Filme do Dia: Vidas Sem Rumo (1952), Mikio Naruse
Vidas Sem Rumo (Inazuma,
Japão, 1952). Direção: Mikio Naruse.
Rot. Adaptado: Sumie Tanaka, baseado no romance de Fumiko Hayashi.
Fotografia: Shigeyoshi Mine. Música: Ichirô Satô. Dir. de arte: Mikio Naka.
Com: Hideko Takamine, Mitsuko Miura, Kyôko Kagawa, Chieko Murata, Jun Negami,
Eitarô Osawa, Kumeko Urabe, Chieko Nakakita.
Kiyoko (Takamine) é uma jovem de 23
anos pressionada pela mãe Osei (Urabe) e parentes próximos para casar. Kiyoko,
no entanto, resiste a idéia de casamento, sobretudo ao observar que suas irmãs
não levam uma vida muito interessante após casadas. Uma delas, inclusive,
despreza o marido por considerá-lo fraco e alcoólatra. Outra, após a morte do
marido, descobre que esse tivera um filho com uma amante que vive em situação
de pobreza e lhe pede dinheiro. Ao mesmo tempo, recusa firmemente as tentativas
da família de lhe impor um homem que não lhe agrada. Após sair de casa, para
viver na casa de uma senhora da faixa etária de sua mãe, é que Kiyoko se agrada
de um jovem pianista seu vizinho.
O fato da narrativa ser centrada em
uma família nuclear sugere aproximação maior com O Som da Montanha (1954), porém estilisticamente o filme está longe
de ser tão próximo ao universo de Ozu quanto aquele. Aqui dramas econômicos e
afetivos de mulheres, tema único, ao menos nesse momento de sua carreira, de
toda a extensa fimografia do realizador
que lutam para manter sua dignidade e sua autonomia num Japão ainda
marcado por intensas dificuldades econômicas provocadas pela guerra, volta a
ser abordado. A simpatia de Kiyoko dispensada a figuras femininas próximas pode
até sugerir certo erotismo lésbico latente em sua protagonista, sempre esquiva
a falar ou pensar na possibilidade de se relacionar com homens, que considera
“bestas”, após flagrar uma discussão que finda em agressão física, em sua
própria casa. Essa sensação de
deslocamento diante do rude e fechado universo no qual vive a faz sofrer e
optar pela solidão, algo que somente vem ser redimensionado após conhecer um
homem com perfil bem distinto dos que sempre freqüentaram sua casa, o belo e
sensível vizinho, munido inclusive de dotes artísticos – são acordes de piano
clássico, inclusive, o mesmo que é escutado ao longo dos créditos iniciais, já
antevisando essa união que, como em boa parte dos filmes de Naruse, é apenas
sutilmente sinalizada. Alías, esse não parece ser o foco de preocupação maior
do filme, como na maior parte da obra de Naruse. A relação de Kiyoko com as
mulheres de sua família aqui ganha prevelência maior. Algo que fica ainda mais
ressaltado pela cena que fecha o filme. Tudo é administrado com o magnífico
senso de ritmo e com o distanciamento emocional com que narra todo o ocorrido.
Toho. 87 minutos.
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