Filme do Dia: A Honra Perdida de Katharina Blum (1975), Volker Schlondörff & Margareth Von Trotta
A Honra Perdida de Katharina Blum (Die Verlorene ehre der Katharina Blum,Al.
Ocidental, 1975). Direção: Volker Schlondörff & Margarethe Von Trotta. Rot.
Adaptado: Volker Schlondörff & Margareth Von Trotta, a partir do livro homônimo
de Heinrich Böll. Fotografia: Jost Vacano. Música: Hans Werner Henze. Montagem:
Peter Pryzgodda. Dir. de arte:
Ute Burgmann & Günther Naumann. Figurinos: Reinhild Paul & Annette
Schaad. Com: Angela Winkler, Mario Adorf, Dieter Laser, Jürgen Prochnow, Heinz
Bennent, Hannelore Hoger, Rolf Becker.
1971. Katharina
Blum (Winkler) passa a ter sua intimidade devassada pela polícia e imprensa,
após ter se envolvido com Ludwig Götten (Prochnow), a quem dormira uma única
vez após uma festa. Ao acordar, seu apartamento é invadido pela polícia, que
procura por Ludwig, acusado de terrorismo. Katharina sofre tortura psicológica,
o jornalista Tötges (Laser) não se escusa de invadir o quarto de hospital onde
sua mãe se encontra internada em estado grave e Katharina passa a sofrer uma
crescente hostilidade social. Com a prisão de Ludwig, numa mega-operação que
envolveu até tanques do exército, Katharina combina uma entrevista exclusiva
com Tötges, e acaba por mata-lo. Ambos presos, Katharina e Ludwig se encontram
quando são levados por suas respectivas escoltas e esboçam um desesperado gesto
de amor.
Os retratos
pintados do quadro entre forças progressistas e conservadoras no país não
possuem meias tintas, sem dúvida, tal como representados pela odiosa figura do
jornalista em contraposição ao modelo de virtude e ética da protagonista, algo
dificilmente defensável por realizadores menos dispostos a tergiversar com
posições políticas ou representações sociais demasiado didáticas, ainda quando
a serviço de uma contra-ideologia que se opõe ao establishment, inclusive o midiático, tal como Fassbinder. O modelo
não se encontra muito distante das conspirações paranoicas hollywoodianas
contemporâneas envolvendo o universo da política em ritmo de thriller
tão bem representadas por realizadores como Francis Ford Coppola (A Conversação) ou Alan J. Pakula (A Última Testemunha). Porém, mesmo
sendo isso verdade e o filme reproduzindo a lógica liberal-progressista um
tanto convencional, Schlondorff e Von Trotta conseguem apresentar tudo isso em
um tom relativamente contido. Se são facilitados processos identificatórios ao
espectador através de composições dramáticas de viés moral bem convencional,
tais como a do jornalista inescrupuloso e sensacionalista, tende-se a evitar a
personagem enquanto mera vitimizada ou explorar demasiadamente fácil a sua dor
– quando a mãe de Katharina morre, a câmera observa à distância e por trás o
seu lamento. Embora através de certas estratégias como essa, o filme simule
sinalizar para uma dimensão mais ampla, social, que leva a derrocada de sua
personagem e a sua vilanização social, ao se limitar sobretudo à figura do
jornalista, egoísta e cínico, como principal motivador da mesma e centralizador
de seu ressentimento perde grande parte dessa força. E se torna algo mais
determinante para seu resultado mediano, que propriamente saídas pouco
verossímeis como a de Katharina, em meio ao clima de extrema paranoia e
vigilância, telefonar para seu amado – servindo, de forma involuntária, para a
condenação do mesmo; indiretamente sua conduta se torna responsável pela morte
da mãe e pela morte social do amante. Em
termos de narrativa, parece perder quando descola o seu foco do de sua
protagonista, o que daria uma possibilidade maior de ambiguidade, algo que
certamente não era buscado. A moral da
história que o filme parece encaminhar o espectador parece ser a de que a
polarização idelógica extremada leva com que pessoas relativamente não
politizadas se tornem conscientes da necessidade de se posicionarem
politicamente, ainda que através de atos criminosos, tão insana e fascista é,
em última instância, a sociedade facilmente manipulada pela mídia. Ao final,
ironiza-se com o habitual comentário sobre os fatos descritos pelo filme serem
meramente ficcionais, dando nome ao jornal no qual se inspirou a criação
ficcional. Winkler é uma força inconteste no filme. A mescla entre tenacidade e
acabrunhamento que empresta ao seu personagem é digno de nota. O romance de
Böll, autobiográfico, no sentido de que ele próprio foi vítima de perseguição
após ter escrito um artigo que condenava a precipitação dos jornalistas que
acusaram imediatamente ao grupo Baader-Meinhof por um atentado ocorrido, seria
novamente adaptado na década seguinte. Bioskop Film/Paramount-Orion Filmproduktion/WDR para
CIC. 106 minutos.
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