Filme do Dia: A Cidade onde Envelheço (2016), Marília Rocha
A Cidade onde Envelheço (Brasil, 2016). Direção: Marília Rocha. Rot. Original:
João Dumans, Thais Fujinaga & Marília Rocha. Fotografia: Ivo Lopes Araújo.
Montagem: Francisco Moreira. Dir. de
arte: Thaís de Campos. Com: Elizabeth Francisca, Francisca Manuel, Paulo
Nazareth, Jonnata Doll, Wanderson Dos Santos.
Uma portuguesa que mora em Belo Horizonte,
Francisca (Manuel), recebe uma conterrânea, Teresa (Francisca). Inicialmente
distantes e apresentando temperamento bastante distinto, Francisca,
aparentemente mais regrada, incomoda-se com a pressa que Teresa se apossa do
espaço do apartamento para trazer amigos, um rapaz que conheceu e vivencia uma
relação não especificada por ela própria (“hoje não existe mais namorar”) e até
um cachorro, que pertence a ele. Aos poucos, no entanto, as duas constroem uma
amizade crescentemente cúmplice. Chegam a visitar apartamentos para uma nova
moradia, mas Teresa para completa surpresa de Francisca, afirma que pretende
retornar a Portugal.
O filme passeia entre um delicado panorama das
duas garotas, centrado sobretudo em uma cartografia subjetiva que é o elemento
tipicamente contemporâneo que se alia ao fato das duas não serem atrizes e vivenciarem
situações muito próximas de si, gerando uma “autenticidade” na melhor tradição
neorrealista. Ao se centrar nos aspectos mais comezinhos do cotidiano das duas
personagens não existe a ausência de momentos que incorporam certas facilidades
que criem uma empatia com o público. Porém, de uma maneira geral, é uma bem
construída espirituosidade que se destaca. Um dos grandes trunfos do filme, sem
dúvida alguma, é se afastar da aparente polaridade que se esboça ao início, com
Teresa enquanto mais aberta para o mundo e simpática, e Francisca como mais
turrona, controladora e racional. Posteriormente se observará fragmentos da
subjetividade de Francisca, que desconstroem qualquer ranço de insensibilidade,
assim como um momento em que entrar em crise de “desterro” no Brasil, enquanto
Teresa demonstra bem menor tolerância para a falta de acabamento e improviso
dos equipamentos brasileiros, assim como para com a “folga” dos brasileiros,
sempre a pedir sem o menor pudor, por exemplo, para fumarem parte do cigarro
dela, para ficar em apenas uns poucos exemplos dessa desconstrução. Vitrine
Filmes. 99 minutos.
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