornará uma das marcas registradas de Sam Peckinpah. Malick, mesmo sofrendo visível influência desse filme, como
praticamente todos os que tematizaram algo semelhante posteriormente (Assassinos por
Natureza, nesse sentido, pode ser considerado como uma atualização do gênero
tal como o filme de Penn o fora em relação ao de Lewis) traz um estilo bastante
distinto, ambíguo, nada indulgente ou populista e distante da espetacularização
com seu longa de estreia, Terra deNinguém. O musical que o casal
assiste no cinema com C.W é Cavadoras de
Ouro (1933),
que mesmo não sendo dirigido por ele, apresenta uma das típicas coreografias
extravagantes de Busby Berkeley. National Film Registry em 1992. Warner Bros./Seven
Arts/Tatira-Hiller Prod. para Warner Bros./Seven Arts. 111 minutos.
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