Filme do Dia: O Fantasma da Liberdade (1974), Luis Buñuel

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Fantasma da Liberdade (Le Fantôme de la Liberté, França/Itália, 1974). Direção: Luis Buñuel. Rot. Original: Luis Buñuel & Jean-Claude Carriére. Fotografia: Edmond Richard. Montagem: Hélène Plemiannkov. Dir. de arte: Pierre Guffroy. Cenografia: François Sune. Figurinos: Jacqueline Guyot. Com: Adriana Asti, Julien Bertheau, Jean-Claude Brialy, Adolfo Celi, Paul Frankeur, Michael Lonsdale, Pierre Maguelon, François Maistre, Hélène Perdriére, Michel Piccoli, Jean Rochefort, Milena Vukotic, Monica Vitti, Philippe Brigaud, Jean Champion, Muni, Marie-France Pisier, Pierre-François Pistorio, Pierre Lary.
Uma empregada (Muni) narra o que lê para uma mulher que se encontra sentada a seu lado. Enquanto isso, um homem estranho (Brigaud) aproxima-se das filhas do Sr. Foucauld (Brialy) e, quando chegam em casa e a mãe (Vitti) descobre as fotos, a empregada é despedida e as fotos – paisagens e monumentos famosos – são entregues às filhas. À  noite, o Sr. Foucauld é despertado a cada hora por um acontecimento inesperado, seja um galo, uma avestruz ou um carteiro que lhe entrega uma correspondência. Ele visita um clínico geral (Champion), que o aconselha a fazer análise. Em meio a consulta, a assistente do clínico (Vukotic) afirma que necessita visitar seu pai enfermo. Ela tem que interromper sua viagem e militares que buscam raposas, afirmam que a estrada encontra-se bloqueada pelos efeitos da chuva. A enfermeira se refugia em uma estalagem onde convive com tipos diversos, desde um grupo de frades carmelitas, até um sobrinho, François (Pistorio) que fantasia praticar o incesto com sua tia (Perdriére) e um chapeleiro (Lonsdale) masoquista. No dia seguinte ela dá carona a um professor (Maistre) que dirige-se para uma aula em uma academia de polícia. Porém suas aulas são perturbadas pelo constante entre e sai dos alunos. Um dos poucos que permanece, o Sr. Legendre (Rochefort) vai ao médico (Celi) e descobre que se encontra com câncer e, ao chegar em casa, sabe do desaparecimento de sua filha na escola. Eles vão até lá e percebem que a filha lá se encontra, mas decidem ir à polícia para prestar queixa por seu desaparecimento. O comissário de polícia (Bertheau) que atende ao casal Legendre sai no meio do expediente para um bar onde encontra uma mulher (Asti) que é muito semelhante a sua falecida irmã. No meio do diálogo com a mesma, recebe uma ligação da própria irmã, pedindo que lhe visite no cemitério, que ela irá lhe revelar o segredo sobre a morte. Ao entrar em seu jazigo é preso e só é reconhecido como comissário por um colega seu (Piccoli). De cima de um arranha-céu um homem (Lary) começa a atirar nos transeuntes. Preso e condenado a morte, recebe congratulações e abandona o local cercado por fãs. Os dois comissários de polícia recebem a notícia de que deverão enfrentar uma rebelião dentro do zoológico.

Esse que é um dos melhores filmes do mestre espanhol, faz parte de uma trilogia que volta a remodelar aspectos da estética surrealista – os outros são O Estranho Caminho de São Thiago e O Discreto Charme da Burguesia– para efetivar uma explosiva sátira sobre os valores contemporâneos. Já em seu prólogo pregando uma peça no expectador ao iniciar por uma narrativa histórica do fuzilamento de alguns líderes rebeldes pelo Exército Napoleônico, que logo descobriremos ser apenas a leitura de um livro de um dos personagens, o filme consegue com rara habilidade, apresentar seu nonsense inserido na atmosfera aparentemente mais verossímil possível. As narrativas dentro de narrativas e o fio narrativo que passa de personagem para personagem, numa trajetória olímpica, são evocativas da estrutura narrativa de alguns filmes de Max Ophüls, assim como de O Manuscrito de Saragoça, igualmente influenciando no estilo de outros cineastas,  como David Lynch e Robert Altman, seja nos elementos surrealistas ou na própria dinâmica de trabalhar com uma polimorfa deshierarquização do elenco. Entre as evidentes alusões ao mecanicismo do mundo moderno, preocupado antes de tudo com os procedimentos formais, se encontra a brilhante seqüência do “desaparecimento” da filha do policial. Buñuel e seu produtor Silberman encontram-se entre os figurantes que são mortos na seqüencia inicial. O cineasta alude galhofamente ao cinema italiano, seja quanto ao incesto entre sobrinho e tia (tema de Antes da Revolução, de Bertolucci, do qual Asti, também presente no elenco, é protagonista) e no personagem com nome de Pasolini, vivido por Celi, ator de longa carreira no Brasil, sobretudo nos estúdios Vera Cruz. O título faz referência ao Manifesto Comunista de Marx. Euro International Film/Greenwich Film Productions. 104 minutos.

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