Filme do Dia: O Canto da Saudade (1952), Humberto Mauro
O Canto da Saudade (Brasil, 1952).
Direção e Rot. Original: Humberto Mauro. Fotografia: José de Almeida Mauro.
Montagem: Luiz Mauro. Cenografia: Alaíde Faria. Com: Cláudia Montenegro, Mário
Mascarenhas, Humberto Mauro, Alfredo Souto de Almeida, Zizinha Macedo, Alcir
Damata, Bruno Mauro, Lourival Coutinho.
Na provinciana Volta Grande, interior
de Minas, o sanfoneiro Galdino (Mascarenhas) sofre em sua paixão platônica por
Maria Fausta (Montenegro), que é apaixonada por João do Carmo (Almeida). O
namoro de Fausta com Carmo é reprovado pelo pai e apoiado por Garrincha
(Macedo), a geniosa esposa do Coronel Januário (Humberto Mauro) que, ao mesmo
tempo, força Januário a se candidatar a prefeito. A harmonia da pequena Volta Grande é abalada com o
desaparecimento de Maria Fausta, após ter sido agredida pelo pai na noite de
seu aniversário ao flagrá-la nas mãos de João do Carmo. Na fazenda de Januário
acresce no pesar ao desaparecimento de Fausta a flagrante derrota de Januário
nas urnas. Após certo tempo, no entanto, descobre-se que o sumiço de Maria
Fausta fora uma estratégia de Garrincha, que promove o casamento da moça com
Carmo. O Coronel consegue demover a antipatia do pai da garota pelo genro,
selando a paz na fazenda. Sobre Galdino nunca mais nada se soube.
Construído a partir de uma dupla
narrativa, com o próprio Mauro anunciando no rádio o início da história (num
certo tom wellesiano), sendo a mesma contada por uma professora da escola local
para os seus pequenos alunos, ainda que o recurso seja um tanto dispensável, no
sentido de que à parte ser um bom pretexto para explicitar a sua dívida com os
“causos”, provavelmente herdeiros da própria cultura local da cidade onde Mauro
nasceu, demonstra ser tão supérfluo, que nem mesmo se necessita voltar a ele ao
final do filme. Repleto de imagens pastorais do campo que fazem parte de um
universo igualmente grandemente explorado pelo cineasta em seus
curtas-metragens contemporâneos, o filme apresenta alguma das imagens mais
grandiloquentes da carreira de Mauro, como a seqüência do sonho de Galdino, que
vê sua arte de músico reconhecida pela própria natureza. Ultimo longa-metragem
do cineasta, aqui se afastando por completo do tom de exaltação oficial da
cultura brasileira presente nos filmes que dirigiu à época do Estado Novo como O Descobrimento do Brasil (1937) e Argila (1940) reaproximando-se, por
outro lado, da veia poética e despretensiosa na descrição nostálgica de um
Brasil arcaico e que se acredita presente no seu período que produziu filmes
mudos em Cataguazes com que passou a ser considerado pelos críticos e cineastas
próximos do Cinema Novo. Estúdios Rancho Alegre. 100 minutos.
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