The Film Handbook#150: Andrei Tarkovski
Andrei Tarkovski
Nascimento: 04/04/1932, Zavrazhe, URSS (hoje Rússia)
Morte; 29/12/1986, Paris, França
Carreira (como diretor): 1956-1986
Amplamente considerado um dos mais profundos realizados dos últimos anos, Andrei Arsenevich Tarkovski foi certamente possuidor de uma visão não comprometida de mundo, ao mesmo tempo poética e espiritual. Seus últimos filmes, no entanto, são profundamente prejudicados pela auto-indulgência e tendem a se direcionar ao obscurantismo e a um distanciamento frio e intelectual que se torna de difícil equação com sua busca pela questão da salvação da humanidade.
Filho do poeta Arseni Alexandrovich, Tarkovski realizou dois curtas na escola de cinema: Hoje Não Haverá Saída Livre/Segodnya Uvolneniya ne Budet e o média metragem O Rolo Compressor e o Violinista/Katok i Skripka, no qual um garoto, que treina para ser músico, torna-se amigo de um operário da construção, que então aprende o valor da arte. Seu longa de estreia, A Infância de Ivan/Ivanovo Detstvo>1 foi bem mais sombrio, seu herói órfão reverenciado por seus superiores adultos por sua audaciosa incursão enquanto um espião por trás das linhas inimigas alemãs durante a Segunda Guerra, sendo por fim capturado pelos inimigos e executado; se a história do filme foi relativamente convencional, ainda assim deu amplas evidências da sensibilidade visual lírica de seu diretor, especialmente nos planos de águas tranquilas e florestas enevoadas, e de sua atitude quase mística em relação tanto ao mundo natural quanto a santidade do rapaz. Ainda mais notável por seu penetrante simbolismo cristão foi Andrei Rublev>2 um épico longo e episódico sobre um monge do século XV e um pintor de ícones que fez voto de silêncio - sua resposta a violência e torturas horrendas numa ainda dividida Rússia assolada pelos tártaros. O voto vem logo a ser abandonado quando encontra um garoto que carrega um sino gigantesco, motivado pela fé - o milagre da façanha de restaurar a própria crença de Rublev; seu lançamento, no entanto, foi adiado pelas autoridades soviéticas, que insistiam em cortes.
Onde questões pessoais, históricas e metafísicas se encontram: O Espelho, de Tarkovski. |
Após Solaris, uma épica ficção científica incomumente reflexiva mas portentosa sobre cientistas que, observando um planeta remoto, numa precária estação espacial, encontram-se eles próprios visitados por figuras fisicamente tangíveis, provenientes de suas próprias fantasias e memórias, em O Espelho/Zerkalo>3, volta-se para as reminiscências autobiográficas. Grandemente fragmentada e onírica mescla de imagens dramáticas e documentais, o resultado foi por vezes uma tentativa visualmente arrebatadora de mistura de história privada e social, mas aparentava ser frequentemente deliberadamente obscura e indulgente. Stalker>4, pelo contrário, foi um modelo de clareza linear, no qual a odisseia de três homens - Stalker, o Escritor e o Cientista - através de uma sombria e desolada Zona Proibida a um Quarto onde, diz-se, as preces são atendidas, serve como uma alegoria implacável sobre as dificuldades da fé e da necessidade de humildade. Novamente, o filme foi aclamado por suas incomuns qualidades visuais, consistindo de longos planos e composições resolutas e grandemente formais inicialmente abstraídas de cor; uma vez mais, igualmente, foi prejudicado por tom estranhamente detalhado e cerebral, com diálogos empolados e caracterizações fracas, transformando os três peregrinos em códigos bidimensionais e inumanos.
Realizado na Itália, Nostalgia chamou atenção sobretudo por sua história ainda mais obscura, de um musicólogo russo que encontra um recluso italiano suicida. considerado por todos louco, refletindo os sentimentos de seu realizador sobre viver e trabalhar distante de sua terra natal; estranhamente, apesar do filme tornar implícito que é impossível para um russo ser feliz no estrangeiro, deparou-se com hostilidade oficial, encorajando portanto Tarkovski a permanecer no exílio. O Sacríficio/Offret foi realizado, portanto, na Suécia; sobre um ator cujos temores de uma guerra nuclear levam-no a fazer um pacto com Deus que, em troca da segurança de sua família, pretende oferecer todas as suas propriedades e se afastar do contato com a humanidade. O filme sofre com sua algo controversa religiosidade e um desencantamento mórbido com as aspirações e conquistas humanas. Pode ser levado em conta que o crescente pessimismo de Tarkovski se encontrasse relacionado não somente com seu exílio relutante da Rússia, mas igualmente com a deterioração de sua saúde; após um ano do término do filme, ele morreria de câncer.
Mesmo não existindo dúvidas sobre a seriedade de Tarkovski ou de sua habilidade para criar imagens sublimes belamente austeras, sua grandiosidade e gosto por narrativas pesadas e obscuras rendem a muito de sua obra um caráter nada atrativo ou iluminador. Pode ser que suas preocupações fossem, ao final de contas, tanto demasiado privadas quanto cerebrais para serem comunicadas claramente através de um meio tão preocupado com as superfícies visuais quanto o cinema.
Cronologia
Enquanto admirador de Dovjenko e (juntamente com Konchalovski, antigo colaborador), aluno de Mikhail Romm, Tarkovski pode ser comparado a Dreyer, Bergman, Bresson, Antonioni e Herzog. Dentre os soviéticos contemporâneos Paradjanov, George Shengelaya, Larissa Shepitko e Klimov são talvez próximos em termos de estilo.
Leituras Futuras
The Cinema of Andrei Tarkovski (Londres, 1987), de Mark Le Fanu; Esculpir o Tempo (São Paulo, 1988) traz sua teoria do cinema.
Destaques
1. A Infância de Ivan, URSS, 1962 c/Nikolai Burliaev, Valentin Zubkov, E. Zharikov
2. Andrei Rublev, URSS, 1966 c/Anatoly Solonitsin, Ivan Lapikov, Nikolai Grinko
3. O Espelho, URSS, 1974 c/Margarita Terekhova, Philip Yankovski, Ignat Daniltsev
4. Stalker, URSS, 1979 c/Alexander Kaidanovski, Anatoly Solonitsin, Nikolai Grinko
Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 280-2.
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