Filme do Dia: Concerto Macabro (1945), John Brahm
Concerto Macabro (Hangover Square, EUA, 1945). Direção: John Brahm. Rot. Adaptado: Barry Linde a partir do romance de Patrick Hamilton. Fotografia: Joseph LaShelle. Música: Bernard Hermann. Montagem: Harry Reynolds. Dir. de arte: Maurice Ransford & Lyle R. Wheeler. Cenografia: Frank E. Hughes & Thomas Little. Figurinos: René Hubert. Com: Lair Cregar, Linda Darnell, George Sanders, Glenn Langan, Faye Marlowe, Alan Napier, J.W.Austin.
Na Londres do início do século, o
talentoso George Bone (Cregar) é convidado pelo pai de sua noiva, Barbara
(Marlowe), Henry (Napier), a apresentar em concerto pela primeira vez suas
composições eruditas. Os “lapsos” crescentes de memórias que acompanham Bone, fazem
com que ele se acredite como responsável pela morte de um antiquário, algo que
o dr. Allan Middleton (Sanders) não acredita, porém o aconselha a não estafar
muito sua mente e buscar programações populares. Bone vai a um recanto popular
onde se sente grandemente atraído pela cantora Netta Longdon (Darnell). Netta,
sabendo que Bone se sente atraído por ela, manipula-o para que ele componha
canções para ela, porém pretende se casar com Eddie Carstairs (Langan). Quando
sabe de tudo, Bone se sente ridicularizado e traído e, numa de suas crises, assassina
Netta. Na noite que se prepara o seu concerto, Allan Middleton descobre a verdade
sobre Bone.
Brahm realizou essa releitura de
motivos e ambientes associados a outros filmes mais bem sucedidos como O Médico e o Monstro (1931), de
Mamoulian, através da comum apropriação de leituras psicanalíticas que viviam
seu auge no período e de uma explicação mais realista e menos fantástica para
as motivações do personagem. Porém, a essência motivacional permanece a mesma e
imbricada, como na célebre adaptação de Stevenson, ainda que de modo mais
sutil, entre desejo de transgressão e convenção. Aqui numa mente polarizada
entre a mulher burguesa como esposa e a música erudita de um lado e a vamp fatal e traiçoeira e a música
popular de outro. Tais motivações psicanalíticas, geralmente incorporadas a
enredos contemporâneos aqui – como em Á
Meia-Luz (1944), de Cukor – voltam-se para o passado, mesmo que o filme
esteja longe de criar a mesma sensação atmosférica e suspense da realização
dirigida por Cukor. Darnell consegue impor toda a sensualidade que o seu
personagem pede e a interpretação de Cregar, morto antes mesmo do filme ser
lançado, tampouco deixa de ser adequada, mesmo ressaltando a incorporação dos
cacoetes poucos discretos e talvez
excessivamente esquemáticos para os padrões de hoje da passagem do seu momento
psicótico para a normalidade e vice-versa. Brahm, de certo modo, já havia
deixado claro que não se importava tanto com a dimensão de suspense ao creditar
no elenco em papéis bastante semelhantes ao seu filme anterior, Ódio que Mata (1944), Sanders e Cregar.
É interessante pensar que a aparente influência do filme de Mamoulian se
refletiu para além do conteúdo, presente em um prólogo igualmente guiado por
uma câmera subjetiva representando o protagonista. 20th
Century-Fox. 77 minutos.
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