Filme do Dia: Flores Raras (2013), Bruno Barreto
Flores Raras (Brasil, 2013). Direção:
Bruno Barreto. Rot. Adaptado: Matthew Chapman & Julie Sayres, a partir do
romance Flores Raras e Banalíssimas. Fotografia: Mauro Pinheiro Jr. Música: Marcelo
Zarvos. Montagem: Letícia Giffoni. Dir. de arte: José Joaquim Sales.
Cenografia: Clara Rocha. Figurinos: Marcelo Pies & Mary Jane Marcasiano.
Com: Glória Pires, Miranda Otto, Tracy Middendorf, Marcello Airoldi, Treat
Williams, Tânia Costa, Lola Kirke, Marianna Mac Niven, Márcio Ehrlich.
Lota de Macedo Soares (Pires)
arquiteta e grande amiga de Carlos Lacerda (Airoldi) recepciona com sua
companheira, Mary (Middendorf) a poeta norte-americana Elizabeth Bishop (Otto),
amiga de juventude de Mary. Da antipatia inicial de Lota pela reserva excessiva
de Bishop, surge uma paixão fulminante. Mary percebe de imediato e a situação
fica tensa, mas Lota consegue fazer com que Mary não abandone a residência,
cercada de uma enorme área verde e conhecida como Samambaia, realizando o sonho
dela de adotar uma criança. Bishop, por sua vez, tem um estúdio à parte da
casa. Nos dias de glória, Lota comemora sua indicação para levar a frente o
projeto do Aterro do Flamengo por indicação do agora governador Lacerda e
Bishop ganha o Pulitzer, porém a crescente dependência do álcool, o desgaste na
relação entre ambas, o golpe militar e um convite para ensinar em Nova York,
faz com que Bishop parta novamente para os Estados Unidos. Lá, recebe a visita
de Lacerda, que lhe diz que Lota se encontra internada em um hospital
psiquiátrico com forte depressão após a partida de Bishop, a quem
carinhosamente chamava de Cookie, assim
como ter perdido o controle sobre o projeto do parque. Bishop viaja para
o Brasil, mas é impedida de entrar em contato com Lota. Essa, quando se
encontra aparentemente em melhor estado viaja para Nova York, mas pouco depois
de chegar é surpreendida por Bishop morta com um vidro de anti-depressivos ao
lado.
Iniciando de forma mais auspiciosa que
o seu desenrolar, mais burocraticamente morno e dessinteressante, como se o
gradual desencanto entre as personagens se espraiasse para o filme, essa
produção conta com boas interpretações – mesmo faltando maiores nuances entre a
passagem da auto-determinada e forte personagem vivida por Pires para o seu
derradeiro e melancólico final, o que talvez seja mais uma falha de
estruturação do roteiro que propriamente da atriz – e uma direção de arte que
nada fica a desejar ao padrão internacional. Sem abdicar de apresentar várias
cenas de afetividade entre o par principal assim como referências aos poemas de
Bishop, seu crescente definhamento dramático faz com que o esgarçamento afetivo
de Lota e Bishop não seja vivenciado com a necessária empatia – ainda que a
partida dessa seja elaborada de forma a evitar o melodrama. Se existe algum
trunfo nesse filme, para além dos valores de produção, esse reside na forma
como desconstrói qualquer essência de quem seja forte ou fraca, por mais que
quando tal paralelo tenta ser construído em termos de uma similar contraposição
entre os Estados Unidos e o Brasil não funcione a contento e soe forçoso, na
comparação às recepções da morte de Kennedy e do golpe militar pelo discurso de
Bishop. Talvez o maior termômetro para se observar o descompasso entre o
lirismo da poesia da norte-americana e a anêmica moldura dramática do filme se
dê quando da leitura de algumas de suas poesias. Seu preciosismo visual, assim
como trama envolvendo amor lésbico em período histórico semelhante podem
sugerir comparações relativas com Carol. Pires seria novamente escalada em uma
cinebiografia de outra brasileira célebre e, como Lota, adiante de seu tempo,
em Nise: O Coração da Loucura. Ao
contrário desse, Barreto evita julgamentos morais e maniqueísmos entre os
retratados – Lacerda, por exemplo, vem a ser retratado sob o prisma mais
cordial possível, como que a reboque da perspectiva de sua amiga Lota. LC
Barreto Prod./Imagem Filmes/Globo Filmes/Globosat-Telecine/Teleimage. 118
minutos.
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