Filme do Dia: Pouco a Pouco (1970), Jean Rouch
Pouco a Pouco (Petit a
Petit, França, 1970). Direção, Rot. Original e Fotografia: Jean Rouch.
Montagem: José Matarasso & Dominique Villain. Com: Lam Dia, Damouré Zika,
Safi Faye, Ariane Bruneton, Philippe Luzuy, Michel Delahaye.
Damouré (Zika) e Lam (Dia) pretendem construir uma
edificação de luxo para sediar sua empresa, Petit a Petit, em Niamey, Níger. O modelo são os arranha-céus
europeus. Damouré decide viajar para
Paris, para investigar a arquitetura e a cultura francesas. Inicialmente
encantado com o tamanho da cidade, logo Damouré ficará horrorizado ao descobrir
que os frangos que comem não são degolados, que os homens parecem mulheres e
vice-versa e que as mulheres parisienses se vestem muito mal. Preocupado com os
gastos exorbitantes do amigo e com as informações que ele envia em suas cartas,
Lam parte em encontro ao amigo. Juntos encontram uma estilista africana, uma
jovem francesa que se torna secretária da empresa, Ariane (Bruneton) e um
alcóolatra que vive perambulando pelas ruas. Todos são contratados para fazerem
parte da empresa e partem com Damouré e Lam para o Níger. Todos os três, no
entanto, não se adaptam a realidade e ao clima diferenciados. Mesmo se casando
com Damouré e Lam, tanto a estilista quanto a africana decidem partir, quase no
mesmo momento que o ex-beberrão. Com a partida das garotas, a dupla de sócios
decide desfazer a empresa e se voltam para um estilo de vida simples e mais
condizente com a comunidade em que se encontram inseridos.
Uma das últimas tentativas de
realização das estratégias dramáticas que Rouch deu o nome de “etno-ficção”.
Apesar de alguns momentos interessantes, como os que Damouré sai tomando as medidas dos crânios e
observando os dentes dos franceses, revertendo práticas efetivadas por décadas
pela antropologia (como pode ser visto no brasileiro Ao Redor do Brasil) e por outras ciências atreladas de alguma
maneira ao projeto colonial europeu, o filme está longe de possuir a mesma
verve humana e “espontaneidade” de Jaguar
e Eu, um Negro. Aqui tudo parece se
orquestrar de uma forma tão explícita enquanto crítica colonial – sendo os
africanos também servidos por seus funcionários europeus, em outra reversão de
estereótipos coloniais – que o filme se transforma, em última instância, numa
ingênua crítica à imitação do desumano e anti-ético sistema capitalista,
macaqueado de forma amadora pelos africanos. A cópia do modelo da metrópole é
tomada apenas enquanto bizarra constatação da dependência cultural dos países
periféricos e não uma imposição das próprias relações econômicas e sua saída –
o retorno a um modo de vida que despreza o capital, imbuído de um romantismo e
mistificação ainda maiores e menos poéticos que os de Pasolini. Les Films de la Pléiade. 96 minutos.
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